Obras do Parque Olímpico já têm dono
Carvalho Hosken, Odebrecht e Gutierrez construirão complexo
06 de março de 2012 - As obras de infraestrutura do futuro Parque Olímpico - principal instalação esportiva das Olimpíadas de 2016 - devem começar em 60 dias. A previsão foi dada nesta segunda-feira pelo Consórcio Parque Olímpico 2016, formado pelas construtoras Norberto Odebrecht, Andrade Gutierrez e Carvalho Hosken, que disputou sozinho a concorrência da parceria público-privada (PPP) organizada pela prefeitura para viabilizar o projeto no terreno hoje ocupado pelo Autódromo Nelson Piquet. O resultado foi homologado ontem. Na terça-feira, representantes do consórcio serão apresentados a integrantes do Comitê Olímpico Internacional (COI), que estão no Rio monitorando os preparativos.
O edital de licitação prevê 80% das demolições este ano. Mas o cronograma de intervenções deve depender de um acordo prévio com a Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA). No sábado, a CBA obteve no plantão do Judiciário uma liminar exigindo o cumprimento de um acordo firmado com a União e a prefeitura em 2008. Pelo acordo, o autódromo atual só pode ser fechado quando um novo circuito for construído. A área escolhida para o novo autódromo fica em Deodoro, mas ainda não há previsão de quando as obras vão começar. O estado - que gerenciará a obra - ainda negocia com a União o repasse dos recursos para o projeto sair do papel.
- A CBA não é contra as obras, mas quer garantir a manutenção de uma atividade econômica da qual dependem pilotos, fornecedores e patrocinadores. E temos um calendário de provas fechado para o autódromo, de abril a novembro - disse o diretor jurídico da CBA, Felipe Zeraik.
O secretário-chefe da Casa Civil, Pedro Paulo Carvalho Teixeira, disse que o prefeito Eduardo Paes vai se reunir com a direção da CBA para negociar a liberação da área.
Em 15 anos, prefeitura pagará R$ 525 milhões
O investimento no Parque Olímpico é estimado em R$ 1,4 bilhão. A prefeitura pagará o consórcio com o repasse de uma área de cerca 800 mil metros quadrados do autódromo que não será aproveitada nas Olimpíadas. No local, os investidores poderão construir casas e lojas comerciais. Além disso, o município pagará mais R$ 525 milhões ao longo de 15 anos ao consórcio, conforme a proposta apresentada. Na conta não estão os custos da construção de arenas permanentes e provisórias - que são de responsabilidade da União. Ao todo, 15 modalidades esportivas serão disputadas no complexo.
- O retorno financeiro para a prefeitura virá a longo prazo. Seja na arrecadação de mais tributos, seja por viabilizarmos um investimento importante para a cidade - disse o secretário-chefe da Casa Civil, Pedro Paulo Carvalho Teixeira.
Os repasses vão durar 15 anos porque nos primeiros anos após a Rio 2016, a conservação do Parque Olímpico será do consórcio. As instalações que forem construídas servirão para formar novos talentos pelo Comitê Olímpico.
A PPP prevê que ainda que o consórcio urbanize e construa um condomínio na Estrada dos Bandeirantes para reassentar a favela Vila Autódromo. A abertura das ruas da futura Vila dos Atletas na Avenida Salvador Allende também será de responsabilidade do consórcio de empresas. Um complexo de escritórios (para receber um centro de imprensa) e um hotel cinco estrelas com 400 quartos (para hospedar jornalistas) também terão que ser construídos no autódromo. A bandeira que irá administrar o espaço ainda será escolhida pelo consórcio.
O empresário Carlos Carvalho, presidente da Carvalho Hosken, explicou que o consórcio planeja abrir inicialmente duas grandes frentes de obras: no próprio autódromo e no entorno da futura Vila Olímpica. Segundo Carvalho, cada empresa tem uma participação de 33,3% no negócio.
Projeto polêmico passou por vários mudanças, enfrenta resistência de moradores e virou notícia no NYT
O projeto para a área do Parque Olímpico já passou por várias mudanças ao longo de 2011: de um projeto original que previa a remoção da comunidade de Vila Autódromo do local, mudou em maio para uma remoção parcial; e em outubro, com a publicação do edital da obra, como noticiado pelo GLOBO, retornou para uma realocação de todos os moradores, planejada para 2013 e depois adiada para 2014.
A resistência dos moradores a sair da comunidade virou notícia no jornal americano "The New York Times" nesta segunda-feira. Para o jornal, a favela é um símbolo das muitas favelas que estariam sendo removidas para abrir espaço para as obras da Copa e das Olímpiadas. Os moradores da Vila Autódromo, que estão no lugar há 40 anos, lutam na Justiça para permanecer em suas casas e reclamam das ações da prefeitura, que buscaria removê-los em vez de melhorar as condições do local.
Fonte: O Globo