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Déficit de 6 mil operários gera procura por qualificação na construção em MT

Texto: Redação AECweb

Mais de 200 mil vagas para qualificação estão previstas no estado até 2015. Na construção civil sobram vagas mas falta mão de obra qualificada.

24 de outubro de 2011 - A indústria da construção civil em Mato Grosso acompanhou o ritmo de crescimento do Brasil, de acordo com os mais recentes dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que mostram que no estado aumentou – assim como o país - o número de empregos com carteira assinada. O estado fechou os nove primeiros meses deste ano com um saldo de 7.395 trabalhadores contratados, enquanto foram admitidas 293.086 pessoas nacionalmente. Mas apesar do crescimento das contratações, segundo especialistas, ainda falta mão de obra qualificada nos canteiros de obras que estão espalhados na maioria das cidades.

Só na capital Cuiabá e em Várzea Grande, maiores municípios do estado, estão empregados cerca de 22 mil trabalhadores, mas ainda faltam nas obras os mais diversos tipos de profissionais - desde pedreiros a operadores de máquinas pesadas. Estima-se que serão necessários para atender a demanda da construção apenas da região metropolitana – onde serão erguidos 189 prédios até 2015 – a contração de no mínimo 6 mil trabalhadores formais, conforme estimou o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria.

O economista Antônio Humberto explicou ao G1 que a evolução da construção civil, especialmente na região metropolitana da capital, vai além do período da Copa do Mundo de 2014. Ele disse o crescimento do setor não tem sido estimulado apenas pelo bom momento da economia brasileira, mas principalmente pelo fato de a Caixa Econômica Federal estar liberando mais crédito nos últimos anos. “Em 2002, a Caixa decidiu abrir com mais vigor linhas de crédito no Brasil. As construtoras e as pessoas físicas passaram então a iniciar a construção de imóveis, o que tem demandado por cada vez mais mão de obra, resultando em uma maior contratação de trabalhadores. Mato Grosso acompanhou essa tendência nacional”, avaliou.

Os dados que comprovam o crescimento das contratações na última década foram confirmados por uma recente pesquisa elaborada pela Federação das Indústrias de Mato Grosso (FIEMT). Segundo o estudo, no ano de 2001 foram criados 12.418 postos de trabalho no setor e, no ano passado, foram abertos 32.179 novos empregos com carteira assinada.

No entanto, ainda é consenso no setor que faltam trabalhadores qualificados no estado. Para eliminar a escassez por profissionais qualificados, os salários estão cada vez mais atrativos aos olhos dos trabalhadores. Esse tem sido o principal fator que tem estimulado uma corrida às salas de aula de cursos especializados, que estão com vagas abertas.

De acordo com o diretor regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-MT), Gilberto Gomes de Figueiredo, ao menos 60 mil pessoas se matricularam em novos cursos voltados para a construção civil apenas em 2011, superando a média estimada pelo órgão. “Os números mostram que eles estão se preparando para o constante aumento de competitividade da indústria, que busca alcançar o máximo de produtividade com o custo mínimo possível”, disse.

A tendência é que o mercado de trabalho vai continuar aquecido nos próximos anos. O Senai-MT espera criar mais oito unidades em Mato Grosso, além de contratar de imediato mais 300 professores para dar aulas nos mais diversos cursos. “A previsão do próximo ano é gerar 80 mil matrículas e chegar a 200 mil até 2015”, comentou. Ele informou também que o orçamento do órgão no estado vai dobrar dos R$ 45 milhões deste ano para ao menos R$ 90 milhões no próximo ano. No entanto, na visão do diretor do Senai-MT, o boom da contratação de mão de obra para a construção deve durar no mínimo quatro anos, então os trabalhadores devem aproveitar o bom momento para se qualificar e entrar de vez no mercado.

Uma das pessoas que viu a evolução do setor da construção civil como uma ótima oportunidade profissional foi a dona de casa Irene Barbosa, 48 anos. Ela conversou com a reportagem do G1 quando estava assentando tijolos em uma das paredes da casa que estava ajudando a construir durante o curso de pedreiro, que é oferecido gratuitamente. O estudo não para. Naquele mesmo dia, ela já havia feito um reboco em uma outra parede.

“Escolhi o curso porque eu vi uma chance de voltar a estudar depois de muitos anos. Eu parei na sétima série. Além disso, sei que o salário de pedreiro é melhor do que o que eu ganhava como auxiliar de limpeza de uma empresa”, comentou. Ela ficou desempregada depois de uma dermatite em uma das mãos.

Segundo estimativa do Senai, um pedreiro em começo de carreira ganha em média R$ 2 mil por mês. Já os mais experientes podem ganhar mais de R$ 5 mil e ser disputado pelo mercado de trabalho. Mas essa não é só uma realidade desta profissão. Só no último ano aumentou mais de 6% a média salarial paga aos trabalhadores da construção, segundo a última Relação Anual de Informações Sociais (Rais) divulgada pelo Ministério do Trabalho. O trabalhador da construção recebeu em média R$ 1,5 mil ao mês.

Irene relatou que os preconceitos existem por ela ser mulher em uma obra - inclusive dentro da própria família - mas diz que isso não vai fazê-la desistir dos estudos. “Meus quatro filhos e meu marido acharam estranho no começo quando eu falei que iria fazer o curso de pedreiro. Mas depois eles aceitaram e entenderam que é uma profissão digna”, disse. Ela também acredita que vai aumentar nos próximos anos o número de mulheres nesta área - que antes era dominada por homens. “As mulheres são mais detalhistas e cuidadosas. A nossa atenção às pequenas coisas melhora o serviço prestado”, avaliou. Irene quer, daqui a alguns anos, se tornar mestre de obra, função que hoje recebe entre R$ 3,5 mil e R$ 7,5 mil por mês.

Os professores e colegas dela atestam que as mulheres são mais caprichosas em determinados serviços que demandam certa sensibilidade. "Algumas mulheres surpreendem a gente. Elas se dedicam mais que muitos homens e dão atenção aos mínimos detalhes, deixando tudo organizado. E se engana quem pensa que o serviço de pedreiro é pesado. Quem precisa fazer força batendo massa é o servente. Então, é uma profissão que pode ser feita por mulheres tranquilamente", comentou o professor do curso, Carlos Antônio Simão.

Valorizados

O presidente do Sindicato das Indústrias da Construção de Mato Grosso (Sinduscon-MT), Cezário Siqueira Gonçalves, concorda que o crescimento da construção civil precisa ser acompanhado pela expansão da oferta de mão de obra qualificada. “Não há outro caminho. Os próprios empresários já entenderam que a construção também ajuda a distribuir a renda no estado e estão cada vez mais estimulando os trabalhadores a buscar uma melhor colocação profissional”, comentou.

Cezário Gonçalves relatou que antes os profissionais da construção civil eram vistos com descrédito pela sociedade. Ele lembrou que alguns trabalhadores e os próprios filhos deles tinham vergonha de dizer que eram pedreiro. “A realidade atual é diferente. Hoje a profissão de pedreiro está valorizada porque o profissional consegue manter a família com boa remuneração. Além disso, é disputado no mercado de trabalho”, avaliou o presidente do Sinduscon-MT. O setor tem 87% dos trabalhadores formados empregados.

Além do salário, o diretor do Senai em Mato Grosso, Gilberto Figueiredo, destacou que outro fator que chamou a atenção dos trabalhadores foi a possibilidade deles conseguirem empreender – se tornarem prestadores de serviços ou até donos do próprio negócio. “O mercado formal, com carteira assinada, muitas vezes tem ofertado um salário não tão atrativo. Um trabalhador autônomo pode ganhar até cinco vezes mais que um assalariado se for bem qualificado. É muito fácil empreender no setor da construção”, explicou o diretor do Senai-MT, que tem observado essa tendência no mercado.

Exemplo de profissional que buscará empreender após formado é o jovem Carlos Roberto Silvertrum, de 24 anos, que deixou Matupá, interior de Mato Grosso, e percorreu 696 quilômetros para estudar em Cuiabá. Ele deixou o antigo serviço em uma fábrica de mangueiras para participar do curso de operador de escavadeira hidráulica oferecido de graça pelo Senai-MT por meio de uma parceria com o governo do estado.

“Sempre quis fazer este curso. Meu sonho sempre foi trabalhar com escavadeira, porque onde eu moro existem muitas opções de trabalho para essa área. Quero terminar o curso e voltar para Matupá onde poderei trabalhar em obras importantes”, relatou ao G1, um minuto após deixar a escavadeira em meio a uma aula prática de escavação de represa.

Carlos Roberto disse que o objetivo dele é voltar para a cidade natal e oferecer o serviço em grandes obras na região, como a construção da BR-163 (principal rodovia federal do estado), além de barragens e garimpos que estão sendo instalados na região. O salário inicial de um recém-formado começa em R$ 1,8 mil e, com a experiência, pode chegar a até R$ 12 mil. "Quero ajudar a desenvolver o estado", finalizou.

Fonte: G1

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