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Reação imobiliária nos EUA ainda exige cautela

Texto: Redação AECweb

As pessoas estão começando a comprar e vender casas de novo

31 de julho de 2009 - Todo mundo só fala sobre o fundo do poço. Após duas séries de dados surpreendentemente positivos, alguns analistas estão declarando que o mercado imobiliário dos EUA, que arrastou o mundo para a crise, parou de cair.

Os argumentos são respeitáveis. O preço das casas teve pequena alta, em maio, pela primeira vez desde que a bolha alimentada pelos financiamentos começou a murchar, três anos atrás. As pessoas estão começando a comprar e vender casas de novo, após meses em que os únicos imóveis trocando de mãos pareciam ser os retomados por falta de pagamento.

"Era como um avião mergulhando rumo ao solo. E agora parece que estamos puxando o manche com toda a força e ele está se nivelando", diz Ian Shepherdson, economista-chefe para os EUA da High Frequency Economics.

A enxurrada de casas novinhas em folha que ninguém queria está diminuindo. Esse tipo de casa ficava mercado, em média, quase um ano antes de ser comprada, mas no mês passado as vendas deram um salto de 11%, na mais forte alta mensal em nove anos. Os compradores são atraídos por taxas de financiamento baixas, preços reduzidos e créditos fiscais. "A bolha foi eliminada, e estamos em ascensão", disse John Silvia, economista-chefe para os EUA do Wachovia.
Apesar disso tudo, há muitas razões para cautela quanto a se ter chegado ao fundo do poço e não falta gente que afirme isso. A maioria destaca que, embora os preços tenham subido em maio, pelo índice da S&P/Case-Schiller ainda registram queda de 17,1% em relação ao mesmo mês de 2008.

Mas essa observação é um tanto irrelevante. Não se pode esperar uma volta aos níveis de 2008 (muito menos ao pico em 2006), pois a bolha explodiu. A demanda era puxada por financiamento habitacional barato, falta de critério na concessão deles e a convicção de que os preços continuariam em alta. nenhuma dessas condições persiste, ressalta Dean Baker, diretor do Centro de Pesquisas sobre Política Econômica: "Não há recuperação de preços após uma bolha no mercado habitacional".

Mas, terão os preços parado de cair? É difícil saber. Os preços das casas caíram 33% e estão agora aproximadamente no mesmo nível de 2003. Se compararmos os preços das moradias com as rendas após a dedução de impostos, verificamos que a a proporção é quase a mesma de 1999.

Shepherdson, porém, é cauteloso. "Parece razoável que possamos ter alguns meses de altas [nos preços], mas eu gostaria de ver evidências mais consistentes de que a relação preço/renda voltou a baixar até níveis sustentáveis", diz ele. "Eu certamente hesitaria bastante antes de afirmar que já enxugamos tanto quanto precisamos."

Economistas do Barclays Capital acham que os preços precisam cair 40% do pico ao vale, ou seja, há mais 7 pontos para sumir.

Um risco possível é que poucos meses de preços estáveis e um crescimento do número de transações poderiam estimular milhares de proprietários de casas a colocar seus imóveis no mercado. Essa "oferta oculta" de casas que as pessoas queriam vender, mas sequer tinham se dado ao trabalho de colocar no mercado possa atropelar a demanda em melhoria incipiente e derrubar os preços.

O quadro é muito irregular. Os recentes sinais de vida foram detectados no segmento mais barato do mercado, sendo que muitos dos empreendimentos de luxo construídos "em série" durante os anos de bolha continuam na prateleira.

Geograficamente, os problemas também se distribuem de um modo bastante desigual. Embora os preços tenham subido em 13 das 20 cidades contabilizadas no índice Case-Schiller, em outras cidades, como Las Vegas, Los Angeles e Phoenix, não há sinais de estabilização.

"Quem está nas Las Vegas deste mundo, não vê nenhuma recuperação" diz Silvia.

Fonte: Valor Econômico, 30/jul

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