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Mecanização traz um novo jeito de construir

Texto: Redação AECweb

Controle de custos, falta de mão de obra e ganhos de qualidade levam a inovações no processo produtivo

30 de maio de 2012 - O boom das obras de infraestrutura foi acompanhado por uma rápida evolução tecnológica, sem a qual dificilmente as construtoras estariam dando conta dos cronogramas, controle de custos e entrega de obras. A escassez e a elevação dos custos da mão de obra, além dos requisitos de segurança e qualidade, impulsionaram a mecanização, a ponto de se dizer que a construção brasileira evoluiu do modelo quase artesanal que vigorou até os anos 90 para uma semi-industrialização.

"O empresário brasileiro de construção sempre foi bem informado a respeito das melhores tecnologias e daquilo que se fazia de melhores práticas no resto do mundo. O que lhe faltava eram mercado e recursos. Essas questões estão superadas", diz Mário Humberto Marques, vice-presidente da Associação Brasileira de Tecnologia para Equipamentos e Manutenção (Sobratema) e superintendente de suprimentos da Andrade Gutierrez.

A construtora tem um parque de 2 mil equipamentos e um centro de treinamento em Hortolândia (SP), com simuladores para capacitar a mão de obra nas novas tecnologias. Também recorre aos aluguéis, de acordo com o perfil e o cronograma das obras, e mantém centros de capacitação técnica na maior parte dos canteiros de obras.

Marques aponta o uso crescente de manipuladores telescópicos, aplicados na movimentação e içamento de cargas, plataformas elevatórias, guindastes móveis e gruas fixas. Andaimes e escoramentos com novos materiais podem ser reposicionados de uma estrutura, sem que ela tenha de ser completamente desmontada para em seguida ser remontada em outro local.

As montagens e desmontagens, quando necessárias, são rápidas e seguras, conferindo produtividade às obras. Outra tendência é o uso de miniequipamentos como miniescavadeiras, minicarregadeiras para usos urbanos, nos quais se utilizavam tradicionalmente a força e equipamentos manuais como enxadas e picaretas.

A tecnologia wireless trouxe avanços com sistemas celulares embarcados nas máquinas de construção para o envio de informações em tempo real, como controle de consumo de combustíveis; gestão das quebras e suas conseqüentes perdas de tempo; localização física do equipamento via GPS; controle das cargas ótimas; monitoramento remoto e controle da produção, entre outras aplicações.

Um exemplo é a Usina de Asfalto Ciber, do grupo alemão Wirtgen, que faz o monitoramento remoto da produção de asfalto utilizando tecnologia 3G com chip integrado ao computador de bordo. Segundo Luiz Marcelo Tegon, vice-presidente do grupo Wirtgen, é possível acessar remotamente o equipamento e saber que tipo de massa está sendo produzida, a qualidade e o volume para medir a produtividade do operador. O sistema pode ser configurado para enviar relatórios via SMS ou e-mail e alertas de operação e segurança.

Com o avanço das obras de infraestrutura estão chegando ao mercado guindastes de grande capacidade para suportar projetos como as instalações de torres eólicas, que operam em condições adversas de altura e ventos fortes. Para os gasodutos e oleodutos, os equipamentos de assentamento de tubos incorporam requisitos de segurança, como indicadores de movimento de cargas e cabines que protegem o operador em casos de tombamento. "São equipamentos e recursos tecnológicos que foram disponibilizados há menos de dez anos", diz Marques.

Além disso, os softwares para o planejamento e gestão de projetos atingiram o estado da arte. Por meio de maquetes eletrônicas, por exemplo, pode-se acompanhar a evolução diária do projeto em execução e os sistemas estão integrados com o planejamento de materiais e recursos para o cumprimento dos cronogramas contratados. O acompanhamento da execução da obra por meio de câmeras de TV ligadas 24 horas por dia é outro recurso de uso cada vez mais frequente.

A indústria tem respondido às novas demandas com inovação. A maior parte dos fornecedores vasculha as principais feiras do setor ao redor do mundo em busca de novidades para trazer ou adaptar para a produção brasileira. A Via Trade, que se autodenomina como empresa de comércio exterior, se especializou em trazer para o mercado brasileiro inovações usadas na Europa e Estados Unidos. Um exemplo é a linha de cortadoras de parede da espanhola Macroza.

"São máquinas rápidas e precisas que chegam a cortar 1 metro de tijolo em menos de 20 segundos para abrir as canaletas, em cortes retos ou curvos, para as instalações elétricas e hidráulicas. Além disso, reduzem até 80% no tempo de execução dos trabalhos e evitam a formação de pó", diz Cristiano Winckler, diretor comercial da empresa.

A Via Trade oferece andaimes fachadeiros, importados da Itália, uma passarela protegida por tela, que evita perda de material e substitui os tradicionais balancins nos serviços de fachadas e paredes. As minigruas Umacon, que estão sendo utilizadas na reforma do Estádio Mineirào, para a Copa do Mundo, permitem elevar até 500 quilos com agilidade e segurança. Outro equipamento de produtividade é a decapadora de paredes que remove camadas de reboco em reformas, substituindo o trabalho manual.

O grupo Baran tem entre suas inovações a máquina de acabamento de paredes que pode ser usada para a aplicação de reboco de argamassa ou de gesso. Segundo Josely Rosa, presidente do grupo, um bom pedreiro faz de 25 a 30 metros de parede por dia, enquanto a máquina faz 320 metros por dia com dois operadores e substitui até oito pedreiros. Nesse processo, o equipamento coloca a massa na parede com uma régua vibrante para fixar o reboco de baixo para cima e depois desce alisando e regulando a parede para o acabamento final.

O grupo oferece produtos de acessibilidade da linha Movi, que inclui gruas e cremalheiras, e lançou, em 2009, a linha Verdham. Trata-se de uma miniusina de reciclagem com capacidade para moer até 15 toneladas por hora de restos de obras, que antes não tinham destino legal. Rosa diz que há cerca de dois meses o Ministério Público de Porto Alegre identificou 43 pontos de descartes ilegais de obras e a fiscalização aumentou. No Brasil, seriam milhares de locais onde se jogam entulhos que são um dos responsáveis pelas enchentes urbanas. "Daqui a quatro meses se encerra o prazo para as prefeituras se adequarem a Lei de Resíduos Sólidos. A miniusina traz sustentabilidade, permitindo que o entulho seja reaproveitado como areia, brita ou como rachão para aterros."

A SH lançou em 2011 a torre de carga LTT Extra, composta por painéis de aço e voltada para escorar concreto em obras da construção pesada de hidroelétricas, refinarias e siderúrgicas, por sua capacidade, que pode chegar a 24 toneladas. Está sendo empregada nos viadutos da Transoceânica no Rio de Janeiro e na Arena do Recife. Segundo Wolney Amaral, diretor comercial, um dos diferenciais é a agilidade na montagem, o que exige menos mão de obra e torres e proporciona economia de 30% a 50%.

Fonte: Valor Econômico

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