Novos sistemas construtivos ajudam a superar gargalos na construção
Treinamento e processos industrializados ajudam companhias a driblar falta de mão de obra qualificada e a aumentar produtividade nos canteiros
29 de maio de 2012 - Com um crescimento superior ao do Produto Interno Bruto (PIB) do país nos últimos cinco anos, a construção civil precisou investir na expansão e qualificação de toda sua cadeia de insumos e sistemas construtivos para equilibrar o atendimento à demanda. Somente no segmento de cimento-que cresceu mais que os PIBs do país e da construção -, a capacidade produtiva aumentou de 63 milhões de toneladas, em 2007, para 78 milhões de toneladas, no ano passado, e a projeção é atingir 110 milhões de toneladas de cimento em 2016, com base nos novos investimentos previstos.
"Nosso desafio foi fazer com que toda a cadeia produtiva acompanhasse esse movimento. O crescimento ocorreu não apenas em quantidade, mas, com a maior formalização da construção nos últimos cinco anos, houve uma forte demanda por qualidade superior dos insumos e sistemas construtivos", declara Valter Frigieri, gerente de mercado da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP). Exemplo disso foram os fabricantes de sistemas de alvenaria estrutural que tiveram forte expansão de negócios nos últimos anos, alavancados, principalmente, pelo programa do governo Minha Casa, Minha Vida.
Segundo Frigieri, há hoje 200 fabricantes de blocos de concreto e sistemas de alvenaria estrutural em projeto de capacitação junto à ABCP - o setor estima que existam perto de 5mil fabricantes em todo o país -, para aprimorar a parte técnica, e ao Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP), para capacitação nos aspectos ligados à gestão. "Esses 200 não só estão ganhando qualidade, como investiram no aumento da capacidade. Temos casos de empresas que entraram no projeto para obter melhorias e acabaram expandindo a capacidade em até dez vezes, com aquisição de novas máquinas", diz o gerente, destacando que os pequenos e médios fabricantes já representam cerca de 50% da capacidade total.
Frigieri pondera que crescer nesse ritmo é um movimento bastante complexo porque envolve absorção de nova mão de obra que, devido à escassez, foi o insumo que mais subiu de valor. De acordo com ele, quando começa a faltar profissionais em determinada região, as construtoras elevam o salário para atrair os trabalhadores locais ou migrantes de outras áreas, principalmente os jovens que não têm demonstrado interesse pelas profissões do setor. Segundo o gerente da ABCP, as construtoras estão investindo na capacitação, com treinamentos internos, além dos cursos oficiais, para elevar a produtividade, já que o custo da mão de obra é alto.
Para driblar a carência de mão de obra especializada e acompanhar o crescimento da demanda, algumas construtoras optam por métodos construtivos industrializados que dão mais agilidade ao canteiro de obras. Nesse nicho, a Metro Modular Engenharia de Sistemas Construtivos tem assistido suas vendas subirem em torno de 20% anuais nos últimos três anos. A empresa desenvolveu um sistema construtivo de paredes de concreto moldadas in loco, com o uso de formas plásticas. "Nosso sistema tem um lado importante porque não dispensa a mão de obra, mas reduz a necessidade de qualificação da mesma", diz Edenilson Rivabene, gerente de planejamento da empresa. De acordo com ele, o método só requer que haja uma equipe técnica que acompanhe e fiscalize o andamento da instalação e os funcionários, que só precisam aprender a montar e desmontar as formas.
As construtoras que adotam esse sistema construtivo, diz Rivabene, acabam absorvendo toda mão de obra local, incluindo trabalhadores que nunca tiveram contato com a construção civil, o que, afirma, acontece com frequência no interior do Nordeste, onde esse sistema tem sido mais usado para programas habitacionais, como o Minha Casa, Minha Vida, e para a Operação Reconstrução do governo de Pernambuco, que visa à atender às famílias que tiveram suas casas danificadas na enchente de junho de 2010. Nos últimos meses, segundo Rivabene, a demanda pelas formas plásticas cresceu ainda um pouco mais depois que foi publicada a norma que regulamenta a parede de concreto pré-moldada in loco, facilitando a adoção desse sistema. Além disso, o método é mais rápido e ele calcula que fica de 20% a 40% mais barato que o sistema convencional de construção.
Fonte: Brasil Econômico