Para Odebrecht, sucessão não traz riscos
O medo de mudanças bruscas na condução da política brasileira por conta das eleições presidenciais parece não afetar o empresariado brasileiro. Em seminário realizado pela Tendências Consultoria, onde especialistas analisaram os cenários político e econômico, Marcelo Odebrecht, presidente do grupo Odebrecht, fez uma avaliação bastante otimista das oportunidades de investimento no país nos próximos anos.
"O Brasil, nos próximos 10 anos, é uma aposta certa. No curto prazo, não tem risco. O cenário macroeconômico está de um jeito como nunca vivemos", analisou Odebrecht. Instado a comentar as diferenças de eventuais governos de Dilma Rousseff (PT) ou José Serra (PSDB), Odebrecht se limitou a dizer que nenhum dos candidatos assusta o empresariado e que acredita que o próximo presidente dará continuidade à política de investimentos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva: "Estou seguro de que nenhum deles vai sair dessa linha de crescimento, de estabilização institucional, de estabilidade macroeconômica e ambiente propício a investimentos".
Em sua palestra, Marcelo Odebrecht, que elogiou programas do governo federal como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, comentou o crescimento de faturamento do grupo por ele presidido: "Ano passado, faturamos aqui no Brasil o dobro do que faturávamos há 10 anos atrás. Este ano, chegaremos a quase o dobro do ano passado". Os investimentos do grupo no país também crescerão: "Nos próximos 3 anos, investiremos 23 bilhões de reais".
Marcelo Odebrecht também mapeou os gargalos que, acredita, precisam ser resolvidos para que o crescimento do país se dê de maneira sustentável: "A infraestrutura é uma trava brutal. Melhoras na área de transportes e capacitação profissional são urgentes. Atualmente, nós (grupo Odebrecht) gastamos mais de 20 milhões de reais por ano em capacitação profissional, por necessidade".
Odebrecht não descartou uma participação do grupo na construção da usina hidrelétrica de Belo Monte: "O Brasil não pode abrir mão do potencial de energia da Amazônia. Trabalhamos 20 anos por Belo Monte, mas não vencemos o leilão. Vamos fazer o que pudermos para contribuir, mas cabe aos vencedores do leilão colocar as regras de participação".
Melhorias na área de transportes, capacitação de pessoas e logística estiveram na pauta dos outros participantes do seminário, entre eles o professor de Economia da PUC-Rio, Rogério Werneck, José Márcio Camargo, economista da Opus Gestão de Recursos e a jornalista Lúcia Hippolito.
Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda e sócio da consultoria que realizou o seminário, alertou para os riscos de uma queda brusca dos juros: "baixá-los de maneira voluntarista seria um desastre". Defendeu uma reforma tributária e rechaçou a possibilidade de o país passar por crises fiscal ou cambial em futuro próximo, hipótese levantada pelo deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE): "Temos câmbio flutuante e estabilidade macroeconômica inequívoca. Crise fiscal é risco de calote. A Grécia está passando por isso, mas no Brasil não há os ingredientes para gerar algo do tipo".
Lúcia Hippolito alertou para a necessidade de diretrizes mais claras quanto ao papel das agências reguladoras do país.
Fonte: Valor Econômico - SP