Grupo espanhol chega ao Brasil para alavancar setor de infraestrutura
Com planos para a construção, Grupo Essentium negocia a compra ou a sociedade em ativos do grupo Bertin
23 de fevereiro de 2011 - O setor de construção e infraestrutura no país terá mais um concorrente espanhol ancorando o seu barco em cais brasileiro. O grupo Essentium, que fatura € 500 milhões por ano, está muito perto de fechar seu primeiro negócio no Brasil. Ontem, depois de mais de seis meses de negociações, o empresário espanhol Valentín Monje Tuñon passou o dia em reunião com Walter Torre para acertar os detalhes da aquisição de 50% da divisão de engenharia do grupo, que deve ser fechada até o fim da semana. Tuñon tem planos mais ambiciosos e, segundo o Valor apurou, negocia a compra ou a sociedade em ativos do grupo Bertin no setor de infraestrutura.
Em construção e concessões, o grupo pode ser considerado um emergente. Há apenas dois anos adquiriu a empresa Constructora Hispánica, que hoje é a Assignia Infraestructuras e tem concessões em diversos países. Na América do Sul, opera parte do metrô de Caracas. Uma das grandes tacadas do grupo, que tem capital fechado e com poucas informações públicas, foi no setor de cimentos.
A parte cimenteira na Espanha foi vendida às vésperas da crise internacional, que até hoje afeta fortemente o país e que tem penalizado o setor de construção e por consequência a demanda por cimento. A empresa, entretanto, ainda atua no segmento e no ano passado comprou por € 400 milhões uma cimenteira na Turquia, além de estar investindo € 130 milhões em uma fábrica no Marrocos.
A crise mais recente na Espanha, com perda de uma série de benefícios fiscais no país e queda de receita, parece ter deixado aberto o caminho rumo ao Brasil para as espanholas que conseguiram vencer as dificuldades e buscam incrementar faturamento em outros países. Neste ano, o grupo espanhol Iberdrola adquiriu a distribuidora Elektro por US$ 2,4 bilhões. As construtoras e empresas de energia, principalmente as ligadas à area de transmissão, que haviam vendido ativos ao chineses começam a fazer o caminho de volta e no ano passado entraram agressivas em leilões de transmissão. Na construção, Enrique Bañuelos comprou as incorporadoras afetadas pela crise, já as vendeu para a PDG Realty e agora monta uma operação de real estate.
As áreas de atuação da Essentium que chega agora ao país são as mais variadas e vão da construção, passando por energia até clínicas de estética. A empresa é presidida pela filha de Valentín, Susana Monje Gutierrez, que também é tesoureira do Barcelona, um dos clubes de futebol mais tradicionais da Espanha.
Em novembro do ano passado, o jornal espanhol Expansion publicou que a empresa estava negociando a aquisição de uma construtora e de uma empresa de engenharia no Brasil. Segundo o Valor apurou, na parte de engenharia o negócio agora se concretiza com a sociedade com a WTorre. A divisão de engenharia da empresa brasileira estaria avaliada em cerca de R$ 250 milhões. Segundo fontes próximas ao negócio, WTorre e Essentium já estariam comprando, juntas, uma empresa de "facilities" (gestão de infraestrutura de edifícios), além de um novo negócio no México. As empresas devem importar vários equipamentos, que estão sem uso na Espanha.
A divisão de engenharia da WTorre é a principal prestadora de serviços da WTorre Properties e, segundo último balanço disponível da companhia, a Properties pagou R$ 125 milhões à Engenharia de janeiro a setembro do ano passado.
A construtora, hoje batizada de WTorre Engenharia, foi o berço dos negócios do grupo brasileiro. A Construtora Walter Torre Junior nasceu em 1981 com objetivo de construir galpões industriais para locação. Com experiência na construção de indústrias, centros de distribuição e prédios comerciais de alto padrão - segundo consta no site da companhia, já foram construídos mais de 5 milhões de metros quadrados - a primeira incursão da divisão de engenharia na área de infraestrutura foi a construção do Estaleiro Rio Grande, iniciada em 2007, no porto de Rio Grande (RS).
Segundo fontes do setor, naquela ocasião, a empresa se deparou com as dificuldades típicas de um projeto desse porte. Daí - além do potencial promissor desse setor no Brasil - o interesse da WTorre em buscar um sócio com experiência na área. O estaleiro foi vendido para a Engevix e a Funcef, no início de junho, por R$ 410 milhões.
A WTorre e a Bertin foram procuradas pela reportagem, mas não comentaram o assunto.
Fonte: Valor Econômico