Infraestrutura está no foco das gestoras
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Projetos de infraestrutura continuam a atrair financiamento bancário
22 de agosto de 2012 - No vácuo deixado pelos bancos europeus, num momento em que estão encolhendo, gestores de ativos e seguradoras estão de olho em oportunidades em infraestrutura, estimulados pela perspectiva de que os retornos de investimentos em usinas de eletricidade, estradas e oleodutos superarão os de outros ativos.
Um setor que de longa data dependeu de bancos europeus que oferecessem empréstimos de longo prazo com base nas receitas dos ativos financiados está mudando.
No passado, bancos como o Royal Bank of Scotland e o Bank of Ireland já chegaram a vender pacotes de dívida associada a financiamentos de projetos. Mas, diante da crise na zona euro e da nova regulamentação, outros bancos europeus deverão reduzir seus passivos de longo prazo denominados em dólares vendendo suas carteiras de dívida relacionadas com ativos de infraestrutura na América do Norte e na Ásia, ao se concentrar em seus mercados domésticos.
No novo ambiente, projetos de infraestrutura, como a ligação ferroviária de alta velocidade entre Nîmes e Montpellier, continuam a atrair financiamento bancário. Todavia, em vista do número de projetos que exigirão financiamento nos próximos anos, é improvável que o mercado de bancos seja, sozinho, capaz de satisfazer a demanda.
Bill Appleby, diretor de financiamento de projetos para Europa, Oriente Médio e África (Emea, em inglês) no Citi, diz que, para preencher a lacuna, agências multilaterais e especializadas em exportação de crédito poderão desempenhar um papel maior no financiamento de novos projetos de infraestrutura.
Ele diz existir também a possibilidade de adoção de um modelo americano, em que projetos europeus seriam financiados primeiramente por bancos no mercado de crédito, e então investidores institucionais assumiriam a dívida, possivelmente no mercado de capitais, após a conclusão de uma obra. Outros apontam para a iniciativa de "títulos associados a projetos" da União Europeia como uma solução.
Mas Mateus Vickerstaff, diretor mundial de infraestrutura e financiamento em ativos no Société Générale, diz que em virtude da diminuição dos rendimentos de dívida soberana e de alguns títulos de empresas, tem surgido um "enorme" interesse de investidores institucionais de longo prazo em infraestrutura.
Russell Sternberg, diretor mundial da BlackRock, uma plataforma de investimento que aplica em fundos, concorda. Os fundos que "têm um elenco de ativos e não conseguem obter retornos no mercado público estão cada vez mais de olho nos mercados privados", diz ele.
O BlackRock está fazendo um esforço mais agressivo em termos de disponibilizar financiamento para projetos de infraestrutura para preencher o vazio deixado pelos bancos europeus. O BlackRock já oferece dívida e ações relacionadas a novos projetos e está de olho em oportunidades de compra de carteiras de dívida em poder de bancos que estão saindo da área de financiamento de projetos.
O grupo também adquiriu recentemente o fundo de aplicações em fundos que investem em participações da Swiss Re, especializado em investimentos em infraestrutura. Segundo dados da Preqin, em anos recentes houve um forte aumento no volume de dinheiro investido em fundos especializados em infraestrutura.
David Krischer, diretor mundial para mercados de capitais do escritório de advocacia Allen & Overy, diz que também se fala bastante sobre o que o setor de seguros pode fazer em termos de financiamento de projetos e em outros mercados de crédito.
"Mas a questão é se eles conseguirão alavancar-se da mesma forma que os bancos", diz ele. Analistas citam que, nos termos da regulamentação de Solvência 2, poderá ser mais difícil, para as seguradoras, realizar investimentos diretos em projetos de infraestrutura. E há outros obstáculos à frente.
Vickerstaff diz que muitos investidores institucionais estão buscando taxas de retorno fixas, quando a dívida de financiamento de projetos tem sido, tradicionalmente, financiada com base em taxas flutuantes. "Muitos também não querem assumir os riscos associados a obras de construção civil", diz ele.
Entre os que estão assumindo uma abordagem mais ativa no setor está a Allianz Global Investors. O braço gestor de ativos da seguradora alemã estabeleceu recentemente uma equipe para prospecção de ativos de infraestrutura para suas controladoras e para seus clientes, muitos dos quais desejam retornos sólidos a longo prazo.
Em junho, a Aviva Investors, braço gestor de ativos da seguradora britânica, firmou a compra de uma carteira de empréstimos de infraestrutura.
A Aviva e a Hadrians Wall Capital estão colocando em prática uma estrutura inovadora que envolve a emissão de dívida sênior em nível de "grau de investimento" em infraestrutura, que é dividida em duas partes. Uma parte é comprada pelo fundo na forma de títulos associados a infraestrutura, e a outra parte - cuja nota de crédito é reforçada por investimentos do próprio fundo - é colocada no mercado de capitais na forma de títulos seniores associados à infraestrutura.
Mark Parry, gerente sênior de investimentos no Aberdeen Asset Management, diz: "Os projetos de infraestrutura oferecem uma fonte de renda atraente. No entanto, a variedade de tipos de negócios e de estruturas torna importante uma análise rigorosa para garantir que os investidores encontrem a opção mais adequada a eles".
Analistas acreditam que os bancos europeus, particularmente espanhóis e italianos, tentem vender pacotes de dívida associada a financiamento de projetos nos próximos 18 meses. Eles dizem ainda que embora muitos desses bancos tenham conseguido adiar vendas, após terem tomado empréstimos mais baratos junto ao Banco Central Europeu (BCE), eles precisarão descarregar dívida associada a financiamento de projetos, por exemplo, nos EUA.
"O estresse na Europa tem pressionado os bancos do continente a levantar capital por meio da venda de ativos. E financiamentos a infraestrutura nos EUA estão entre os ativos", diz Hector Negroni, sócio da Fundamental Advisors e gestor de investimento em participações e fundos de hedge dedicados a títulos lançados por municípios.
"Isso pode criar um estoque sombra, que poderá pesar sobre o mercado, exatamente quando governos municipais nos EUA necessitam de empréstimos para construção de nova infraestrutura. A oferta de crédito novo para infraestrutura está se acumulando, mas [o processo] tem sido dolorosamente lento."
Fonte: Valor Econômico