Material de construção poderá ser comprado sem avalistas
Financiar a compra de material de construção deverá ficar mais fácil e contará com mais recursos
A equipe econômica do governo responsável pelas medidas anti-crise na área da construção civil sinalizou ontem apoiar duas propostas encaminhadas pelo setor. Trata-se do fim da exigência de avalista para o trabalhador ter acesso ao cartão Construcard, da Caixa Econômica Federal, e da inclusão da compra de material de construção entre os bens que podem ser adquiridos com microcrédito produtivo bancado por 2% do compulsório dos bancos.
Essas propostas serão encaminhadas hoje (22/01) ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pelo secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Henrique Barbosa. Ele manifestou parecer favorável às sugestões, após encontro com representantes do setor e a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC).
Segundo ela, as novas medidas deverão anunciadas na próxima semana. "A Caixa poderia fazer uma espécie de cartão de crédito para ser acessado nas lojas", sugeriu a parlamentar. "Só para se ter uma ideia, 70% do cimento e 90% da tinta vendidos no País são empregados em pequenas casas e reformas", explicou Ideli.
Para a senadora, o uso do microcrédito para a compra de materiais de construção vai ajudar a manter empregos. "Todos os bancos podem utilizar 2% dos depósitos compulsórios para financiar o microcrédito. Só que entre as alternativas onde pode ser utilizado o dinheiro não estava incluído o material de construção. Eles vão incluir isso. Vão deixar isso explícito para dar o efeito formiguinha", explicou a líder do PT.
A parlamentar destacou a também a necessidade de redução da burocracia nos financiamentos do Construcard, linha de crédito da Caixa Econômica com juros especiais para a compra de materiais de construção. Apesar de o limite dos financiamentos ter aumentado de R$ 7 mil para R$ 25 mil, ela afirmou que as exigências para a concessão do empréstimo continuam elevadas, principalmente porque exigem fiador.
"O Construcard já foi ampliado, mas o governo está pensando em diminuir as exigências de fiador e de avalista, substituindo isso por outros mecanismos que a Caixa está apresentando para a equipe econômica", apontou ela.
Uma solução em análise pela Caixa, para assegurar o pagamento das compras pelo Construcard, afirmou a senadora, seria tornar as lojas de material de construção avalistas dos clientes: "Existem 138 mil pontos-de-venda de material de construção no Brasil. Se todas essas lojas puderem fazer com que seus clientes consigam este financiamento na Caixa, vai fortalecer muito o setor", explicou.
A senadora ressaltou que seria necessário uma resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) para autorizar o acesso das pessoas físicas ao microcrédito. Atualmente, esses financiamentos só podem ser conseguidos por microempreendedores, pessoas que montam um negócio próprio. Participaram da reunião líderes da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) e da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco).
Câmaras setoriais
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, sugeriu ontem ao presidente Lula a recriação das câmaras setoriais para discutir o problema do desemprego no País. O modelo semelhante foi adotado em 1992, quando o setor automobilístico enfrentava crise na região do ABC.
Nobre observou que a média de demissões, no seu sindicato, permanece em 450 por mês e que esse número pode aumentar. O sindicato está propondo a realização de um seminário no ABC, em fevereiro, com a presença de representantes sindicais e dos governos estadual e federal, para buscar medidas que garantam ofertas de emprego. "Nossa preocupação é com os próximos meses. É importante esperar o fim do primeiro trimestre para saber a dimensão do problema", afirmou. O presidente, segundo Nobre, colocou seus ministros à disposição para participar do evento. "O presidente disse que nossa proposta é importante pois no atual momento o diálogo entre todos os agentes é fundamental", afirmou Nobre.
Durante a audiência, o sindicalista reclamou de propostas já apresentadas por centrais sindicais e empresários, de redução de jornada de trabalho e de salário e do aumento das demissões. "O empresário demite agora e contrata depois pela metade do salário", argumentou Nobre. "Está muito barato demitir", assegurou. "O que vai assegurar emprego no Brasil não é a redução de salário e de jornada, mas o crescimento econômico", afirmou Nobre. "Precisamos de medidas expansivas e não recessivas", ressaltou. Na avaliação dele, há muitas "profecias" sobre a crise. Nobre disse que Lula concordou com a avaliação dele de que o "barulho" da crise não bate com os números de demissões. "A economia, na verdade, sentirá maior impacto com o pessimismo". afirmou.
Fonte: DCI, 22/jan