Fundos imobiliários crescem e atraem atenções
Patrimônio aumenta 70% em um ano. Investimento rende em média 0,68% ao mês, mas analistas recomendam cuidado
12 de abril de 2010 - O forte crescimento do mercado de imóveis desde meados do ano passado tem atraído investidores para um tipo de aplicação ainda pouco conhecido no Brasil: os Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs).
Um mercado ainda pequeno, mas que vem crescendo a passos rápidos. Para se ter uma idéia, o patrimônio dos fundos imobiliários cresceu de R$ 3,5 bilhões para R$ 6 bilhões nos últimos 12 meses, uma alta de 70%. Em fevereiro, 20 fundos com cotas negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) renderam em média 0,68% no mês, acima de fundos multimercados (0,65%), DI (0,52%) e da caderneta de poupança (0,50%), segundo dados da corretora Coinvalores.
Os fundos vendem pequenas parcelas de empreendimentos, como shoppings centers, hospitais, hotéis e torres de escritórios. Cada cota custa de R$ 1 mil a R$ 5 mil. O aluguel das lojas e salas comerciais vira uma renda mensal, depositada na conta dos cotistas após descontadas despesas de administração.
“São fundos muito comuns nos EUA, mas que ninguém conhece no Brasil. O mercado cresce agora em ritmo forte com a queda dos juros e a caça de investimentos mais rentáveis”, afirma Rossano Oltramari, da XP Investimentos. Mas nem tudo são flores. Há fundos com rentabilidade negativa, segundo dados da Anbima.
Especialistas sugerem olhar com cuidado o empreendimento imobiliário e pesquisar sobre a empresa que vai administrar o imóvel. É importante essa empresa ter histórico no setor. Sugerem ainda atenção ao potencial econômico da região onde ficará o empreendimento.
Rentabilidade de fundo caiu de 1,62% para 0,67% ao mês E também existe o risco de queda da rentabilidade dos fundos após o lançamento. As cotas dos fundos acompanhados pela Coinvalores tiveram uma valorização média de 63% desde o lançamento. O problema é que a renda do fundo é relativamente estável, o que acaba reduzindo percentualmente o rendimento. Isso aconteceu no fundo do Edifício Almirante Barroso, no Rio, no Centro. A rentabilidade caiu de 1,62% para 0,67%.
Fernando Silva Telles, da Coinvalores, lembra que quem opta por comprar um imóvel para locação fica sujeito à vacância e inadimplência do inquilino. Esse risco também existe nos empreendimentos de fundos imobiliários, mas é compartilhado com outros cotistas.
“Se um andar inteiro de escritório for desocupado, não será o seu andar, mas o de todos. E o investidor não precisará se preocupar com a administração do imóvel e com a burocracia que ela exige, que ficará por conta de um administrador”, diz Telles.
Mesmo investidores ligados à tradicional compra de imóveis para locação estão migrando para os fundos, segundo as instituições. Quem investe diretamente em imóveis comerciais tem um rendimento de 1% ao mês no Rio, mas algo como um terço disso vai para pagamento de Imposto de Renda.
Foi a escolha que fez o estudante Guilherme Pimentel, que recebeu de herança um flat no bairro de Boa Viagem, em Niterói. Segundo ele, o apartamento chegava a ficar quatro meses sem inquilino e Guilherme tinha que cobrir custos de IPTU e condomínio. Mas a corretora de ações do estudante ofereceu um fundo imobiliário e ele decidiu vender o flat.
“No início deste ano a XP me ofereceu o fundo e falou das vantagens. Eu achei interessante. Vendi o apartamento e investi parte em cotas do Shopping Parque Dom Pedro (em Campinas/ SP)”, diz Pimentel, que pretende avaliar novos fundos.
Investimento é isento do Imposto de Renda Existem atualmente oito fundos imobiliários aguardando aprovação na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Eles somam R$ 691 milhões entre ofertas primária e secundária. O volume fica atrás apenas dos pedidos de emissões de debêntures, com R$ 5,5 bilhões aguardando aprovação.
O investimento é isento do Imposto de Renda sobre os ganhos, o que vale para quem tem menos do que 10% das cotas do fundo. Essa isenção ocorre nos fundos que têm mais de 50 cotistas e cotas negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).
“Isso não ocorre com quem opta por comprar um imóvel para a lugar, por exemplo. Neste caso, existe uma tributação de 27,5% sobre o ganho líquido no mês”, frisa Fernando Silva Telles, da Coinvalores.
Para Anita Spichler, gerente de Investimentos Imobiliários da Rio Bravo, o forte crescimento dos fundos pode reduzir a oferta de bons empreendimentos no mercado. Mas pode reduzir a taxa de administração dos fundos, com mais competição. Segundo ela, as taxas já estariam baixas: de 0,5% a 2% ao ano.
Fonte: O Globo - RJ