menu-iconPortal AECweb

Material inovador utiliza resíduos alimentares para criar cimento comestível

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

A técnica foi desenvolvida por pesquisadores da Universidade de Tóquio, no Japão

foto de um banco feito com cimento comestível
A aplicação do cimento biodegradável adiciona um novo sentido para arquitetura que, além da visão, tato, olfato e audição, agora também pode estimular o paladar (Foto: fabula_inc/Reprodução)

08/02/2023 | 15:28 –  Pesquisadores da Universidade de Tóquio, no Japão, desenvolveram uma técnica para produzir cimento a partir de resíduos alimentares. Todo o processo de fabricação foi documentado e apresentado na 70ª Reunião Anual da Sociedade de Ciências de Materiais, em maio de 2021.

Leia também

Camuflagem sísmica impede que prédios desmoronem em caso de terremoto
Wavin lança linha de PVC com 75% de redução na pegada de carbono
Tigre lança sistema de tubulações com instalação até duas vezes mais rápida

O professor responsável pelo estudo, Yuya Sakai, é engenheiro especializado em concreto e reciclagem. Ele já havia desenvolvido uma técnica para mesclar o pó de concreto reciclado e resíduos de madeira através de uma compressão quente, que resultou em um material de resistência significativa.

Ele conta que, durante o desenvolvimento da metodologia que emprega a madeira, surgiu a ideia de testar outros materiais residuais no processo, incluindo frutas e legumes. Depois de muitos testes e análises, ele chegou a um resultado definitivo e conseguiu estruturar a produção do cimento comestível em três etapas.

Como é feito

Primeiro, Sakai corta as matérias-primas (que podem ser cascas de laranja, cebolas, abóboras, bananas, repolho chinês e algas marinhas) em pedaços pequenos, e coloca as peças em uma estufa (regulada em uma temperatura de 105°C) ou em uma máquina de secagem à vácuo.

Em seguida, pulveriza os materiais utilizando um liquidificador comum, e, posteriormente, mistura o pó resultante com água e temperos. Por fim, prensa o produto a180°C.

Durante o procedimento, ele considerou tanto a resistência dos materiais, quanto o sabor. Com exceção da amostra derivada da abóbora, os resultados indicam que todos os outros insumos atingiram a meta de resistência a flexão, com destaque para o repolho chinês, que atingiu uma resistência três vezes superior à do cimento comum.

O engenheiro conta, ainda, que a parte mais desafiadora do processo foi descobrir a temperatura e o nível de pressão para cada alimento — o que fez necessário uma série de testes, até alcançar dados conclusivos.

Destaque

A inovação de Sakai se destaca entre os materiais de construção sustentáveis justamente pelo fato de, ao contrário de outras produções, não necessitar de plástico à mistura para que os materiais se aglutinassem — uma dúvida que ainda não havia sido solucionada na engenharia de reciclagem. A fabricação depende, apenas, de variáveis como pressão e temperatura.

Além da resistência, outros fatores são ressaltados, como os sabores e odores. Os testes indicaram que, apesar de todo procedimento, o alimento ainda permanece com seu cheiro original. Segundo o engenheiro, o produto é atóxico e seguro para consumo, mas, como ele mesmo afirma, “é bem crocante”. A coloração do material também muda, já que é definida de acordo com o insumo utilizado.

Os testes relacionados à durabilidade do material indicaram que, após quatro meses de exposição em uma sala, não houve relato de ataques de insetos, vermes ou fungos — e a aparência também se manteve.

Apesar de perder o potencial comestível, o cimento ainda pode ser impermeabilizado com alguma substância química ou revestido com laca.

O professor Sakai aposta nessa tecnologia não apenas para mitigar o desperdício mundial de alimentos – que, segundo a ONU, chega a 900 milhões de toneladas por ano – mas, também para gerar moradias provisórias para refugiados ou em casos de desastres naturais.

Além das vantagens já citadas, é importante relembrar que o cimento comestível é biodegradável, podendo ser enterrado quando não tiver mais utilidade, tornando-se um material muito promissor para a substituição dos produtos feitos com plástico e cimento comum. Sua aplicação ainda adiciona um novo sentido para arquitetura que, além da visão, tato, olfato e audição, agora também pode estimular o paladar.

Essas e outras informações podem ser encontradas no artigo de Sakai, o Development of Novel Construction Material from Food Waste.

x
Gostou deste conteúdo? Cadastre-se para receber gratuitamente nossos boletins: