Minério de ferro e construção civil mantém IGP-M pressionado em junho
Preços continuam subindo, mas perdem forças no último mês
30 de junho de 2010 - Os preços dos bens industrializados no atacado continuam subindo, mas perderam força em junho em relação a maio. Enquanto os bens finais e os produtos agrícolas tiraram o pé do acelerador, os bens intermediários e as matérias-primas continuam pressionando o atacado - ainda que em menor escala. Por trás desse movimento, o culpado tem sido o mesmo pelo segundo mês consecutivo: o minério de ferro. O Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) desacelerou entre maio e junho, passando de 1,19% para 0,85%, com quedas no atacado e no varejo, que representam a maior parte do índice, e alta na construção civil.
O minério de ferro passou por elevação de 23% em junho - a maior alta entre todos os itens pesquisados pela Fundação Getulio Vargas (FGV), que calcula o índice -, mas viu sua influência diminuir, uma vez que o salto dado em maio, de 49,8%, foi duas vezes maior. A elevação menor do ferro em junho, avaliam os economistas, explica a oscilação semelhante do item matérias-primas brutas.
Por outro lado, a elevação do minério ainda causou impacto no levantamento do Índice de Preços no Atacado (IPA) industrial. O item bens intermediários foi o único que passou por elevação - de 0,58% para 0,80% - puxando o IPA-industrial. O subgrupo materiais e componentes para a manufatura registrou alta de 0,78%, sendo o principal responsável pela aceleração do grupo.
O mercado aposta que o IGP-M vai ampliar a redução no mês que vem, operando abaixo de 0,70%. Segundo a nova modalidade contratual firmada por mineradoras e siderúrgicas, os preços passam por reajustes trimestrais - e são captados pela FGV no atacado com defasagem de um mês. Assim, a alta chancelada em abril foi sentida em maio, com resquício em junho, desaparecendo em julho. Novo aumento nos preços do ferro, que será negociado no mês que vem, só será sentido nos índices de agosto.
O IGP-M leva em conta a oscilação nos preços do atacado, varejo e construção civil, com diferentes pesos. O maior mergulho ocorreu nos preços ao consumidor, que saíram de alta de 0,5% em maio para uma deflação de 0,18% em junho. Apenas dois dos sete itens levantados pela FGV no varejo tiveram alta no período. Entre eles, o item vestuário, que sazonalmente sobe em junho, devido ao início do inverno. Entre o mês passado e junho, o vestuário ficou 0,13 pontos percentuais mais caro, segundo a FGV.
Dos cinco itens que registraram queda no varejo, foram os alimentos que registraram a maior retração - de 0,56% para menos 1,36% em um mês. Os alimentos processados, que já tinham registrado queda em maio sobre abril - de 1,93% - ampliaram o tombo: -2,48%. O açúcar, importante item na cesta de consumo, caiu tanto no atacado quanto no varejo - 16,2% e 11,3%, respectivamente.
"Os alimentos pressionaram a inflação no começo do ano, agora estão ajudando na queda", diz Laura Haralyi, economista do Itaú Unibanco, para quem, no entanto, a redução nos preços não deve se estender. "A atividade aquecida vai facilitar maior repasse de preços no setor de bens industrializados, tanto no atacado quanto no varejo", avalia.
Para Fábio Ramos, economista da Quest Investimentos, "é possível que a a atividade perca algum fôlego, ainda que mantenha um bom ritmo. Ainda assim levará algum tempo para que as pressões da construção civil, que é um dos setores que mais puxam a economia, percam ímpeto", diz. Com data-base em 1º de junho, o sindicato dos trabalhadores da construção civil de São Paulo, que representa mais de 40% do item mão de obra no INCC, obteve reajuste salarial de 2,4% acima da inflação. Os ganhos, que serão estendidos aos mais de 370 mil trabalhadores em canteiros, pintura e hidráulica, ampliaram o salto no item mão de obra, que passou de 1,4% no mês passado para 2,6% em junho.
Fonte: Valor Econômico - SP