Nas mãos da Agra, Abyara muda foco de atuação para baixa renda
Empresa atuará em áreas totalmente novas, como a incorporação de redes hoteleiras e de supermercados
20 de fevereiro de 2009 - A sede da Abyara, em Moema, estava agitada ontem. Os 150 funcionários que restaram depois da demissão de 300 pessoas e que conviviam com a dúvida sobre o futuro e a sobrevivência da empresa, assistiram a um vai-e-vem de gente nova. Os antigos sócios - entre eles uma figura lendária no mercado imobiliário, Celso Minoru -já não circulavam mais nos corredores do 12 andar. O novo CEO, Astério Safatle, um dos fundadores da Agra, já discorria sobre os projetos da companhia. A seu lado, Marcelo Paracchini, braço-direito do espanhol Enrique Bañuelos e presidente da Veremonte no Brasil.
Nas mãos da Agra e de Bañuelos, que compraram a Abyara por R$ 39 milhões e têm até cinco anos para desembolsar esse valor, a Abyara muda de cara. Não só pelo novo CEO, mas também pelo perfil da empresa. A Abyara, agora, passa a ser focada no segmento de baixa renda - que a empresa classifica até R$ 140 mil. Cerca de 70% do banco de terrenos da companhia, que hoje soma R$ 2,5 bilhões, está nessa faixa e pega a fatia de mercado onde estarão concentrados os incentivos do governo. Para atuar nesse segmento, porém, um bom relacionamento com a CEF é fundamental e, por conta do alto endividamento, a Abyara não conseguia linha de crédito com nenhum banco para financiar a produção.
A Abyara também atuará em áreas totalmente novas, como a incorporação de redes hoteleiras e de supermercados, um negócio que a Veremonte aposta no Brasil.
Ainda que os planos para a nova companhia estejam na ponta da língua dos novos controladores, que parecem entusiasmados com o negócio, tudo pode voltar à estaca zero. O negócio só saiu porque, na semana passada, a Abyara conseguiu fechar um acordo com os bancos e renegociar a dívida. Mas por enquanto só foi assinado um memorando de intenções com os bancos e por esse motivo há uma cláusula de desistência no contrato. "Se a dívida voltar ao que era, o negócio passa a ser inviável", diz Ricardo Setton, diretor de RI e sócio da da Agra. "Mas a probabilidade que dê certo é de 99,9%", acrescenta. A definição deve ocorrer entre 30 e 60 dias.
Com o acordo feito pelos bancos, que receberam terrenos e obras, as dívidas da Abyara foram reduzidas de R$ 433 milhões (dos quais R$ 300 milhões venciam ainda este ano) para R$ 174 milhões, com três anos de carência e mais três para pagamento. A relação dívida sobre patrimônio líquido, quera de 120% passa a 50% e, depois do aumento de capital de R$ 100 milhões, passa a 40%. "É uma nova empresa, que está mais enxuta, com um bom nome e bons ativos", afirma Safatle.
A Agra e a Veremonte criaram a IPU Participações e compraram 62% da Abyara, sendo que a Agra fica com 30% e a Veremonte, 70%. A ideia da compra nasceu da Agra - que tem 50% dos projetos em parceria com a Abyara e estaria ameaçada em caso de insolvência da empresa -que está em contato com Bañuelos desde novembro e viu na Veremonte uma forma de concretizar o negócio. "O percentual de 30% era o máximo que o nosso caixa permitia nesse momento", diz Setton.
Apesar de ficar com a maior fatia da empresa, a Veremonte não participará da gestão, nem mesmo terá assento no Conselho de Administração. " Confiamos no modelo de gestão da Agra", diz Paracchini. Ambos farão um aumento de capital no valor de R$ 100 milhões para que a empresa possa tocar os seus projetos. Caso não seja acompanhado pelos minoritários, a Agra desembolsa R$ 30 milhões e a Veremonte, R$ 70 milhões. "É improvável que não tenha adesão", diz.
Os novos sócios pagaram R$ 1,20 por ação (que foi lançada a R$ 25 em julho de 2006) e tem cinco anos para pagar esse valor. O dispositivo para pagamento é acionado antes disso caso haja pagamento de dividendos, por exemplo, entre outros. "Estamos trazendo uma solução para uma empresa prestes a quebrar, não podíamos privilegiar os vendedores", diz Setton sobre o prazo de cinco anos. Como as condições são muito negativas, inclusive para os minoritários, a empresa consultou a CVM sobre a necessidade de fazer uma OPA (oferta pública de ações).
A Cyrela, sócia da Agra, com 21%, não tinha conhecimento sobre o negócio. "Pelo estatuto, não tínhamos que consultá-los", disse Safatle. Ubirajara Freitas, diretor-geral da Cyrela, julgou a negociação positiva para o setor. "É uma forma de mostrar que há soluções possíveis no setor".
Fonte: Valor Econômico - SP