Temor de nova alta dos juros derruba ações de construtoras
Maiores empresas apresentam forte retração
14 de fevereiro de 2011 - O cenário para companhias brasileiras do setor de construção civil na Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros (BM&F Bovespa) ainda é incerto. As maiores empresas deste setor que fazem parte do Ibovespa, principal indicador da Bolsa, apresentam forte retração em seus papéis em 2011.
A maior queda é registrada pelas ações ordinárias (com direito a voto) da Cyrela Realty, com retração de 17,08% no ano. Nos últimos 12 meses, o papel vem apresentando queda de 18,47%. A segunda maior queda vem com as ações ON da Gafisa, com desvalorização de 16,45% no ano, e baixa ainda maior na soma dos últimos 12 meses (-23,03%).
Outra companhia que vê suas ações caírem em 2011 é a MRV Engenharia. No ano, o papel ON da empresa caiu 12,25%. Entretanto, no acumulado dos últimos 12 meses a ação vem se valorizando em 5,62%. Em 2011, a quarta maior queda vem sendo apresentada pelas ações ordinárias da Rossi Residencial, com retração de 14,06%. Em 12 meses, o papel registra queda de 7,54%.
Por fim, a PDG Realty apresenta o melhor desempenho entre as empresas do setor de construção no ano, porém, o papel também vem registrando desvalorização de 10,44%. Nos últimos 12 meses, a ação também tem a melhor valorização (+15,56%). Em 2011, o Ibovespa registra baixa de 5,88% e, em 12 meses, alta de 0,27%.
Para Ricardo Almeida, professor de finanças do Insper, essa é uma queda generalizada. "Os investidores estão esperando para ver como vai ficar o mercado após as medidas do Banco Central e o aumento da taxa de juros", diz.
Para o professor, o Brasil passa por um momento delicado, esperando sair os dados sobre a inflação. "Dependendo de como vier a inflação, pode ser que o Banco Central tenha que elevar ainda mais os juros. Isso acaba prejudicando o crédito", explica Almeida.
Durante o boom do mercado acionário brasileiro, em 2007, muitas empresas do setor foram acusadas de realizarem sua oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), sem ter estrutura suficiente para se manter. Com a chegada da crise financeira internacional, este foi um dos setores que mais se desvalorizaram com a forte saída do capital estrangeiro.
Assim que foi superado o pior momento da crise, os agentes de mercado passaram a acreditar na consolidação do setor. Este movimento até ocorreu, mas não como o mercado esperava.
No curto prazo, Almeida não vê sinais de melhoria para as ações do setor de construção. "O aumento da taxa de juros deve refletir diretamente nas construtoras, pois afeta a confiança do consumidor. Além das medidas anunciadas pelo BC, existe ainda o corte nos gastos públicos. Isso também afeta a confiança do consumidor brasileiro", afirma o professor de finanças do Insper.
Segundo boletim de operações da BM&F Bovespa, o Índice Imobiliário (Imob), registrou queda de 11,7% em janeiro.
De acordo com relatório da KPMG, o número de fusões e aquisições no setor de construção e produtos de construção atingiu seu recorde histórico, com 15 transações entre janeiro e dezembro de 2010. Na comparação com o ano anterior, o resultado é 150% maior, levando em consideração que em 2009 não foram realizados acordos do tipo.
Isso mostra que as companhias esperaram a economia brasileira se firmar, já que nos anos anteriores a consolidação não ocorreu. O estudo revela que o resultado de 2010 é muito superior ao dos últimos cinco anos. Em 2008, foram seis transações, em 2007, apenas três, em 2006, sete, e em 2005 foram 11.
Ainda segundo o relatório da KPMG, em 2010, foram sete transações domésticas realizadas (entre brasileiras), e seis lideradas por grupos estrangeiros adquirindo empresas brasileiras ou estrangeiras estabelecidas no Brasil. As demais operações foram registradas por brasileiras adquirindo estrangeiras (duas).
Por fim, o professor diz que os efeitos da economia brasileira podem desencadear um efeito em cadeia. "As ações de empresas do setor de consumo interno também já estão sofrendo com as notícias de inflação. Grandes empresas do setor já apresentam desvalorização em suas ações".
"Não posso dizer que as ações estão em ponto de compra, porque tudo ainda pode piorar. Temos que esperar pelo menos uns dois meses para saber", finaliza.
Fonte: DCI - SP