Como construir uma cisterna?
Parâmetros como o tipo de utilização da água, número de usuários, tamanho da área de captação e média histórica de chuvas da localidade são fundamentais para o dimensionamento. Enterradas ou na superfície, demandam boa vedação e impermeabilização.
Tecnologia milenar para armazenamento de água, cisternas podem ser feitas com fibra de vidro, alvenaria, polietileno, placas pré-moldadas e anéis de concreto. São muito importantes para comunidades com limitações de recursos hídricos. (Foto: Shutterstock)
A decisão de construir uma cisterna implica no levantamento prévio dos elementos disponíveis na propriedade ou edificação na qual será instalada, para compor o sistema de captação, armazenamento e manejo de água de chuva.
O tipo de utilização da água, a quantidade de usuários, a área de captação e o histórico de chuvas na região são parâmetros fundamentais para o dimensionamento.
Essencial para localidades rurais com limitações de recursos hídricos – caso do semiárido nordestino – tem sido cada vez mais utilizada também para garantir acesso à água a moradores em situação de vulnerabilidade nos grandes centros urbanos. Também têm sido empregadas como medida de precaução para condomínios, moradores e usuários de edificações preocupados com eventuais cortes das concessionárias de abastecimento.
Para tirar dúvidas sobre o assunto, o podcast AEC Responde convidou o engenheiro ambiental Benjamin Boudler, especialista em construção sustentável com experiência na execução e implantação de projetos de captação de água de chuva. Leia a entrevista na íntegra.
AEC Responde – Quais são os tipos de cisternas e quando são recomendadas?
Benjamin Boudler – Existem diversos tipos, que podem ser enterradas ou instaladas sobre o solo. Quando você faz uma cisterna enterrada, precisa garantir que a água dentro do reservatório não tenha contato com o meio externo. Você não pode deixar a água sair e nem deixar nada entrar. Ou seja, você precisa ter uma grande preocupação com a impermeabilização. E, quando ela está sobre o solo, você precisa ter algumas precauções por conta de intempéries e do sol. A incidência solar pode gerar algas dentro da água. Então, é necessário garantir que o reservatório esteja escuro, que não haja permeabilidade do sol dentro do reservatório. Basicamente, são esses dois tipos e você pode usar onde quiser: em residências, empresas, no telhado gigantesco de um galpão, num telhadinho pequeno de uma área de churrasqueira. Tudo vai depender do uso que pretende destinar para essa água.
Você precisa fazer um balanço da quantidade de água necessária para o consumo, o volume do reservatório e a área de captação disponível. Com esses três critérios, você consegue fazer o dimensionamento correto da cisternaBenjamin Boudler, engenheiro ambiental e especialista em construção sustentável
AEC Responde – Quais tipos de materiais são utilizados em cisternas?
Boudler – Temos cisternas de fibra de vidro, de alvenaria, com anéis de concreto e de polietileno, que são aquelas caixas azuis. Estão mais famosas hoje em dia, pois são boas e já vem com a questão da impermeabilização resolvida. É mais prático e seguro de trabalhar do que a fibra de vidro. O que realmente importa é que você tenha uma estrutura corretamente impermeabilizada que consiga reservar água, para não ceder ao longo do tempo. Então, se você tiver qualquer material capaz de atender todos esses critérios, consegue instalar a cisterna com tranquilidade.
As pessoas também perguntam: Como escolher o volume ideal da caixa d’água?
AEC Responde – Quais são os cuidados técnicos que os profissionais devem observar na construção ou instalação de uma cisterna?
Boudler – Quando se tratar de uma cisterna enterrada, por exemplo, você precisa garantir a estabilidade do que vai passar em cima dela, ou seja, de suportar as cargas existentes. Se você vai construir debaixo de uma via com passagem de caminhões ou de carros, precisa garantir que a via não irá ceder para dentro da sua cisterna. É um cuidado fundamental. Você precisa ter também uma relação do tamanho do telhado com a quantidade de chuva, com o volume da cisterna e o seu uso. Tem gente que planeja fazer uma cisterna de 15 mil litros sendo que um reservatório de 5 mil litros já atenderia plenamente a necessidade. Você precisa fazer esse balanço da quantidade de água necessária para o consumo, o volume do reservatório e a área de captação disponível. Considerando esses três critérios, você consegue fazer o dimensionamento correto da cisterna.
Se vai utilizar a água para vasos sanitários ou para a limpeza de pisos, precisa ter um pós-filtro para garantir a qualidade da água. Geralmente, trata-se de um filtro de membrana seguido por um outro de carvão ativado e uma desinfecção, que pode ser feita por um filtro ultravioleta ou cloroBenjamin Boudler, engenheiro ambiental e especialista em construção sustentável
AEC Responde – E como é que se garante a qualidade da água, dependendo do uso desejado?
Boudler – Você tem dois critérios para poder garantir uma boa qualidade da água. Primeiro, um pré-filtro onde você precisa garantir que a primeira água de chuva a cair no seu telhado não seja coletada. Em São Paulo, por exemplo, os dois primeiros milímetros de água, de cada evento de chuva, não devem ser recolhidos, porque são as águas mais sujas. Você ainda está limpando o telhado. Então, você tem que fazer um sistema de primeiro descarte ou um pré-filtro industrializado – nessa segunda opção, o custo sobe um pouco mais. Com um pré-filtro bem dimensionado, um filtro de folhas para garantir que elas não entrem dentro da sua cisterna, você já garante uma água reservada de qualidade. Agora, depois que você direcionou essa água para dentro de um reservatório, sem incidência solar e sem as sujeiras que você deixou de captar, você pode ter um pós-filtro. Aí depende do seu uso. Se vai utilizar para vaso sanitário ou para limpeza de piso, precisa ter um pós-filtro para garantir a qualidade da água. Geralmente, trata-se de um filtro de membrana seguido por um filtro de carvão ativado e uma desinfecção, que pode ser feita por um filtro ultravioleta ou um cloro. Existem outras tecnologias, mas essas são as mais usadas no mercado hoje em dia. Seguindo essa regra de pré-filtro e pós-filtro, você garante uma água de ótima qualidade.
AEC Responde – Inclusive água potável?
Boudler – Se você seguir as regras da Portaria 888 (procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade) do Ministério da Saúde, não consegue elevar o nível de água de chuva a um nível de potabilidade. Dito isso, temos regiões no País que não contam com fornecimento de água e as pessoas utilizam a água da chuva para tudo. Então, é uma questão que varia de acordo com o seu cenário. Se você tem água mineral para comprar ou água da concessionária, é melhor utilizá-la para coçção (cozimento) ou ingestão. Agora, se você está no meio de um lugar que não tem água, que não existe essa disponibilidade, aí sim, existem formas para deixar essa água segura para ser ingerida, mas você não vai atender aos níveis de potabilidade somente com a cisterna.
AEC Responde – Como deve ser feita a manutenção de uma cisterna?
Boudler – Quando você tem um telhado, deve providenciar a limpeza a cada seis meses. Em relação às calhas, é importante verificar pelo menos uma vez por mês, pois acumula muita sujeira. O seu pré-filtro, independentemente de qual seja, também deve ser verificado uma vez por mês, para checar se não há entupimento. O reservatório deve ser limpo a cada seis meses, o mesmo prazo recomendado para a limpeza da caixa d'água, que muita gente não cumpre. E, para os pós-filtros, cada um deles tem um período de uso. No caso de filtro de carvão ou de membrana, também é recomendável 6 meses para limpá-los ou trocá-los. Seguindo essas datas e regras, você consegue obter uma água de ótima qualidade e um sistema que vai durar por muitos anos.
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Colaboração técnica
- Benjamin Boudler – Engenheiro ambiental, especialista em construção sustentável com experiência em projetos e certificação LEED, manejo integrado de água, plano de gestão de resíduos, estudo de viabilidade ambiental, execução de projetos de captação de água de chuva e tratamento de efluentes. Auditor Líder ISO 14001 – Sistema de Gestão Ambiental e LEED Accredited Professional Building Design and Construction (BD+C).