Espera pela moradia chega a quatro anos no Brasil
Num momento de grande expansão da construção civil, prazo para entrega de imóveis dobra em todo o país
04 de maio de 2011 - A rápida expansão do setor imobiliário no Brasil está dinamizando a economia, mas trouxe um efeito indesejado: o aumento no tempo de espera pelas chaves da tão sonhada casa própria. Dados da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp) revelam que, de 2007 para cá, o prazo estabelecido em contrato para a entrega de construções nas capitais brasileiras e nas principais regiões metropolitanas passou de dois a dois anos e meio para, em média, três a quatro anos. Além disso, os clientes enfrentam atrasos para receber os apartamentos comprados na planta. O planejamento feito pelas famílias para a mudança fica comprometido e transtornos são inevitáveis.
Na avaliação do diretor da Embraesp, Luiz Paulo Pompéia, o Brasil não se preparou para o boom no segmento da construção civil. Em 2008 e 2009, grandes investidores apostaram que a crise internacional não atingiria o país e continuaram aplicando recursos aqui, fazendo o número de novos empreendimentos crescer exponencialmente. "Os problemas ocorrem em todo o território nacional. Mas são mais graves nas cidades com atividade imobiliária intensa, como Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Belém, Manaus e Salvador", ressalta Pompéia.
Segundo as empresas, o principal motivo para a demora na entrega de imóveis é a falta de profissionais capacitados. Estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela que a falta de mão de obra qualificada atinge 89% das construtoras. A escassez não se limita às vagas mais especializadas. Entre os empresários que enfrentam dificuldades com as contratações, 94% não encontram trabalhadores de nível básico, como pedreiros e serventes. "Esses profissionais não são formados. Eles são práticos. Quando comprovam experiência, chegam a receber mais do que os engenheiros na mesma obra", diz o diretor da Embraesp.
Pelos dados da CNI, na avaliação de 61% dos empresários, a baixa oferta de mão de obra qualificada reduz a produtividade do setor. Para 59% dos entrevistados, ela compromete a qualidade das obras. Outros 57% dizem ter problemas com o cumprimento dos prazos. Quando se observa apenas o ramo da construção de edifícios, a proporção de empresários a afirmar que o principal impacto é a dificuldade em cumprir os prazos sobe para 64%.
Capacitação
O gerente executivo da Unidade de Pesquisa da CNI, Renato da Fonseca, explica que o descompasso entre a oferta e a procura por trabalhadores qualificados foi provocado pelo aumento do ritmo da indústria da construção civil. "Se o empregado não é capacitado, ele não faz o serviço direito, ou demora muito mais tempo para terminar. Em muitos casos, o trabalho precisa ser refeito", observa. Ele diz ainda que, na maioria dos casos, o profissional qualificado acaba ocupando todo o seu tempo para supervisionar e orientar os demais. "Dessa forma, a produtividade cai e os atrasos aumentam."
As construtoras alegam que concentram esforços, também, para cumprir os prazos fixados nos contratos e diminuir o volume de clientes insatisfeitos.
Fonte: Diário de Borborema - PB