Mantega empurra ação de construtoras
Papéis das construtoras passaram a liderar os ganhos dentro do Índice Bovespa
27 de agosto de 2009 - A afirmação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que a agência de classificação de risco Moodys deve promover o Brasil à grau de investimento já no mês que vem não trouxe grandes benefícios ao mercado.
Se a bolsa nem ligou para a boa nova dada pelo ministro, as ações de construção civil refletiram imediatamente a notícia. O mercado já esperava que isso ocorresse logo, já que no início de julho a agência colocou a nota do país em revisão para uma possível promoção.
Além disso, das três grandes agências de classificação de risco - Fitch Ratings, Standard & Poors e Moodys -, essa última é a única que ainda não colocou o Brasil no seleto grupo de países seguros para se investir.
Assim que o ministro afirmou que a promoção do país está próxima, no fim da tarde de ontem, os papéis das construtoras passaram a liderar os ganhos dentro do Índice Bovespa. As ações ordinárias (ON, com voto) da Gafisa subiram 6,18%, as ON da Rossi se valorizaram 4,79% e as da Cyrela, 4,60%, as três maiores altas do Ibovespa, que subiu 0,60%, aos 57.765 pontos.
Mas qual seria o impacto da possível elevação da nota do Brasil para as construtoras? Essa promoção reduz de forma significativa a percepção de risco com relação ao país e, consequentemente, diminui o custo dos financiamentos de longo prazo, bastante relevantes no setor habitacional, explica o superintendente de renda variável da SulAmérica Investimentos, Ricardo Maeji. "Financiamentos de longo prazo com custos menores são importantes estruturalmente para o setor imobiliário", diz Maeji.
Ele acredita que isso provocaria um ciclo virtuoso para as construtoras. Por uma questão de demanda aquecida, o preço dos imóveis convergiria para níveis internacionais. "O metro quadrado em regiões nobres dos Estados Unidos e da Europa custa, em média, três vezes mais do que no Brasil", lembra Maeji.
Interesse externo
Essa história promissora para o setor imobiliário brasileiro, depois de muitos anos no ostracismo, vem atraindo boas fatias de recursos de investidores internacionais, como os fundos soberanos ou de universidades. "Eles possuem muito dinheiro para aplicar e, com a queda dos imóveis nos Estados Unidos por causa da crise, terão cada vez mais interesse em redirecionar uma parcela desses recursos para o setor imobiliário de outros países com maior potencial de crescimento e as construtoras brasileiras se incluem nessa lista", explica o superintendente da SulAmérica Investimentos.
O diretor de relações com investidores da MRV, Leonardo Correa, afirma que, nas últimas semanas, a demanda de investidores estrangeiros cresceu consideravelmente, segundo apurou a repórter Daniela DAmbrósio. "São investidores seniores e grandes assets, que investem dinheiro dos fundos de pensão e endowments (fundos de universidades)", afirma Correa, que está com dificuldade na agenda para atender a todos os pedidos de encontro.
Há investidores de várias partes do mundo, como EUA, Europa e Ásia. As dúvidas são muitas e o interesse pela companhia mineira, que dobrou as vendas do primeiro para o segundo trimestre, também. Mas, invariavelmente, o foco das atenções está no plano habitacional do governo.
Os investidores querem entender a política pública para o setor imobiliário no Brasil. Enquanto o Infonavit, programa de estímulo à habitação popular do governo mexicano, é familiar para analistas internacionais e investidores, o Minha Casa, Minha Vida ainda é desconhecido da maioria, afirma o executivo da MRV.
Na pauta dos encontros, os investidores querem detalhes do programa, de onde vem o dinheiro, quem é e como funciona a Caixa Econômica Federal, quais os gargalos para a implantação, além dos planos da companhia.
Os investidores estrangeiros estão de olho nas construtoras locais há algum tempo. Na onda de ofertas públicas iniciais (IPOs, na sigla em inglês), eles ficaram com fatias relevantes de ações dessas companhias. A presença desses investidores no capital tem bônus e ônus.
Com a crise financeira, eles saíram vendendo os papéis a qualquer preço, fazendo com que amargassem quedas significativas em 2008. As ações ordinárias da Abyara, por exemplo, despencaram.
Fonte: Valor Econômico - SP