Estádio em Itaquera pode ‘travar’ mercado imobiliário, dizem corretores
Corretores temem que a construção do estádio do Corinthians ao lado da estação de Metrô de mesmo nome supervalorize os terrenos e imóveis na região
01 de setembro de 2010 - Corretores que trabalham em imobiliárias de Itaquera, na Zona Leste de São Paulo, temem que a construção do estádio do Corinthians ao lado da estação de Metrô de mesmo nome supervalorize os terrenos e imóveis na região, travando um mercado já deficiente de opções. Donos de imobiliárias e especialistas no assunto ouvidos pela reportagem contam que negócios que já estavam praticamente fechados foram interrompidos pelos vendedores, que esperam agora faturar mais. A valorização, entretanto, não corresponde à realidade do bairro.
"A especulação e a ganância podem dar um efeito negativo para essa mudança. Pode travar o mercado, deixá-lo estagnado. As pessoas pensam que aquilo tem um determinado valor, mas não é verdade" explica o presidente do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis de São Paulo (Creci-SP), José Augusto Viana Neto.
Sócio da Catita Imóveis, que atua no bairro, Silvio José Gonçalves recebeu quatro telefonemas de clientes apenas na manhã desta terça-feira para interromper a venda de imóveis que já estavam quase finalizadas. "Estão falando em especulação imobiliária de 30%, 40%, mas isso acaba travando o mercado. O impacto real nos preocupa. A infraestrutura é menor aqui que em outros lugares da Zona Leste, não dá para cobrar o mesmo", conta.
Ele próprio já sente o impacto da especulação há alguns meses. "Comprei um apartamento em janeiro por R$ 100 mil e vendi em julho por R$ 140 mil. Agora, no mesmo prédio, estão pedindo R$ 180 mil. E não vai vender, porque na Vila Matilde se compra pelo mesmo preço um apartamento com o dobro do tamanho."
Dono da Almar Imóveis, Marcelo de Jesus Fernandes também reclama da interrupção de negócios em andamento. "Temos um impacto negativo, com a valorização superfaturada dos terrenos. De três anos para cá, eles já valorizaram mais de 200%, e agora querem inflacionar ainda mais", conta. "Em um primeiro momento, são os terrenos que têm mais impacto. Tinha um negócio quase fechado e o dono desistiu de vender o terreno na sexta-feira, quando anunciaram o estádio."
Impacto inicial
Para o presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Locação e Administração de Imóveis Comerciais de São Paulo (Secovi-SP), João Crestana, o real impacto no preço de imóveis e terrenos só será visto em alguns meses. "Não existe lugar no bolso das pessoas para aquela valorização de multiplicar por dois o valor. Tem o movimento inicial especulativo, que depois se frustra. O estádio vai trazer mais emprego, mais estrutura, comodidade, mas não vai transformar Itaquera no Jardim Anália Franco", diz. "Hoje o preço dos imóveis tem crescido em média 1% acima da inflação. Lá pode acontecer de subir 3%, 4% por ano."
Para ele, quem tem um imóvel no local pode aproveitar o momento para vendê-lo por um valor um pouco mais alto, mas não deve se iludir com grandes quantias. "Pode ser até que alguém compre um terreno mais caro, mas vai ter dificuldade em vender os apartamentos depois. O bolso do paulistano tem limite."
Limite de construção
Os corretores e especialistas também ressaltam que o risco de o mercado ficar travado, sem negócios, é ainda maior por causa do déficit de apartamentos na região. "De imediato, esse aumento nos preços prejudica o desenvolvimento e a possibilidade de construção de mais prédios", afirma Fernandes.
O sócio da Catita Imóveis ressalta o limite de altura para a construção de prédios na região como outro fator limitador. "Hoje nós temos 30 mil imóveis de 50 metros quadrados. Quem quer um espaço maior precisa sair do bairro. E o limite de 25 metros de altura trava os investimentos, se torna inviável construir."
Positivo
Apesar da expectativa de impacto negativo no curto prazo, os corretores e especialistas no mercado imobiliário admitem que, no longo prazo, a construção do estádio e principalmente a infraestrutura que virá com ele irão valorizar de maneira viável o mercado na região.
"O prazo [para a Copa do Mundo] está correndo, então acelera. É claro que vai dar uma condição diferente para o bairro", diz o corretor Gonçalves.
Crestana, do Secovi, espera que haja uma criação suficiente de empregos para aumentar o número de pessoas que moram e trabalham no bairro. "Itaquera é um bairro que esteve com um desenvolvimento lento durante muito tempo. Além do estádio, vão ser construídos prédios públicos, espero que também sejam criadas lojas. Isso vai valorizar porque vai melhorar a qualidade de vida".
Fonte: A Tribuna - SP