Medidas melhoram o humor com papéis de construtoras
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Visão mais positiva para o segmento de construção já teve repercussões na bolsa durante a semana passada
12 de dezembro de 2012 - O pacote de estímulo à construção civil anunciado pelo governo federal no último dia 4 não trará grandes mudanças para as companhias em termos de fundamentos, mas abre espaço para ganhos de margem no curto prazo e para a melhora de humor dos investidores em relação às ações do setor, avaliam analistas.
A visão mais positiva para o segmento de construção diante das medidas do governo já teve repercussões na bolsa durante a semana passada, com as empresas do setor liderando as altas. Enquanto o Ibovespa subiu 1,76%, as ações ordinárias (ON, com direito a voto) da Gafisa, por exemplo, avançaram 15,91%, a maior valorização semanal das companhias do índice. No ranking das 10 maiores altas do Ibovespa na semana passada, cinco foram registradas por incorporadoras.
Entre as medidas anunciadas, a que deve trazer o maior benefício para as empresas é a que reduz de 6% para 4% os impostos sob o regime de especial de tributação (RET), calculados sobre a receita bruta. O Barclays, em relatório assinado por Guilherme Vilazante e Daniel Gasparete, destaca que o corte de dois pontos percentuais nos impostos incidentes sobre a receita terá um impacto importante sobre as margens e lucros que serão reportados nos próximos anos.
"Apesar de permanecermos céticos em relação a esses ganhos no longo prazo, a medida vai contribuir para impulsionar as margens exatamente no período em que o setor seria mais prejudicado pelo estouro de custos e enxugamento [nos planos de negócios], especialmente num mercado altamente dependente de indicadores como Preço/Lucro (P/L) e ROE (retorno sobre patrimônio líquido)", escreveram os analistas. Para eles, "todos esses benefícios terão um impacto significativo sobre os preços das ações e podem aliviar o pessimismo com o setor na bolsa".
Pelas contas do Barclays, o ganho de margem virá, entre outros fatores, da reversão de provisões para pagamento de imposto (equivalente a cerca de 3% do valor patrimonial), uma vez que as empresas registram no balanço a provisão para pagamento de impostos de acordo com a receita, mas o desembolso só acontece quando os recursos entram no caixa.
Ainda segundo o banco, o pacote terá como efeito um aumento nas margens de cerca de dois pontos percentuais pelos próximos três anos - tempo previsto para que unidades lançadas e vendidas, unidades lançadas e ainda não vendidas e o banco de terrenos sejam reconhecidos na demonstração de resultados. No longo prazo, contudo, o efeito da medida sobre as margens tende a desaparecer, por conta da forte competição no país pela aquisição de terras, continua o Barclays. "Não é uma mudança no jogo, e está muito baixo do estouro de custos, mas definitivamente é uma ajuda." Para 2013, pelos cálculos do banco, isso pode significar um aumento de 4,5 pontos percentuais no ROE.
Entre outras medidas anunciadas, destaque para mudanças nas contribuições ao INSS, que passam de 20% sobre a folha de pagamento para 2% da receita brutal das empresas. Para o Itaú BBA, são as companhias que atuam no segmento de baixa renda as que mais podem ganhar com essa desoneração, uma vez que a folha de pagamento pesa mais, percentualmente, nos custos.
O governo anunciou ainda aumento no limite do regime de tributação especial que incide sobre projetos de baixa renda, de R$ 85 mil para R$ 100 mil, o que deve favorecer principalmente a Direcional e a MRV, na avaliação do Itaú BBA, já que elas têm uma fração maior de seus projetos dentro desse regime.
Para a equipe de análise do BTG Pactual, de maneira geral, o pacote deve resultar num "ganho teórico de margem de 2 a 3 pontos percentuais, assim como trazer um certo alívio para o fluxo de caixa. A magnitude do impacto das medidas varia de empresa para empresa, já que elas valem para construtoras e prestadoras de serviço. Mas, como as incorporadoras listadas em bolsa têm construtora própria, elas também tendem a ganhar. Para o BTG, a Direcional é a empresa que mais se beneficia do pacote, em termos de fundamentos, por operar de maneira verticalizada, ter 100% dos projetos sob o regime especial de tributação e parte relevante de unidades com valor entre R$ 85 mil e R$ 100 mil.
O Barclays destaca que o pacote é mais um fator positivo para um setor que voltou a chamar a atenção. De acordo com o banco, cinco das nove incorporadoras que acompanha - Gafisa, Cyrela, MRV, Even e Direcional - já se tornaram geradoras de caixa, enquanto a PDG Realty caminha para entrar para o grupo no primeiro semestre de 2013, com aumento nas entregas. Dessas, Cyrela e Gafisa estão à frente no processo de ajuste de contas. Já MRV, Even e Direcional, que não enfrentaram grandes estouros de orçamentos, devem seguir apresentando boas margens e geração de caixa "decente".
Fonte: Valor Econômico