Gafisa suspende operação com ação e estuda debênture
Companhia está endividada e analisa a emissão de debêntures conversíveis em ações
26 de junho de 2009 - Apenas 14 dias depois de ter submetido à Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid) a análise de uma oferta de ações, a Gafisa solicitou a prorrogação do prazo para realizar a operação.
Com isso, a companhia interrompe, pelo menos temporariamente, o andamento da oferta - que não deve ser retomada antes do segundo semestre.
A intenção da companhia é captar entre R$ 600 milhões e R$ 700 milhões por meio de uma distribuição primária. Segundo o Valor apurou, a Gafisa está estudando alternativa, como a emissão de debêntures conversíveis em ações. A empresa tem um endividamento alto e precisa de uma injeção de capital.
Até o momento, a oferta da Gafisa foi a única com pedido de adiamento protocolado. No entanto, com a piora do mercado acionário nas últimas semanas, não está descartada a possibilidade de outras ofertas serem suspensas ou adiadas, segundo banqueiros de investimento.
A Natura, por exemplo, contratou os bancos que fariam a venda de ações de seus controladores há um mês e havia expectativa que a essa altura o pedido de registro da oferta já tivesse dado entrada na CVM, o que não ocorreu ainda.
Tudo indica que a oferta ainda está nos planos, mas também é certo que os acionistas estão monitorando o comportamento do mercado atentamente. Afinal, é desgastante para a imagem da companhia registrar uma oferta e depois retirá-la.
No caso da Gafisa, a suspensão da operação aconteceu por conta da expectativa de preço das ações na oferta. Não exatamente pelo recuo dos papéis depois do anúncio da operação, mas, sim, pelas conversas iniciais com investidores.
Entre os dias 3 de junho, data de pedido do registro da oferta, e 17 de junho, dia da prorrogação, os papéis tiveram uma oscilação pequena- saindo de R$ 15,95 para R$ 15,65. Mas os primeiros contatos com investidores para identificar a demanda pela operação desanimaram a empresa, apurou o Valor.
O mercado estaria exigindo um desconto para ficar com os papéis por dois motivos: o fato de a empresa não atuar diretamente na baixa renda - o apetite dos investidores está nesse segmento - e por conta de lembranças de problema de relacionamento com a companhia no passado, particularmente o episódio em que a Gafisa incorporou a Tenda por meio de uma operação em que não houve oferta aos acionistas minoritários (tag along). Procurada pelo Valor, a Gafisa não comentou a decisão.
As ações da Gafisa chegaram a bater R$ 20,90, em maio, pouco antes de a empresa decidir pela nova oferta de papéis. A construtora teria estipulado R$ 18 a ação como preço ideal para a operação. A Gafisa estreou na bolsa em fevereiro de 2006, com preço original de lançamento de R$ 18,50.
Ao final do primeiro trimestre, a dívida líquida da Gafisa era de R$ 1,247 bilhão, o equivalente a 77% do patrimônio líquido. Somada às obrigações com investidores, a dívida líquida atingia R$ 1,387 bilhão em 31 de março.
Uma das cláusulas da quarta emissão da companhia, de R$ 240 milhões, feita em setembro de 2006, dizia que a dívida líquida da empresa não podia ultrapassar R$ 1 bilhão.
A empresa está em renegociação com os credores e convocou assembleia com os debenturistas para 1º de julho. A construtora proporá mudanças nos indicadores financeiros acertados com os investidores para aumentar os limites de endividamento.
De acordo com a companhia, uma resposta positiva dos debenturistas deverá ser "premiada" com uma alteração na remuneração dos papéis. Entre as propostas da Gafisa está a exclusão do limite de R$ 1 bilhão para o endividamento líquido.
Segundo a empresa, esse montante deixou de ser um critério adequado para a comprovação de sua capacidade de pagamento, devido ao crescimento da companhia nos últimos anos.
Segundo o analista Eduardo Silveira, da Fator Corretora, esse é um dos motivos que levaram a companhia a preparar a oferta de ações. Com a operação, a alavancagem financeira da empresa cairia de 62% para 45%.
No mercado, o que se fala é que as dificuldades em torno da negociação de preço da distribuição de Gafisa teriam inibido outra colocação - as informações são de que a Cyrela também preparava uma oferta, mas recuou depois de perceber que os valores que os investidores estariam dispostos a pagar não estariam de acordo com o que pretendia.
Do mesmo setor, a mineira MRV teve uma operação bem-sucedida. A ação foi vendida por R$ 24,50 na oferta pública primária e secundária. O valor representa um desconto de 2% sobre o preço de fechamento do papel ontem na Bovespa, de R$ 25,00. Os pedidos de reserva de investidores de varejo foram integralmente atendidos.
Segundo a CVM, foi registrada a venda de 24,3 milhões de ações ordinárias (ON, sem voto) na oferta primária, mas apenas a venda de 18 milhões está garantida. Outras 5,175 milhões de ações serão vendidas na oferta secundária.
A distribuição movimentará entre R$ 567 milhões e R$ 722 milhões. O valor definitivo da operação só será conhecido após a publicação do anúncio de encerramento, quando haverá a divulgação sobre os lotes suplementar e adicional.
Fonte: Valor Econômico