Mão de obra qualificada vira maior problema da construção
O aquecimento da construção no primeiro trimestre do ano fez com que a atenção dos empresários se voltasse ainda mais para a dificuldade de obter mão de obra qualificada. Segundo sondagem do setor realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), a falta de trabalhador qualificado passou de segunda para primeira preocupação dos empregadores neste começo de ano, comparado ao último trimestre de 2009. Nos últimos três meses do ano passado, o primeiro lugar era ocupado pela elevada carga tributária.
"Em dezembro de 2009, nossa pesquisa piloto mostrava que a carga tributária era o maior problema para o setor da construção. Hoje é contratar pessoas qualificadas, que vai desde o pedreiro ao gerente de obra", explica Renato da Fonseca, gerente-executivo da Sondagem da Construção Civil. A evolução do emprego é calculada de três em três meses.
A expectativa é de que o problema se agrave no curto prazo, mas que aos poucos se normalize, como resultado de investimentos das próprias empresas em qualificação desde que o setor começou a ficar mais aquecido no ano passado. "Essa questão dificulta o crescimento de imediato, faz as obras andarem mais devagar, mas tem muita gente se especializando, fazendo os cursos necessários", diz.
A pesquisa da CNI mostra que o nível de atividade da construção se intensificou no primeiro trimestre de 2010. Em março, o indicador do setor ficou em 55,8 pontos, onde números acima de 50 pontos indicam aumento da atividade. O índice está 2,6 pontos acima do resultado de fevereiro. Isso significa que mais empresas responderam que a atividade cresceu mais em março do que no mês anterior.
Também há mais empresas neste começo de ano dizendo que contrataram mais que no último trimestre de 2009. Segundo a sondagem, o indicador sobre evolução do número de empregados ficou em 56,4 pontos, ante 53,6 no período anterior. "O índice acima de 50 pontos mostra que há mais empresas contratando do que demitindo e a expectativa é de que o ritmo de contratações aumente mais", diz o gerente da pesquisa.
O índice que mostra a disposição das empresas continuarem contratando ficou em 66,2 pontos em março, mesmo nível de janeiro deste ano (66,8 pontos). As contratações devem ser mais forte por parte das grandes companhias, grupo em que o indicador de expectativa de emprego ficou em 74,1 pontos.
A arrancada da atividade da construção em março está relacionada às obras de infraestrutura, que não apresentaram crescimentos nos dois meses anteriores. Neste grupo, o indicador sobre o nível da atividade em março ficou em 56 pontos, enquanto mercado mobiliário ficou em 53,9 pontos. "Infraestrutura demorou um pouco mais para se recuperar no começo do ano que o setor mobiliário. Por conta da novidade da sondagem, ainda fica difícil analisar se é algo sazonal ou se houve algum impacto específico", explica Fonseca.
O aquecimento da construção também é verificado nas vendas da indústria de materiais, cujo faturamento cresceu 26% em março sobre fevereiro, segundo a Abramat, entidade que representa o setor. Projeções da FGV Projetos, mostram que o Produto Interno Bruto da construção deve crescer 9% em 2010 em relação a 2009. "Há capacidade para segurar esse crescimento, pois ainda não foi recuperado o patamar de 2008. A mão de obra é o único ponto delicado da história", diz Ana Maria Castelo, coordenadora da FGV Projetos.
Fonte: Valor Econômico - SP