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Como realizar inspeções de revestimentos de fachadas com drones?

Vistorias regulares podem identificar até sinais precoces de degradação, com variações térmicas sutis ou microfissuras que podem evoluir para problemas maiores no futuro

Publicado em: 27/08/2024

Texto: Eric Cozza

Drone realizando a inspeção de uma fachada de cimentoInspeções de revestimento de fachadas com drones não substituem a técnica convencional, mas permitem captar pontos de difícil acesso, com visão panorâmica. Termografia utiliza câmeras de infravermelho para detectar variações de temperatura nas superfícies (Imagens: Pixabay / IPT)


O uso de drones na construção civil tem sido cada vez mais comum. Desde a utilização para fins de marketing imobiliário, com a produção de imagens aéreas, passando por segurança e gestão de materiais, levantamento fotográfico e mapeamento 3D, até diferentes tipos de inspeções e monitoramentos.

Nas fachadas das edificações, a aplicação dos drones possui enorme potencial. Afinal, o método convencional de inspeção exige o deslocamento de um profissional até os pontos a serem analisados com o uso, por exemplo, de balancins elétricos – um procedimento sempre trabalhoso, demorado, caro e que exige forte preocupação com a segurança.

Mas como é realizada a inspeção das fachadas com drones? Quais são os equipamentos utilizados? O que é e como funciona a técnica da termografia?

Para tirar essas dúvidas, nós convidamos para o Podcast AEC Responde o engenheiro civil Alexandre Cordeiro dos Santos, pesquisador do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo).

Ouça o áudio na íntegra e/ou leia entrevista, a seguir.

AECweb – Como são realizadas inspeções de revestimentos de fachadas com o uso de drones?

Alexandre Cordeiro dos Santos – Em primeiro lugar, vale destacar que as inspeções de revestimento de fachadas com drones não substituem totalmente a técnica convencional, com o uso do balancim. São, entretanto, ferramentas fundamentais, que têm auxiliado muito na avaliação prévia do estado de conservação de uma fachada e no apoio à inspeção. É importante contar com um profissional preparado e com a ferramenta adequada, que permitirá, por exemplo, mapear pontos de difícil acesso. No IPT, para diagnósticos de patologias de fachadas, utilizamos drones equipados com câmeras de alta resolução, 4K, para captura de imagens detalhadas da superfície. É um processo que envolve planejamento prévio, análise de projetos e do entorno para ter uma ideia do objeto que será examinado. Envolve uma estratégia para identificar os pontos que serão alvos da inspeção, garantindo que seja seguida uma trajetória específica. Dessa forma, é possível cobrir todas as áreas necessárias. O fato de voar e ficar muito próximo da superfície permite uma análise abrangente do estado do revestimento. Hoje existem câmeras capazes de captar imagens RGB e também as infravermelhas, sem a necessidade de descer e trocar o equipamento.

AECweb – O que é a técnica da termografia? Como detecta anomalias como fissuras, descolamento de revestimento cerâmico ou falta de argamassa nas juntas?

Santos – É uma técnica que utiliza câmeras de infravermelho para detectar variações de temperatura nas superfícies. No contexto das inspeções com o drone, é aplicada para identificar anomalias invisíveis ao olho nu como, por exemplo, fissuras, descolamento dos revestimentos cerâmicos e a falta de argamassa nas juntas da fachada. Basicamente, quando o fluxo de calor é interrompido na fachada, existe ali uma perturbação dessas temperaturas. Isso gera uma distribuição irregular das temperaturas superficiais e, com isso, consegue-se destacar anomalias naquela região como, por exemplo, a presença de fissuras.

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AECweb – Após a captação das imagens e dados, como é realizado o trabalho de análise e caracterização de eventuais manifestações patológicas?

Santos – Vai depender muito do foco da inspeção, do tipo de drone que está sendo utilizado e da abordagem necessária. No caso de manifestações patológicas, no IPT, fazemos uma análise das imagens térmicas com um software específico, o FLIR, para fazer um ajuste das paletas de cores e conseguir avaliar melhor a região analisada na imagem. Às vezes, uma paleta de cor é capaz de evidenciar mais uma fissura, então, fazemos ajustes nesse sentido. Existem outros softwares avançados, por exemplo, para fazer modelagem 3D, a partir da captação de todas as faces de uma fachada. Nesses casos, é possível estudar melhor a volumetria do edifício, conseguir visualizar a interação dos pilares, da alvenaria e das janelas. O software ajuda a destacar as áreas nas quais o fluxo de calor é diferente, em função do tipo de material ali existente.

AECweb – É possível atuar também com diagnóstico preventivo, ou seja, antecipar o aparecimento das patologias em edificações que ainda não tem anomalias detectadas?

Santos – Sim. Quando bem executada, a utilização de drones com termografia permite realizar diagnósticos preventivos nas edificações. É uma abordagem proativa e uma prática importante para a manutenção predial. Mesmo em edifícios que ainda não apresentam anomalias visíveis, as inspeções regulares com drones podem identificar sinais precoces de degradação, com variações térmicas sutis ou microfissuras que podem evoluir para problemas maiores no futuro. Dessa forma, conseguimos realizar intervenções preventivas, o que minimiza custos e evita o comprometimento da segurança dos usuários – caso, por exemplo, de acidentes com desplacamentos de revestimentos de fachadas, que acabam caindo sobre os pedestres nas calçadas. Acredito que o drone, mesmo ainda sendo uma ferramenta em desenvolvimento, possui enorme potencial para o diagnóstico preventivo, permitindo uma intervenção rápida, menos custosa e capaz de aumentar a segurança dos usuários da edificação.

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Colaboração técnica

Alexandre Cordeiro dos Santos – Engenheiro civil com mestrado em Habitação: Planejamento e Tecnologia, pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). É pesquisador do Laboratório de Materiais para Produtos de Construção (LMPC) do IPT, onde atua em projetos de pesquisa e serviços tecnológicos, como ensaios de caracterização e desempenho de materiais e sistemas de revestimentos aderidos; diagnóstico de manifestações patológicas em edificações, patrimônio histórico edificado, hospitais e indústrias; simulações higrotérmicas (transporte de umidade em materiais) e impressão 3D na construção civil.