Endividada, Klabin Segall está à venda e já possui interessados
A empresa vendeu no fim de semana sua parte no empreendimento Seridó 106
27 de abril de 2009 - Mais uma empresa do setor de construção civil não conseguiu resistir ao alto endividamento. A Klabin Segall está à venda. Várias empresas do setor e fundos de private equity analisaram a companhia nas três últimas semanas, mas apenas duas propostas seguem para a análise final. Segundo o Valor apurou, o espanhol Enrique Bañuelos, através da sua empresa Veremonte, está novamente na disputa. Sábado, o conselho de administração da empresa esteve reunido, indicando que o negócio deve ser fechado em breve.
O mandato de venda está com o banco JP Morgan. A princípio, os sócios não queriam negociar projetos separadamente, mas, no fim de semana, a Klabin Segall fechou a venda de 50% de um de seus maiores empreendimentos, o Seridó 106 - projeto de altíssimo padrão na região mais valorizada de São Paulo, no Jardim Europa, entre o shopping Iguatemi e o clube Hebraica. A aquisição foi feita por um fundo de private equity americano e o negócio deve ser anunciado está semana.
A Construtora São José tinha 50% do projeto, mas também vendeu um percentual do negócio ao fundo americano. O empreendimento está em um terreno de 11 mil metros quadrados e expectativa de VGV (valor geral de vendas) de R$ 660 milhões. São duas torres com 64 unidades cada e apartamentos com metragem entre 400m2 e 500m2 e coberturas com 717 m2 e 900 m2. O valor dos apartamentos oscila entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões.
Fala-se no mercado que as empresas pagaram um valor muito alto pelo terreno, perto de R$ 200 milhões, em um dos poucos casos em que o terreno custa mais que a própria obra. Por enquanto, foram vendidas cerca de 35 das 128 unidades disponíveis. A Klabin chegou a não reconhecer a receita do Seridó devido à possibilidade de usar a cláusula suspensiva e devolver o dinheiro aos compradores. Com a entrada do fundo, essa possibilidade deixa de existir.
Os problemas da Klabin ficaram mais visíveis depois que a empresa adiou o pagamento de debêntures por 60 dias por conta do descumprimento da cláusula que estabelecia a relação entre dívida líquida e imóveis a pagar sobre patrimônio líquido. Segundo informou em fato relevante, a partir de junho será convocada uma nova assembleia para definição da postergação do vencimento. Por conta disso, a empresa chegou a ser rebaixada pela Standard & Poors a uma classificação usada somente para empresas em default, mas depois da renegociação do pagamento, a agência de classificação de risco revisou a nota, mantendo a perspectiva negativa.
A Klabin Segall possui uma dívida de R$ 637 milhões, sendo mais de 70% (R$ 461,8 milhões) em debêntures. O valor das debêntures é maior que o patrimônio líquido da empresa, de R$ 348 milhões no fim de 2008. A relação dívida/patrimônio líquido é de 112%, uma das mais elevadas do setor.
No quarto trimestre, a empresa apurou prejuízo líquido de R$ 15,2 milhões e lajida negativo de R$ 1,6 milhão, com margem líquida negativa de 10,5%. As ações da empresa estão em queda, enquanto há papéis do setor que acumulam valorização de mais de 80%. No ano as ações caem 23,4%, contra alta de 24,56% do Ibovespa e 61,35% do índice de construção.
O valor de mercado da companhia está em R$ 110,7 milhões. Segundo o Valor apurou, a empresa começou negociando suas ações a R$ 3, mas um acordo deve ser fechado por um valor inferior. Na sexta-feira, as ações fecharam o pregão valendo R$ 1,80.
"Quem entrar na empresa terá de fazer aumento de capital relevante", afirma fonte do setor. Executivos que analisaram o negócio disseram que a Klabin Segall não é atraente em termos de rentabilidade, apesar dos bons resultados operacionais. No ano passado, as vendas da companhia somaram R$ 1 bilhão. Os bancos credores preferem renegociar a dívida com novos sócios. Portanto, quem assumir a companhia terá, em primeiro lugar, que sentar com as instituições financeiras, a exemplo do que a nova administração está fazendo na Abyara.
Empresa foi criada em 1994 pelos sócios Oscar Segall e Sérgio Segall, herdeiros industriais e artísticos. O sobrenome Klabin herdaram do bisavô, que fundou a Klabin Papel e Celulose. Segall veio do avô, o pintor Lasar Segall e da mãe, a atriz Beatriz Segall, a eterna Odete Roitman da novela "Vale Tudo". Sociólogo, Sérgio Segall foi cineasta durante vinte anos. Produziu filmes de arte e documentários sobre o movimento operário no Brasil. Começaram investindo o dinheiro da família em imóveis e acabaram por fundar a empresa, que teve o mérito de criar um bairro inteiro, a Chácara Klabin.
Segundo fontes do mercado, a empresa sempre foi muito bem como incorporadora, mas faltou experiência financeira. Um dos erros foi usar debêntures para financiar a produção - as empresas do setor costumam usar o dinheiro do SFH, dinheiro proveniente da poupança, com custo mais baixo.
Enrique Banuelos, na disputa pela empresa, está procurando alternativas no mercado imobiliário local desde o fim do ano passado. Queria juntar seis empresas do setor debaixo de uma holding e, se comprar a Klabin Segall, aos poucos seu ambicioso plano fica mais factível. Em fevereiro, comprou a Abyara em parceria com a Agra. Adquiriu 70% e a Agra 30%. Os novos acionistas anunciaram um aumento de capital de R$ 100 milhões, após o fim da renegociação das dívidas, o que ainda não foi feito.
Fonte: Valor Econômico-SP