Sustentabilidade vira prioridade e requer profissional multidisciplinar
Haroldo Mattos de Lemos, coordenador do curso de pós-graduação "Gestão ambiental", da UFRJ, afirma que sustentabilidade é questão de sobrevivência
30 de novembro de 2011 - O meio ambiente não é reserva de mercado de carreira alguma. Ou seja, qualquer profissional pode se aprofundar no tema, afirma Haroldo Mattos de Lemos, coordenador do curso de pós-graduação "Gestão ambiental", ministrado pela Escola Politécnica da UFRJ em parceria com o Comitê Brasileiro do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Instituto Brasil PNUMA). Lemos, que preside o instituto, diz que o país evoluiu muito nos últimos anos, no que se refere ao desenvolvimento sustentável, mas ressalta que ainda há muito a ser feito - o que, inclusive, abre espaço para profissionais com pós-graduação na área ambiental, tanto no setor público como no privado.
Como o Brasil está evoluindo na questão do desenvolvimento sustentável?
HAROLDO MATTOS DE LEMOS: Houve uma mudança muito grande nos últimos anos. No fim dos anos 70 e início dos anos 80, a preocupação com meio ambiente era sinônimo de custo para as empresas. As indústrias só tomavam alguma providência, como instalar um filtro, quando eram realmente intimidadas por algum órgão ambiental. Mas, a partir de meados dos anos 80, elas começaram a enxergar que reduzir desperdícios também diminuía os gastos e aumentava a competitividade. E, desde 2000, a preocupação com o desenvolvimento sustentável só vem se fortalecendo.
Isso significa que estão surgindo cada vez mais trabalho, empregos, na área ambiental?
LEMOS: Sim. Sustentabilidade é hoje uma prioridade política. As indústrias estão criando e aumentando equipes que atuam na área de gestão ambiental e sustentabilidade.
Por que isso vem acontecendo?
LEMOS: Por uma combinação de fatores. Houve uma maior conscientização das empresas, que identificaram que preservar o meio ambiente também ajuda na redução de custos, além de estarem sendo cobradas por consumidores cada vez mais exigentes. O avanço da legislação, que está muito mais rígida na punição a crimes ambientais, também contribui para aumentar a prioridade da gestão ambiental. Quando se fala em sustentabilidade, fala-se em garantir a sobrevivência da humanidade no futuro com razoável qualidade de vida.
Como se qualificar para atuar na área?
LEMOS:A questão do meio ambiente chegou mais às universidades depois da Eco 92. A UFRJ começou a formar engenheiros ambientais há poucos anos e ainda não há nenhuma graduação em gestão ambiental, mas existem cursos de pós-graduação, que oferecem uma visão bem ampla e integrada do que é o setor. São aulas bastante voltadas para a prática e que oferecem boa base para quem quiser se aprofundar depois num mestrado ou doutorado.
Profissionais de quais formações podem estudar a área ambiental?
LEMOS: A demanda ainda é um pouco maior para engenheiros especializados em meio ambiente, mas a formação é multidisciplinar e procurada por graduados em direito, geografia, economia, jornalismo, biologia e outros. Meio ambiente não é privilégio de qualquer área.
Como organizar um curso para formações tão distintas?
LEMOS: No caso da pós-graduação que coordeno, da UFRJ em parceria com o Pnuma, no primeiro semestre, fazemos uma homogeneização de conhecimentos sobre química ambiental, ecodinâmica, estatística aplicada, poluição de água, ar e solo e desenvolvimento sustentável. No segundo semestre, as matérias passam a ser mais aplicadas à gestão ambiental, como, por exemplo, economia, direito, sensoriamento remoto, normas internacionais, políticas e planejamento ambiental.
Em que setores o gestor ambiental atua?
LEMOS: Existem três nichos principais de trabalho. O primeiro está no setor público. Órgãos como o Ministério do Meio Ambiente, o Ibama e o Inea, entre outros, têm aberto seleção para gestores ambientais. Na iniciativa privada, até mesmo os bancos já estão contratando pessoas para fazer análise de pedidos de licenciamento ambiental. O terceiro campo de atuação são consultorias, sejam em empresas ou de forma autônoma.
Meio ambiente e sustentabilidade tendem a continuar gerando oportunidades?
LEMOS: A tendência é evoluir muito, com o surgimento de novas tecnologias e campos de atuação. É, inclusive, uma área promissora para quem quer investir e mudar de rumos, o que foi o caso de muitos alunos que tive. Mas as pessoas não devem migrar para a área ambiental só porque está na moda e com oferta de vagas. Tem de gostar e querer se comprometer com nossa sobrevivência.
Além disso, que características deve ter a pessoa que deseja investir na área?
LEMOS: É fundamental saber que esta é uma área dinâmica, em constante evolução. Há dez anos, por exemplo, não existiam construções sustentáveis, perícia ambiental ou gestão industrial sustentável. Os setores foram sendo agregados à medida que a questão evoluiu e continuará sendo assim daqui pra frente.
O panorama de conscientização ambiental evoluiu, mas quais são as previsões para os próximos anos?
LEMOS: Se continuarmos trabalhando e consumindo as coisas da mesma forma como fazemos hoje, em 2050 a humanidade terá problemas seríssimos de disponibilidade de recursos naturais para atender às necessidades das futuras gerações. Muitas transformações ainda são necessárias. Temos que mudar a economia e os valores humanos para reduzir o desperdício e o consumo supérfluo. Além disso, os governos precisam planejar mais a longo prazo e as empresas, evoluir mais.
Fonte: O Globo