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Expectativa de pacote habitacional anima o setor

Texto: Redação AECweb

O plano, que já foi adiado várias vezes, deve ser divulgado entre os dias 23 e 27 de março

17 de março de 2009 - O setor de construção civil está sob os holofotes. Primeiro pela crise - que inverteu a rota de expansão e a euforia que dominaram o mercado nos últimos dois anos - e, mais recentemente, pela expectativa em relação ao pacote habitacional. O problema de moradia no país é antigo, mas a discussão ganhou prioridade diante de um cenário que já evidencia reflexos importantes na demanda e nos resultados de um segmento-chave para o crescimento da economia e criação de empregos.

O plano, que já foi adiado várias vezes e deve ser divulgado entre os dias 23 e 27 de março, tem como cerne um forte aumento do subsídio à habitação popular e levanta a bandeira da construção de 1 milhão de casas populares até 2010. Um plano ambicioso para um país que constrói cerca de 150 mil casas populares por ano.

O "número mágico", que já foi mais evidente em discursos anteriores do Planalto, é praticamente o único alvo de críticas do setor. Mas, independentemente de o número ser ou não factível no prazo proposto, o fato é que toda a cadeia - dos fabricantes de materiais às construtoras- está otimista. "O cenário atual pode mudar consideravelmente com medidas de incentivo ao fomento do setor imobiliário de baixa renda", diz Wilson Amaral, presidente da Gafisa. "O governo entendeu que a habitação tem que ser subsidiada e esse incentivo será muito positivo para todo o setor", afirma Amayry Olsen, presidente da Tigre, empresa de tubos e conexões.

Várias companhias e empresários importantes do setor estão participando ativamente de discussões com o governo. A União deve bancar até 36 parcelas do fundo garantidor de crédito para quem ganha até cinco salários mínimos. Também estuda reduzir o imposto sobre o faturamento das obras para quem adota o patrimônio de afetação - mecanismo que protege o comprador em caso de quebra da empresa. O teto de ajuda a famílias de até dez salários mínimos (R$ 4,65 mil) ainda é alvo de discussões, pois há quem defenda que precisariam menos de ajuda.

O programa habitacional deve movimentar R$ 70 bilhões, de acordo com os técnicos envolvidos com a sua preparação. Estudo elaborado pela FGV Projetos e a Associação Brasileira de Materiais de Construção (Abramat) mostra que um programa habitacional popular de construção de 1 milhão de casas em dois anos implicaria um crescimento adicional de 0,7 ponto percentual ao ano no PIB e geração de 532 mil postos de trabalho, dos quais 300 mil diretos somente na construção civil.

A expectativa dos empresários em relação ao pacote do governo já começou a mudar o perfil do setor. A maioria das empresas, independentemente da tradição, está focando o segmento de baixa renda e pretende reforçar suas marcas econômicas. "Já tínhamos planos de fortalecer a marca Living (para o segmento econômico) e o pacote do governo só reforça a ideia", diz Ubirajara Freitas, diretor-geral da Cyrela. Ter produtos com valor baixo ou que se encaixem nos modelos propostos pode fazer toda a diferença agora e garantir um resultado extra em tempos de crise.

Quem atua na área há mais tempo com a baixa renda - como a mineira MRV, a Gafisa, que comprou a Tenda, e a PDG Realty, dona da Goldfarb - está especialmente otimista. Acreditam que quem tem mais experiência nesse tipo de construção pode sair na frente. "O governo está preocupado em entender as necessidades do setor", afirma Leonardo Correa, diretor de RI da MRV. "Mas o importante é que privilegie medidas de longo prazo", completa. "Com essas medidas, o governo irá viabilizar a demanda", diz Zeca Grabowsky, presidente da PDG Realty.

A classe média e as construtoras que trabalham para esse público também devem ser beneficiadas com o aumento do valor máximo de unidades residenciais elegíveis para financiamento via SFH de R$ 350 mil para R$ 500 mil.

As necessidades do setor, porém, são muito anteriores à crise atual. Em 2005, a carência brasileira de moradias atingiu 7,8 milhões de domicílios, o equivalente a 14,7% da demanda. Desse total, 4,3 milhões correspondem à coabitação. Vários países, como Coreia do Sul, Espanha e Chile, têm adotado políticas habitacionais com reflexos importantes no crescimento econômico. O México, porém, é uma referência especialmente importante para o Brasil.

A partir de 2001, o governo mexicano implantou um programa habitacional estratégico. O programa é baseado em dois grandes pilares: o subsídio direto para compra da moradia pela população de baixa renda (o alvo são famílias de até três salários mínimos) e o incentivo ao crédito. Entre 1995 e 2005, os investimentos em habitação cresceram 33% e responderam por 0,5 ponto percentual da taxa de crescimento econômico de 3,62%. A taxa de crescimento do Brasil entre 1995 e 2005 foi de 2,38%, com uma contribuição de 0,27 ponto percentual dos investimentos em habitação.

Fonte: Valor

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