Prédio inteligente gera economia de 30% na Construção Civil
Inovações garantem reciclagem de materiais, reutilização de água e eficiência energética
16 de agosto de 2010 - A construção de edifícios e casas dentro do conceito da sustentabilidade não é mais puro marketing. Várias construtoras investem no desenvolvimento de projetos que incorporam melhorias em eficiência energética. Políticas públicas incentivam a adoção de padrões inovadores para utilização de resíduos sólidos e evitar o desperdício de água. Diversas edificações no país foram classificadas a partir de critérios de sustentabilidade ambiental. A própria indústria de construção criou modelos para a produção de cimento e outros materiais de forma sustentável.
"No setor da construção civil, a conscientização do consumidor é mais fácil, porque essa é uma indústria que vai gerar mais economia para seus clientes. Por isso, a indústria não quer ficar fora do mercado da construção sustentável. O mundo corporativo quer entrar nesse jogo", diz Marcelo Takaoka, presidente do conselho deliberativo do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável.
"Nossa intenção é desmistificar o mito de que os prédios sustentáveis são muito mais caros. Uma pesquisa mundial mostrou que os prédios sustentáveis custam 5% a mais para serem construídos, mas proporcionam economia de 30% na utilização de vários recursos, como água e energia elétrica, por exemplo", diz Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Recentemente, a entidade criou uma câmara técnica para mobilizar o empresariado do setor de construção no sentido de trabalhar na concepção de projetos de construção de prédios sustentáveis, a partir de metodologias de ecoeficiência.
A preocupação tem cabimento. A construção civil contribui com algo em torno de 15% do PIB brasileiro, tem importância estratégia na geração de emprego formais, mas, é uma das principais responsáveis pelo consumo dos recursos naturais extraídos. No Brasil, o consumo de agregados naturais somente na produção de concreto e argamassas, por exemplo, é de 220 milhões de toneladas. A indústria consome cerca de dois terços da madeira natural extraídas e a maioria das florestas não são manejadas adequadamente. É ainda uma das principais geradoras de poluição e o maior gerador de resíduos.
Mas é possível reverter esse cenário, utilizando-se inovações tecnológicas em reciclagem de materiais, reutilização de água, sistemas combinados de eficiência energética e outras soluções criativas, afirma Vanderley John, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). "Pode-se aumentar a sustentabilidade de qualquer empreendimento sem aumento de custos."
Os programas setoriais de qualidade de materiais e componentes de construção, executados por vários órgãos governamentais, estimulam à cadeia produtiva a desenvolver soluções mais adequadas do ponto de vista da sustentabilidade, diz o professor Orestes Gonçalves, também do grupo de pesquisadores da Poli. Gonçalves participou do programa setorial de louças sanitárias, dentro do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat (PBPQ-H), do Ministério das Cidades, que levou à padronização de todos os moldes de bacias sanitárias na faixa de 6,8 litros de água por descarga a partir de 2004 (antes eram de 12 e 18 litros por descarga). "Essa vantagem tecnológica não representou qualquer aumento nos custos e melhorou o desempenho das louças sanitárias", confirma John.
Além das novas tecnologias, as políticas públicas são consideradas fundamentais para a implantação do conceito de sustentabilidade. Um exemplo é o Programa Nacional de Eficiência Energética em Edificações (Procel Edifica), do Ministério de Minas e Energia, que desde 2007 certifica projetos comerciais que preveem redução de consumo e uso de energias alternativas, estimulando a adoção de ações nesse sentido, e a partir deste ano, em caráter experimental, passará a certificar também prédios residenciais. Segundo Marcelo Takaoka, da CBCS, em alguns anos, as construtoras que não aderirem à conservação energética ficarão fora do mercado. "O menor custo de operação e o aumento da vida útil do imóvel compensarão largamente o pequeno custo a mais da construção sustentável."
Efeito multiplicador dos propósitos de projetistas, arquitetos, engenheiros e da indústria de construção civil no desenvolvimento sustentável é a ação das agências de fomento e instituições financeiras. O Banco do Nordeste do Brasil, segundo seu presidente Roberto Smith, tem procurado investir na construção sustentável, apesar de pouco representativa para a instituição, mas que olha com interesse a movimentação do setor em relação ao PIB. A Caixa Econômica Federal, segundo Jean Benevides, gerente de meio ambiente, além de incorporar itens de eficiência energética e sustentabilidade em seus edifícios administrativos e agências, procura promover financiamentos em projetos habitacionais que valorizem aspectos de sustentabilidade - abastecimento de água, energia elétrica, coleta de lixo e transporte público.
Fonte: Valor Econômico - SP