Queixas sobre demora na entrega de imóveis comprados aumentam
Demora para entrega de casas na planta saltam 198% em três anos
01 de junho de 2011 - O número de reclamações sobre o setor imobiliário aumentou 198%, de 2007 para 2010, no banco de dados da seção Defesa do Consumidor do GLOBO. A demora na entrega dos imóveis novos é o principal alvo de queixas. Este ano a participação desse tipo de reclamação, em relação ao total de cartas sobre o setor, quadruplicou. São casos de consumidores que já contabilizam atraso até um ano e meio em relação ao prazo prometido para a entrega das sonhadas chaves da casa própria, informa a reportagem de Luciana Casemiro.
Quando o advogado Ricardo Alves comprou o apartamento, ainda na planta, num empreendimento da Klabin Segall em Botafogo, seus filhos gêmeos sequer haviam sido concebidos. Os meninos já têm dois anos e seis meses, a Klabin Segall já foi comprada pela Agre, que por sua vez foi encampada pela PDG, quase um ano se passou da data prevista de entrega e Alves ainda não pôs as mãos na chave do apartamento. “O contrato já prevê a possibilidade de seis meses de atraso, o que eu nem vou discutir, mas esse prazo terminou em fevereiro. Por esse atraso, além dos seis meses, a empresa deveria me pagar uma multa mensal. No contrato, no entanto, há uma cláusula, que já vi igual em outras construtoras, de que se houver habite-se não é preciso arcar com a multa. Conclusão: a PDG conseguiu o habite-se em março, mas não há condições de moradia. Isso é abusivo - queixa-se Alves, para quem o Ministério Público deveria fazer para as construtoras um recurso semelhante ao feito para sites de venda on-line”. Se não conseguem terminar as obras, as construtoras deveriam ser proibidas de fazer lançamentos.
A PDG informa que em janeiro de 2011 iniciou o processo de unificação das marcas de suas unidades, como CHL e Goldfarb, adquiridas em 2007, e Agre, comprada em 2010, e concentra todos os esforços na entrega dos empreendimentos lançados antes das aquisições. No primeiro trimestre deste ano, a PDG diz ter entregue 56% da meta para o semestre, que é de 15 mil unidades no país. Em relação ao empreendimento Etage, lançado em Botafogo pela Klabin Segall em 2007, a empresa informa que a assembleia de instalação do condomínio foi feita em 25 de maio e acrescenta que todas as questões contratuais relativas a multas serão honradas.
A entrega do empreendimento Ventura, em Niterói, da Living, empresa do grupo RJZ Cyrela, estava prevista para novembro de 2009, mas o atraso não é o maior problema dizem os compradores. Na vistoria do imóvel, Débora Roseira e seu marido Rodolfo Fernandes encontraram mármore quebrado, vidro trincado, porta do banheiro solta, erro de caimento no box etc. “O grosso foi consertado, mas, como iríamos fazer obra, decidimos receber logo. Mais sérios, no entanto, são os problemas nas áreas comuns, que vão de acabamento a projeto. Os corredores estão um horror, a área externa fica com poças, há paredes tortas, e as pessoas são obrigadas a andar pela mesma via dos carros, não há uma passagem alternativa. Além disso, cercaram o condomínio com grade, quando o projeto previa muro”, diz Débora, informando que os compradores planejam contratar um perito para avaliar a construção.
A Living informa que vem mantendo contato com os proprietários do Ventura para solucionar as questões pendentes, caso a caso. Especificamente sobre o caso de Débora e Fernandes, informa que o apartamento foi aprovado em 5 de maio e as chaves, entregues no dia 11, tendo o mármore sido trocado. O vidro, explica, será trocado após a reforma.
Manuel Martins Afonso conta que esperava mudar-se para seu apartamento no London Green, da Gafisa, na Barra da Tijuca, em abril de 2010. Ele quitou o imóvel de R$ 400 mil em dezembro do ano passado, mas no dia 7 de abril percebeu que faltavam vários itens, de vasos a rodapé, passando até pelo alizar.
A Gafisa esclarece que a alteração no cronograma de entrega dos empreendimentos em atraso - além do London Green há o Quintas do Pontal, no Recreio, a Torre Hill Valley e o Fit Residence, em Niterói - ocorreram por motivos alheios a seu controle, como chuvas acima da média e a escassez de mão de obra. A construtora reforça que tem sido transparente com os clientes sobre os processos ainda necessários e os novos prazos para a entrega das unidades. No caso de Afonso, informa que a entrega das chaves foi feita em 26 de maio.
Rogério Jonas Zylbersztajn, vice-presidente da RJZ Cyrela, empresa com mais reclamações do setor no cadastro desta seção, assume que realmente tem havido atraso na entrega das obras, mas destaca que não é uma questão isolada, e sim um problema do setor, que vive uma "crise do crescimento".
Fonte: O Globo