Média salarial da construção civil encolhe 11,7% no AM
O Amazonas foi a unidade federativa que obteve a maior queda no rendimento médio dos trabalhadores da construção civil, com recuo de 11,7%
17 de maio de 2011 - O Amazonas foi a unidade federativa que obteve a maior queda no rendimento médio dos trabalhadores da construção civil, com recuo de 11,7%. A informação consta no Estudo Setorial da Construção 2011, elaborado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), tendo por base os dados da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) referentes a 2009 e 2008 e contabilizados pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
No ranking de queda, o Estado ficou atrás da Paraíba (-10,6%) e do Maranhão (-10,5%). Em contrapartida, na lista das regiões que alcançaram ganho real nos vencimentos médios, despontam Rondônia (+39,8%), Alagoas (+18,1%) e Roraima (+14,2%).
A despeito da redução, o valor médio da remuneração dos operários amazonenses (R$ 618,13) está acima da média registrada pela Região Norte (R$ 608,77), embora ainda esteja abaixo do mesmo quesito em âmbito nacional (R$ 634).
O presidente do Sintracomec (Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil de Manaus), Roberto Bernardes estranhou os números, uma vez que a categoria tem, segundo o dirigente, conquistado entre 1% e 2% de ganho real nos últimos anos. Em 2010, por exemplo, o reajuste negociado com as construtoras, depois de paralisações relâmpago em diversos canteiros de obras da cidade, foi de 7%. O percentual equivaleu à inflação acumulada pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), mais 2% de acréscimo.
"Pela lógica, não teríamos perda salarial. Ocorre que sabemos que a inflação é medida em seis Estados, todos no Sul e Sudeste. Esses dados não tem nada a ver com nossa realidade, pois nosso custo de vida é altíssimo", arriscou. O dirigente acrescenta que o sindicato vai buscar aumento de 15,03% na campanha salarial deste ano.
Demissões e admissões
A supervisora técnica do escritório regional do Dieese em Manaus, Alessandra Cadamuro, destaca que a queda na remuneração média da categoria não implica efetivamente em perda de compra. Isso porque, explica a economista, os números foram conseguidos por meio da razão entre a massa salarial e o número de trabalhadores do setor.
"Como houve um aumento de 25.373 para 25.450 no contingente do setor, a explicação para a queda nos rendimentos médios é que as demissões se concentraram nos cargos mais remunerados e as admissões foram realizadas nas faixas salariais menores", interpretou Alessandra Cadamuro.
Rotatividade elevada reduz custos de empresas e ganhos do trabalhador, diz Dieese
O Dieese aponta que, apesar de ser um tradicional motor da economia na geração de empregos, a construção civil ainda enfrenta problemas de informalidade e, principalmente, rotatividade elevada. "Enquanto 2,4 milhões de trabalhadores foram contratados em 2010, outros 2,2 milhões perderam o emprego [no mesmo período] (...)", pontua a entidade, no texto da pesquisa. Esta atribui o fato ao processo produtivo do setor e destaca que a dinâmica, ao diminuir os custos das construtoras, contribui também para reduzir os ganhos dos trabalhadores.
"A rotatividade é caracterizada pelo tipo de empreendimento e sua duração. A empresa não costuma ficar com todo o efetivo entre uma obra e outra. Mas, isso vem mudando em Manaus", ponderou o presidente do Sintracomec.
Roberto Bernardes acrescenta que a construção civil, que chegou a contar com um contingente de 30 mil trabalhadores formais na capital, durante o período pré-crise de 2008, hoje emprega 20 mil pessoas em seus canteiros de obras. "Parte disso se deve ao fato de as obras da Ponte [sobre o Rio Negro] terem dado uma parada. Mas, acredito que os empreendimentos na Ponta Negra, principalmente o shopping, vão voltar a aquecer o setor", amenizou.
Apesar disso, o dirigente estranhou o último dado da RAIS, veiculado na quarta-feira, 11, pelo Ministério do Trabalho e Emprego, que aponta corte de 1.200 empregos no setor no ano passado, o equivalente a uma queda de 5,13% em relação a 2009. "Certos dados causam espanto, quando se vê as reclamações que estão faltando profissionais no mercado. Deve ser a rotatividade mesmo. Só uma empresa chegou a oferecer 132 vagas nos classificados de hoje", apontou.
Alessandra Cadamuro avalia que só a informalidade não explica a discrepância entre os dados negativos de emprego e salários do setor e as constantes dificuldades em conseguir mão de obra qualificada para os canteiros de obras, tanto em Manaus quanto em outras regiões do país. "Não dá para entender dois anos seguidos de resultados negativos para o setor, quando se vê obras em todas as partes da cidade. Tenho uma hipótese, mas prefiro confirmar antes de divulgá-la", finalizou a supervisora técnica do escritório regional do Dieese em Manaus.
Fonte: Jornal do Commercio - AM