Empresários portugueses miram fundos imobiliários
Depois de investirem em empreendimentos no Nordeste, portugueses agora focam o programa Minha Casa, Minha Vida
27 de abril de 2010 - Investidores querem fatia no Minha Casa, Minha Vida, que eleva taxa interna de retorno e dribla burocracia de aporte direto. Estima-se que o déficit habitacional brasileiro seja de 7,5 milhões de residências. É no Palácio do Marquês de Valle Flor, em área nobre de Lisboa, que se reúnem cerca de 150 empresários interessados em investir no mercado imobiliário brasileiro.
O hall ostentoso de vitrais e as paredes de mármore cobertas de obras de arte portuguesa contrastam com o tema principal de interesse: a baixa renda. Se até agora a redescoberta do Brasil no que diz respeito à construção vinha sendo feita por meio de aporte direto em complexos hoteleiros no Nordeste, agora os lusitanos querem uma fatia das oportunidades geradas pelo programa do governo federal Minha Casa, Minha Vida (MCMV).
"O momento do Brasil contrasta com a letargia imobiliária de Portugal", diz Antonio Bustorff, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira (CCILB). "Com o Minha Casa, Minha Vida, o risco é muito menor para o investidor, já que ele está atendendo a um banco, como a Caixa e o Banco do Brasil, que são os responsáveis pelo financiamento."
Com o lançamento da segunda etapa do programa, o objetivo do governo brasileiro é financiar 3 milhões de moradias em pouco mais de dois anos. A estimativa do mercado é de que o déficit habitacional brasileiro seja da ordem de 7,5 milhões de residências, com nova demanda anual de até 1 milhão.
"Há uma forte demanda de moradias e um apelo de suporte público ao setor, que é gerador de empregos", pondera Pedro Serzedelo, diretor da gestora do Banif no Brasil. A estimativa é a de que o crédito imobiliário, que hoje representa 5% do PIB, segundo o Banco Central, chegue a 12% em 2014, impulsionado pelo consumo das classes C e D.
É esse consumo e o pacote do governo que já têm feito o banco de investimento rever a taxa interna de retorno esperada para o Fundo de Investimento em Participações (FIP) Banif Real Estate Brasil. O FIP tem em sua carteira um empreendimento, em cinco fases, com 1.444 unidades residenciais em Osasco (SP), enquadrado no MCMV (renda de seis a dez salários mínimos).
Com financiamento de banco público, os projetos obtêm crédito para produção a custo menor que o de mercado - trocam um custo de 10,5%, mais correção, por uma taxa de cerca de 8,5% - e têm velocidade maior de vendas, o que aumenta a eficiência para o incorporador.
Segundo Serzedelo, dá para aumentar até sete pontos no retorno nominal desses projetos. A estimativa de taxa real de retorno do fundo em questão é de 18% ao ano, mais IPCA.
A inclusão desses empreendimentos em carteiras de fundos é uma forma de atrair mais estrangeiros. Para o português Duarte de Athayde, do escritório Abreu Advogados, a primeira opção dos investidores é o aporte direto em imóveis, terrenos e projetos no Brasil, mas com as restrições de legislação e o excesso de impostos, o investimento indireto ganha espaço.
"Os cuidados da aquisição direta começam em conhecer a área de investimento, considerando a dimensão do país. Mas, depois disso, passam por um processo complexo de compreensão de tributos. O ITBI (Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis) chega a 6% e o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) atinge até 3%", diz. "Para propriedades rurais, as restrições de certa forma protecionistas são ainda maiores."
Por isso, destaca Athayde, o investimento indireto é mais flexível e simples para o investidor português, incluindo o aplicador institucional de pequeno e médio portes. Além disso, esse público está acostumado a investir em fundos imobiliários em Portugal - mas, se acordo com o presidente da CCILB, dão retorno médio de 6% a 7% ao ano.
Fonte: Brasil Econômico - SP