Frota de máquinas dobra até 2015
Apesar do aumento das vendas de 70%, indústria nacional reclama da concorrência dos importados
11 de agosto de 2011 - Enquanto Estados Unidos e países europeus se debatem para afastar os efeitos da crise que balança a economia mundial, o Brasil é cenário para que empresas trilhem o caminho inverso, em direção ao crescimento da base de clientes, de vendas e empregos. É o que acontece na indústria de equipamentos para construção pesada, cujo consumo apresentou alta de 70% em 2010, deve crescer outros 10% neste ano e manter o ritmo ascendente, chegando em 2015 com um aumento de mais 70%.
O bom desempenho, impulsionado pelo boom de investimentos em infraestrutura e grandes obras, tem se revelado de tal forma consistente que as estimativas são de duplicar a frota de equipamentos e a receita do setor até 2015. De acordo com mapeamento feito pela Associação Brasileira de Tecnologia para Equipamentos e Manutenção (Sobratema), investimentos ao redor de R$ 1,2 trilhão abrirão caminho para que o país chegue em 2015 com 710 mil equipamentos com até dez anos de uso, em comparação com os 333 mil existentes hoje. No período, a receita do setor deverá aumentar de R$3 bilhões para R$6 bilhões ao ano.
Segundo Eurimilson João Daniel, vice-presidente da Sobratema, o setor, que sofreu o impacto da crise internacional entre 2007 e 2009, apresenta agora uma recuperação que considera espetacular. Segundo o monitoramento da associação, ao aumentar o número de unidades vendidas de 41.360, em 2009, para 70.530, em 2010, o setor superou em 38% a alta histórica alcançada em2008. O efeito desse avanço e das projeções para o próximo ano se estende para outro nicho: o de peças de reposição e serviços de manutenção, que também se prepara para, em pouco tempo, atender ao dobro da demanda atual.
As boas projeções deverão alterar a participação brasileira na demanda mundial para equipamentos de construção. Segundo a Sobratema, em 2014, China, India e Brasil deverão ter 47% da procura mundial, passando à frente de Japão, Europa e América do Norte, regiões que deverão ser responsáveis por 34%. Em 2004, a situação era diferente: China,Índia e Brasil tinham uma participação de 23% na demanda mundial, enquanto Japão, Europa e América do Norte ficavam com a maior fatia: 59%. Na projeção para 2014 entre os países emergentes, a China sai na frente, com perspectiva de ficar com 36% das necessidades mundiais de equipamentos, enquanto o Brasil deve ficar com 4,5% - pouco, diante do apetite chinês, mas muito,comparado à participação de 1%que o país tinha em 2004.
Entre os equipamentos com melhores perspectivas estão os caminhões fora de estrada, cujas vendas deverão aumentar 53% neste ano, depois de terem crescido 200% no ano passado. Os demais equipamentos da linha amarela (escavadeiras hidráulicas, minicarregadeiras, motoniveladoras, retroescavadeiras, rolos compactadores e tratores de esteira), cuja demanda cresceu 71,4% em 2010, deverão fechar 2011 com aumento de vendas de 9,7%. A procura pelos demais equipamentos (compressores portáteis,gruas,guindastes,telehandlers, tratores e plataformas aéreas) deverá possibilitar uma alta de 13,2% nas vendas.
Para aproveitar as oportunidades, os fabricantes de equipamentos investem para ampliar sua capacidade de atendimento. A regra vale para empresas nacionais, mas principalmente para as multinacionais, que têm peso decisivo no setor. Disputam esse mercado corporações como a americana Caterpillar. Associada à Bucyrus, a empresa tem uma estratégia definida: quer aumentar a nacionalização dos componentes de suas máquinas fabricadas no Brasil,onde suas vendas no ano passado chegaram a R$ 2,22 bilhões. A empresa, fornecedora de equipamentos para grandes obras, deverá começar em setembro a produção de retroescavadeiras na sua nova fábrica em Campo Largo, no Paraná. A unidade, projetada para absorver metade dos R$ 350 milhões de investimento alocado para o Brasil, começará a produzir em abril de 2012 carregadeiras de rodas de pequeno porte.
Outra multinacional que aposta no aumento de demanda no mercado brasileiro é a francesa Haulotte. No país desde 2002, com dez funcionários e uma operação dedicada à manutenção e venda de máquinas, a empresa decidiu trazer linhas de máquinas para pronta entrega e montar estoque de produtos e peças. A Haulotte produz plataformas de trabalho aéreas, usadas para levar funcionários a alturas elevadas. Ao contrário da Caterpillar, porém, a produção local não está nos planos da companhia francesa.
Apesar da força das multinacionais e da grita dos fabricantes brasileiros contra máquinas importadas, especialmente da Ásia, a preços que desbancam os concorrentes, há empresas nacionais que investem nos seus negócios. A SH, que fabrica fôrmas, andaimes e escoramentos metálicos para locação e faz a gestão dos materiais alugados nos canteiros das obras, investiu no ano passado R$ 60 milhões na ampliação da fábrica e na produção dos equipamentos. "Produzimos para nossa própria demanda", conta o diretor comercial regional da empresa, Fabrício Fiorini. Segundo ele, as fôrmas, andaimes e escoramentos da SH estão hoje em várias obras,como os estádios Castelão, em Fortaleza, Arena, de Recife, a ferrovia Transnordestina e o metrô carioca. São equipamentos alugados por empresas como as construtoras Galvão, Odebrecht e Andrade Mendonça, entre outras. As inversões da companhia no negócio mostram resultado. Em 2010, o faturamento cresceu 40%, chegando a R$ 145 milhões, e a perspectiva para este ano é crescer mais 35%.
O mercado de locação de equipamentos é um segmento pequeno no Brasil, mas vem crescendo. As projeções da Sobratema são de que sua participação passe dos atuais 25% para 40% das vendas totais de equipamentos. "Isso significa que os usuários têm uma parte de frota própria, mas por motivos estratégicos alugam um porcentual cada vez maior das suas necessidades", diz Mário Humberto Marques, vice-presidente da associação. Segundo ele, as empresas de locação estão atentas e vêm se preparando para atender ao aumento da demanda.
A Maxxigrua, por exemplo, que desde 2007 fabrica e aluga gruas de grande porte usadas na construção de indústrias e hidrelétricas, além de guindastes de menor porte, planeja quadruplicar o número de equipamentos para locação. Com cinco gruas em funcionamento, vê demanda para 20. Segundo Eduardo Siqueira, diretor da empresa, as perspectivas de mercado são muito boas. "Muitos projetos que ficaram em estudo começam a deslanchar agora", diz ele. Na carteira estão contratos focados na construção de refinarias, como a do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj); de hidrelétricas, como a de Estreito, no Maranhão; e de indústrias, como a da Votorantim, no Mato Grosso. Entre seus principais clientes estão as construtoras, como a Odebrecht, a Camargo Correa e a OAS.
Na avaliação de Germano Fehr Neto, presidente da Câmara Setorial de Projetos e Equipamentos Pesados da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), a euforia em torno dos equipamentos não é vivida por grande parte da indústria nacional. "Não fosse a área de exploração de petróleo e gás, que expressa a obrigatoriedade de fornecimento de conteúdo local de no mínimo 60%, a indústria brasileira seria mera expectadora dos acontecimentos", diz. Ele cita um exemplo: "As especificações das refinarias Premium são feitas de forma a serem atendidas pelos players internacionais". Outro: "As turbinas para as duas usinas do Rio Madeira ficaram para os chineses, cujos custos são inferiores aos de outros países, Brasil incluído".
Fehr afirma que a indústria brasileira está lutando para conseguir participar desses e de outros empreendimentos de grande porte. As dificuldades, porém, são muitas e o custo Brasil pesa bastante e compromete a competitividade. A câmara que preside tem foco em grandes projetos ou equipamentos feitos sob encomenda para as indústrias de petróleo e gás, siderurgia, papel e celulose, mineração, hidroenergia e energias renováveis. Todos eles requerem equipamentos de alto custo que, segundo Fehr, não sairão das indústrias brasileiras enquanto o governo não perceber que sua indústria de base está desaparecendo. "Estamos pressionados por dificuldades de competitividade com os produtos estrangeiros, por causa da valorização do real, que torna o equipamento importado mais atrativo.
Segundo dados da Abimaq, em maio o volume de importação de máquinas cresceu em média 37,6% em relação ao mesmo mês do ano passado.No período,as importações destinadas à indústria de petróleo e energia renovável aumentaram 78,5% e as das máquinas utilizadas na agricultura, 64,8%. Recentemente, empresas sul-coreanas e chinesas anunciaram.
Fonte: Valor Econômico