Gargalos no boom da construção
A expectativa é de que a demanda se mantenha aquecida.
7 de junho de 2010 - Setor que representa cerca de 40% dos investimentos no país, a construção civil abriu cerca de 180 mil vagas com carteira assinada em 2009, apesar da crise financeira internacional, e começou este ano empregando outras 166 mil pessoas apenas nos quatro primeiros meses. O ritmo acelerou-se em nível que não se via há pelo menos um quarto de século e a expectativa é de que a demanda se mantenha aquecida. Só o PAC 2, com destaque para o programa Minha Casa, Minha Vida, deverá assegurar fluxo anual de R$ 137 bilhões a essa área da indústria. Além disso, o governo federal prorrogou até o fim de 2010 o benefício fiscal previsto para terminar este mês, com uma desoneração de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) estimada pela Receita Federal em R$ 723 milhões.
Mas nem tudo vai bem nesse que é um dos principais motores do desenvolvimento econômico e social do país. Os gargalos que atazanam outros importantes setores da vida nacional também se fazem presentes na construção civil. Como na edificação de usinas para produzir a energia necessária à expansão do Brasil, pesam a burocracia e a lentidão dos processos de concessão de licença ambiental. A consequência imediata é a escassez de materiais básicos, como areia, argila e brita. Pior, contudo, é a falta de mão de obra qualificada. Embora tenha havido uma evolução desde 2002 - com o contingente de empregados do segmento que não haviam concluído o ensino fundamental caindo de 63,6% para 52,2% -, o avanço não foi suficiente. Até dezembro, estima o IBGE, o deficit desses profissionais deverá chegar a 28 mil.
É a velha história da educação brasileira: universaliza-se o ensino sem que se garanta o correspondente crescimento da qualidade. Nota-se que a questão não se restringe à capacitação para trabalho com alta tecnologia. A deficiência complica até a procura por pessoas preparadas para executar tarefas singelas. Numa obra, a dificuldade vai da contratação do pedreiro ou do marceneiro à do gerente. A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) registra que 5% dos trabalhadores do setor só têm um ano de estudo. Mais uma vez, já foi pior - eles eram 8% em 2002 -, mas não deixou de ser uma vergonha. A própria entidade informa combater o problema incentivando as empresas a montar turmas de aulas e bibliotecas nos canteiros de obras.
A iniciativa é louvável. Contudo, a empreitada é gigantesca e apenas será concluída quando a educação virar prioridade nacional. Em ano de sucessão presidencial, está aí desafio de primeira hora para os candidatos. É triste ver setor fundamental para o país, em momento de boom, se deparar com problema tão elementar. Ainda mais que a construção civil é solução para outros tantos gargalos, como o deficit habitacional próximo a 6 milhões de moradias, a geração de renda e emprego, a urbanização que ajuda a combater a criminalidade. O Brasil precisa resolver de vez os gargalos para alçar voo sustentável.
Fonte: Correio Braziliense – DF