Demanda da classe C faz imóvel rarear em SP
Espera por esse tipo de unidade pode chegar a quatro meses na capital paulista
14 de agosto de 2009 - Conseguir imóvel de um e dois dormitórios, seja para alugar ou comprar, na cidade de São Paulo, tem sido tarefa cada vez mais difícil. Motivos: aumento da renda das classes C e D, famílias cada vez menores e um número maior de pessoas que moram sozinhas.
De acordo com levantamento da Lello Imóveis, líder em administração imobiliária no estado, a espera por esse tipo de unidade pode chegar a quatro meses na capital paulista, o que demonstra o forte potencial desse tipo de negócio.
A consequência da escassez é percebida na elevação do valor do aluguel. A administradora diz que, no primeiro semestre deste ano, o valor médio dos aluguéis firmados nos contratos de locação entre proprietários e inquilinos foi 16% superior ao dos seis primeiros meses de 2008.
"Os números mostram que a hora é de investir em imóveis para locação. O rendimento dos aluguéis representa de 0,7% a 1% do valor da unidade e, com a demanda extremamente aquecida, a liquidez é praticamente imediata a quem disponibilizar seu imóvel no mercado", afirma Roseli Hernandes, gerente de Locação e Vendas da Lello Imóveis.
Segundo o estudo da Lello, a dificuldade de se encontrarem casas e apartamentos disponíveis para locação se estende por todas as regiões da cidade, mas a maior procura tem sido pelos bairros de Perdizes, Pacaembu, Higienópolis e Consolação, que somados responderam por apenas 12% dos contratos intermediados pela Lello.
Mooca, Parque da Mooca e Tatuapé responderam por 43% das novas locações da administradora no primeiro semestre, seguidos por Jardins, Moema e Vila Mariana, com 30%, e Santana, com 15%.
O nicho de imóveis de dois dormitórios mereceu destaque também no estudo elaborado pelo Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo (Secovi-SP).
Segundo a entidade, das 14,4 mil unidades comercializadas, 6.288 foram desse segmento, o que representa uma fatia de 43,8% sobre o total escoado nos primeiros seis meses deste ano.
Na opinião de João Crestana, presidente do Secovi-SP, essa tendência reflete os resultados iniciais do programa "Minha Casa, Minha Vida", que possibilitou a entrada no mercado tradicional de pessoas com renda de seis a 10 salários mínimos.
"Antes do mês de abril, para uma família se candidatar à compra de um imóvel de R$ 90 mil ela tinha de comprovar renda de R$ 3,3 mil. Depois do lançamento do programa, a mesma família precisa de uma renda de R$ 1.850,00 para adquirir o mesmo apartamento", analisa.
Bruno Carlucci, gerente de Incorporação e Marketing da Bueno Netto Construtora, também aposta no sucesso do programa "Minha Casa, Minha Vida" para alavancar as vendas de dois empreendimentos que juntos somarão mais de mil unidades, a serem lançados no segundo semestre deste ano, nos bairros da Barra Funda e próximo à Represa de Guarapiranga.
Os custos deverão variar de R$ 70 a R$ 100 mil, e parecem encaixar-se neste perfil que o cidadão paulista ou paulistano busca.
"Nos últimos anos, estes imóveis deixaram de ser lançados por conta de um aumento da procura por imóveis de 3 e 4 dormitórios, que eram a bola da vez. Essa situação se reverteu no final do ano passado, com a facilidade da obtenção de crédito e a queda dos juros. E melhorou ainda mais este ano com o lançamento do programa do governo", diz Bruno Carlucci.
Confiança
Além do boom de lançamentos de imóveis de 3 a 4 dormitórios lançados nos últimos anos, Cyro Naufel, diretor de Atendimento da Lopes, aponta também o retorno dos investidores que perceberam nos imóveis de um e dois dormitórios um bom filão para seus investimentos.
"De 2006 a 2008 o conceito de empreendimentos em condomínios-clubes levou muitas pessoas a trocar seus apartamentos de 80 metros quadrados por um de 120 m², deixando o mercado praticamente apenas com estas opções para venda e locação. No entanto, com a retomada da confiança do investidor brasileiro na economia e alta na procura destes imóveis, unir o útil ao agradável não foi difícil", afirmou ele.
Foi exatamente este segmento econômico que garantiu 37% das vendas das 8.321 unidades vendidas no segundo trimestre de 2009 da Lopes. "A confiança trazida pelo programa Minha Casa, Minha Vida fez com que a velocidade de vendas sobre a oferta subisse de 47,5% no primeiro trimestre para 60,7% neste trimestre", destaca Marcello Leone, diretor Financeiro e de RI da Lopes.
Leone acrescenta também que 70% do valor geral de vendas (VGV) lançado de imóveis do segmento econômico em 2009 já foram vendidos. "Essa confiança também acaba se refletindo nos segmentos mais altos de renda", resume o executivo.
Leone também destaca que, apesar de o VGV lançado ter se mantido estável em comparação com o trimestre anterior, os resultados mostram um crescimento de vendas, o que demonstra o bom desempenho da Lopes na venda de estoques.
As vendas contratadas no período compuseram R$ 2,2 bilhões, 55% superiores às do primeiro trimestre deste ano. São Paulo continua o mercado mais importante da Lopes, e representa 42% das vendas contratadas do 2º trimestre, apesar de ter diminuído sua participação quando comparado ao mesmo período de 2008. Assim como nos três primeiros meses, a participação de Brasília nas vendas contratadas foi relevante - 21% (R$ 461 milhões) - e reflete a diversificação e expansão geográfica da Lopes.
Apesar de o número de negócios ser um pouco inferior ao do primeiro semestre de 2008, embora melhor do que nos últimos 10 anos, como afirma Guilherme Ribeiro, diretor do departamento de seminovos da Fernandez Mera, o que atrai mesmo o investidor são os lançamentos, e, se forem próximos de grandes avenidas comerciais (Paulista, Faria Lima e Berrini), a venda é garantida.
Exemplo de bom negócio foi a venda em menos de duas horas do Hit Paulista, com um dormitório e localizado próximo à avenida homônima. As 52 unidades geraram VGV de R$ 18 milhões e têm previsão de entrega para maio de 2012.
"O investidor voltou à ativa. Há mais interessados do que produtos disponíveis, ao contrário do que aconteceu na virada do ano passado para este, quando todos resolveram alugar ao invés de comprar imóvel, com receio de perder o emprego", diz.
Mais uma prova do bom momento do setor é o resultado da Brookfield Incorporações, anunciado ontem. A empresa cresceu no lucro líquido 126,3% e atingiu R$ 80,1 milhões no segundo trimestre de 2009. As vendas contratadas totais subiram 77,4%, para R$ 568,5 milhões.
Fonte: DCI