Siderúrgicas terão aumento de 20% nos custos
Segundo Lakshmi Mittal, da ArcelorMittal, todos estão preocupados com a nova fórmula de reajuste de preços imposta pelas mineradoras
15 de abril de 2010 - Apesar da previsão de crescimento para o setor siderúrgico, a indústria está preocupada com o aumento de 100% do minério de ferro e ainda tenta negociar e fazer as contas sobre quanto deve ser repassado para o preço final do produto.
Segundo Flávio Azevedo, presidente do Instituto Aço Brasil (IABr), entidade que representa as siderúrgicas, as empresas estão negociando com fornecedores de minério e ainda não se sabe de quanto será o aumento. Mas as empresas já têm a conta pronta sobre o impacto no custo de produção: 20% a mais.
Enquanto esperava pela chegada do presidente Lula ao Congresso Brasileiro do Aço, o empresário Lakshmi Mittal, CEO da ArcelorMittal, maior grupo siderúrgico global, conversava com Jorge Gerdau, presidente do conselho de administração da Gerdau, sobre o momento delicado.
O empresário, dono da maior fortuna da Índia, disse que está preocupado com o aumento do preço do minério de ferro. "Todo mundo está preocupado com as novas regras e aumento de preço. Como li nos jornais, a maior parte das negociações do segundo trimestre estão fechadas. As companhias (mineradoras) não são flexíveis, querem aplicar fórmulas para o reajuste do preço", afirmou o empresário ao Estado.
A Gerdau negocia com a Vale o preço do minério de ferro, disse o presidente da companhia, André Gerdau Johannpeter. Segundo o empresário, a nova regra do mercado de minério, na qual os preços são negociados trimestralmente, já está em vigor. E o setor mostra grande preocupação com os aumentos de 100% no preço do minério.
Para Gerdau, o reajuste tão elevado é consequência da concentração no setor, já que três empresas têm 70% do mercado mundial. "Ainda não temos como prever de quanto será o aumento de preço do aço para construção, mas, por conta da pressão de custos, já estamos estudando o que vai acontecer (com o preço)", disse Gerdau.
Participação. Minério de ferro e carvão respondem, em média, por 50% do custo de produção das siderúrgicas. Prevendo as queixas que virão com o reajuste, Azevedo adotou um discurso defensivo. "Difícil não repassar uma parte desses 20% de aumento de custo para a cadeia como um todo", afirmou. No entanto, ele alerta para o fato de que, apesar do reajuste, não há motivo para preocupação quanto a possíveis impactos inflacionários. "Não aconteceriam grandes catástrofes do ponto de vista inflacionário", disse.
Uma das esperanças do setor é que o consumo interno cresça e diminua a ociosidade, que hoje é de 20%. O mercado doméstico absorve 80% da produção nacional e a indústria vê potencial.
A previsão até 2016 é que, com projetos como o Minha Casa, Minha Vida, Copa do Mundo, Olimpíada e os negócios em torno do pré-sal haja um aumento de consumo de 35 milhões de toneladas. De 2013 até 2016, a previsão é que o setor receba US$ 39,8 bilhões de investimentos em ampliações e novos projetos. A atual capacidade instalada é de 42 milhões de toneladas e, segundo o IABr, a produção neste ano deve chegar a 33,16 milhões de toneladas crescimento de 25,1% em relação a 2009.
No mercado nacional, os empresários acreditam que, de imediato, existe uma oportunidade a ser abocanhada com o avanço do programa habitacional do governo federal. Em fevereiro, o comando do IABr apresentou ao presidente Lula dados sobre o setor e falou da possibilidade de o aço brasileiro fazer parte dos projetos do programa. Na versão deste ano do Congresso Brasileiro do Aço, foram montadas casas construídas com aço. O principal argumento da indústria para emplacar a tecnologia é a redução do tempo de construção, que pode chegar a um mês deixando a obra mais barata.
Na abertura do Congresso, o presidente Lula acenou positivamente com o uso do aço para construção de casas. "Não sei quem determinou que a gente só pode fazer casas de concreto", disse. Ele pediu ao ministro das Cidades, Márcio Fortes, que faça estudos sobre essa possibilidade no programa Minha Casa, Minha Vida.
Fonte: O Estado de S. Paulo - SP