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Novo Maracanã avança, apesar das polêmicas

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Ainda este mês será divulgado o edital de concessão do estádio

08 de outubro de 2012 - Privatização, redução do número de assentos e altos custos foram algumas das polêmicas provocadas pelas obras do Maracanã desde seu início, em março de 2010. Muitas dessas questões ainda são debatidas, mas mesmo assim o projeto, que deverá custar R$ 1 bilhão aos cofres públicos, entra na reta final.

Ainda este mês será divulgado o edital de concessão do estádio. Em novembro, começará a ser erguida a estrutura da cobertura da arena. Paralelamente, organizações da sociedade civil tentam impedir o que chamam de elitização do estádio. Estão previstas manifestações e denúncias ao Ministério Público Federal.


O que o torcedor verá após 28 de fevereiro de 2013, data da entrega do projeto, é algo totalmente diferente do antigo Maracanã, que já chegou a ser o maior do mundo, com capacidade para 179 mil pessoas. O estádio já havia perdido grande parte da sua capacidade durante a reforma de 2005 para os Jogos Pan-Americanos, que custou R$ 350 milhões. Dessa obra, na qual a "geral" foi suprimida para a colocação de cadeiras e o campo rebaixado, quase nada foi aproveitado, segundo o Consórcio Maracanã Rio 2014, formado pelas construtoras Andrade Gutierrez (21%) e Odebrecht (79%).

O Maracanã passará de 168 mil metros quadrados em área construída para 203 mil m2, mas terá uma arquibancada menor, de 45 mil m2, enquanto a anterior tinha 63 mil m2. O número de assentos foi reduzido de 86 mil para 79 mil, sendo 96% totalmente cobertos. A arquibancada foi refeita, com o fim dos diferentes patamares, tendo agora um único nível, mais inclinado. Não haverá espaços específicos para assistir aos jogos em pé. Serão 231 banheiros e 60 bares, com 110 novos camarotes.

A obra estava inicialmente orçada em R$ 705 milhões, mas o consórcio alegou problemas estruturais na cobertura original, o que exigiu a demolição e a construção de uma maior, o que elevou o orçamento para R$ 960 milhões. O governo do Estado revisou o valor para R$ 930 milhões e, após análise do Tribunal de Contas da União (TCU), o número caiu para R$ 860 milhões. Pela legislação, no entanto, é possível que as obras cheguem a um teto de R$ 1 bilhão, segundo o consórcio.

"A gente só vai saber o valor da obra quando ela acabar. Estamos aumentando a recuperação estrutural", disse Carlos Zaeyen, gerente operacional do consórcio. "Os preços já estão definidos, são auditados. O que existe é acréscimo de serviço, que está previsto na Lei 8.666 [Lei de Licitações], que é de até 50%. Se você tinha uma obra orçada inicialmente em R$ 705 milhões, e você pode ter um acréscimo de 50%, chega a R$ 1 bilhão. Não sei se vai chegar." Do total orçado, R$ 400 milhões virão do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e o restante do Estado do Rio.

Nos próximos dias, as obras do Maracanã ganharão o reforço de mais 1,2 mil operários. Os novos pedreiros, bombeiros hidráulicos, eletricistas, pintores e ajudantes de eletricistas se juntarão aos 5,2 mil trabalhadores que atualmente trabalham no palco da final da Copa de 2014.

A estrutura da nova cobertura, formada por cabos de aço cobertos por lona tensionada, uma das etapas mais importantes da obra, será levantada em novembro. Avança também a privatização do estádio, que será concedido pela Casa Civil do Estado a gestores privados. O órgão não dá detalhes do edital, limitando-se a informar que será divulgado ainda este mês. Um dos interessados é a IMX, empresa de Eike Batista, única a apresentar estudo de viabilidade econômica. A possível participação de Fluminense e Flamengo na gestão também foi comentada.

Contudo, organizações não governamentais preparam manifestações para as próximas semanas para impedir o lançamento do edital. De acordo com Gustavo Mehl, membro do Comitê Popular Rio Copa e Olimpíada, formado por dezenas de ONGs, estão previstas denúncias ao Ministério Público Federal por conta do escândalo da compra das cadeiras Giroflex - a parceira alemã da empresa anunciou o resultado da licitação antes do Estado - e sobre a possível perda de participação popular no estádio com a redução do número de assentos e a privatização.

Essa "elitização", segundo os críticos, pode infringir as normas de tombamento do Maracanã, considerado patrimônio etnográfico pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

No Iphan, o caso do Maracanã e o debate sobre o que pode ser considerado patrimônio etnográfico geraram rachas políticos. Em abril, o Conselho Consultivo do Iphan condenou a permissão para a reforma do estádio dada pelo então superintendente do órgão no Rio Carlos Fernando Andrade. Os conselheiros aprovaram uma "posição de censura" ao Iphan-RJ pelo parecer que liberou as obras. O Maracanã foi tombado como patrimônio etnográfico em 2000.

"Queremos que o Maracanã seja mantido sob gestão pública e os preços dos ingressos sejam populares. Além disso, exigimos a manutenção das características arquitetônicas, de forma a proteger o direito de torcer de pé", diz Mehl.

Segundo Erick Omena, mestre em planejamento urbano pelo Instituto de Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional e pesquisador do Observatório das Metrópoles, o Maracanã já foi mais diverso do que é hoje em termos de público. "O projeto de 1950 era ter um estádio popular controlado pelo governo", explicou. Segundo ele, a partir da reforma de 2005 o Maracanã começou a perder suas características de estádio popular, com a supressão da "geral".

Fonte: Valor Econômico

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