Petrobras afeta imóveis residenciais e comerciais
Procura por imóveis na cidade de Santos tem valorizado as propriedades em níveis acima do usual
05 de novembro de 2009 - A chegada da Petrobras e a perspectiva de crescimento da cidade já causam impacto no mercado imobiliário de Santos. As imobiliárias têm recebido um público diferente à procura de apartamentos e há uma retomada dos investimentos em prédios comerciais, parados há cerca de 20 anos.
A procura tem valorizado as propriedades em níveis acima do usual. De 2008 para cá, o preço dos imóveis residenciais aumentou até 50%, enquanto nos anos anteriores a valorização ficava na faixa dos 20% a 30%, conta Sarah Rejane Brito, corretora da Kasa Imóveis, uma imobiliária local. "Há 20 anos trabalho com vendas de imóveis e nunca vi uma valorização assim. Hoje temos uma procura maior que a oferta", diz ela.
Os terrenos quase dobraram de preço de dois anos para cá, segundo o proprietário da construtora Miramar, Armênio Mendes. "As áreas boas são disputadas e isso acaba refletindo no valor dos imóveis. Mas a valorização tem que ter um limite, porque senão pode acabar dificultando as vendas", diz.
Áreas próximas ao porto também estão valorizando. Segundo Lawrence Pih presidente do Moinho Pacífico, terrenos perto do porto mais que duplicaram de valor, de R$ 600 a R$ 700 o metro quadrado (m2) para R$ 2,2 mil. "Há um processo forte de investimento na cidade por conta das perspectivas", diz Pih. A empresa está investindo R$ 80 milhões para duplicar a sua capacidade de estocagem de trigo próxima ao porto, obra que deve ficar pronta em 12 meses.
Uma área que também deve valorizar rapidamente é o entorno do terreno adquirido pela Petrobras no bairro do Valongo, centro de Santos. O terreno de 25 mil m2 foi escolhido pela petroleira para ser a sede da unidade de negócios da Bacia de Santos e a intenção é que o investimento sirva para induzir a revitalização da região, hoje uma área degradada do centro.
Quem acompanha esse mercado diz que não é possível atribuir o aquecimento da venda de imóveis apenas à chegada da Petrobras. O setor imobiliário está sendo beneficiado por um período de maior disponibilidade de crédito a juros mais baixos, o que incentiva a venda ao público das cidades vizinhas em busca de casas de veraneio e à própria população local, que aproveita para melhorar o padrão das suas residências.
O aumento da demanda por imóveis comerciais e a presença cada vez maior do público voltado para eventos de negócios mostram, porém, que o setor de petróleo e gás já está ganhando importância na cidade.
Em dezembro de 2008, a imobiliária Lopes fez seu primeiro lançamento na área comercial, um prédio da incorporadora Elbor com 506 salas próximo ao centro novo da cidade, e vendeu 95% em dois meses. "Temos só 25 salas livres, a procura foi muito grande", diz Davi Theodoro Uberreich, instrutor de treinamento de corretores da unidade da Lopes em Santos.
A avenida Ana Costa, uma das principais vias do centro novo, tem ganhado novos prédios, como o da armadora Mediterranean Shipping Company (MSC), um investimento de R$ 40 milhões que, além de abrigar os escritórios da companhia, também possui salas para terceiros.
"A Petrobras é uma grande indutora desse movimento de novos negócios na cidade, também impulsionado pelos investimentos no porto", diz o delegado regional do Secovi da Baixada, Domingos de Oliveira.
A valorização imobiliária não se traduz só com o aumento do preço, mas também na maior velocidade de comercialização. Há seis meses a construtora Miramar lançou um condomínio residencial com apartamentos de R$ 3,5 milhões. Já vendeu metade dos 54 imóveis, que devem ser entregues em agosto de 2010. "Vivo em Santos há 40 anos e nunca se vendeu tanto quanto neste ano", diz Mendes, proprietário da construtora.
De olho no crescimento da Petrobras na cidade, Mendes diz que espera que as vendas melhorem ainda mais. "Já vendemos muitos apartamento para funcionários da Petrobras, mas é um volume que ainda não é tão significativo. Espera-se que venham mais", diz ele.
Hoje, a Petrobras está presente com cerca de 1 mil trabalhadores na cidade. Com a construção da unidade de negócios, esse número deve triplicar até 2012, quando a primeira torre ficará pronta, e chegar a 6 mil pessoas com a conclusão de outros dois prédios no mesmo terreno.
Outro setor que está sentindo o maior dinamismo da economia da cidade é o hoteleiro. Com o crescimento da importância dos eventos, a capacidade hoteleira de Santos ficou defasada. Enquanto o centro de convenções da cidade, o Mendes Convention Center, pode receber até 4,6 mil convidados, o conjunto de hotéis da cidade possui 2,5 mil leitos. Assim, em grandes eventos, é preciso recorrer à rede hoteleira das cidades vizinhas.
O ritmo é de aumento do volume de eventos ligados à petróleo e gás. No ano passado eles representaram 8,6% do faturamento do Mendes Convention Center, e neste ano a estimativa é de que esse percentual chegue a 12%.
Hoje, 60% da ocupação do hotel Parque Balneário, hospedagem cinco estrelas na avenida Ana Costa, é de pessoas relacionadas aos negócios do setor, segundo o diretor de operações Renato Chammas. A expectativa é de que esse número cresça para 70% em pouco tempo. "O ano passado foi um período muito bom. Sentimos um pouco a crise no primeiro semestre deste ano, mas no meio do ano o mercado voltou a aquecer", diz ele.
Com a expectativa de aumento da demanda, o Grupo Mendes, dono do Parque Balneário, deve iniciar a construção de um novo hotel no ano que vem com perfil mais econômico na mesma região. O hotel deve ficar pronto em 2013, e o grupo empresarial não divulga o valor do investimento.
Fonte: Valor Econômico - SP