menu-iconPortal AECweb

O que é LOD em um projeto BIM?

Sigla em inglês para nível de desenvolvimento, ainda é visto por muitos somente como indicação do grau de detalhamento geométrico. Especialista chama a atenção para a confiabilidade das informações que constam em cada objeto inserido no modelo

Publicado em: 01/07/2024

Texto: Eric Cozza

Infográfico detalhando o que é LOD em um projeto BIMLOD deve levar em consideração não apenas o nível de detalhamento, mas também a confiabilidade das informações presentes nos objetos ou elementos que constam do modelo. Novo conceito, o Level of Information Need (LoIN) tem como prioridade o acesso à quantidade adequada de informação no momento certo, sem sobrecarregar o modelo com dados desnecessários (Imagem: Cozza Comunicação) 


Você já ouviu falar em LOD 100, 300 ou 500 para modelagens BIM na construção civil? Sigla para level of development ou, em português, nível de desenvolvimento, tem sido muito utilizado, por exemplo, na definição do escopo de contratação de serviços de modelagem BIM realizados por terceiros.

Eventuais equívocos de detalhamento, ou seja, quando o LOD não corresponde ao que foi especificado no Plano de Execução BIM (PEB), costumam dificultar, por exemplo, a extração de informações relevantes, tais como os quantitativos necessários para a preparação dos orçamentos de obras.

Mas, afinal, o que é o LOD e como devem ser utilizados os diferentes níveis? Para nos explicar do que se trata, convidamos para o Podcast AEC Responde o professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e um dos maiores especialistas brasileiros em BIM, Eduardo Toledo.

Ouça o áudio na íntegra e/ou leia entrevista, a seguir.

AECweb – O que significa LOD e como está relacionado aos elementos de modelagem em BIM?

Eduardo Toledo – Existe uma certa confusão. Você mencionou o LOD como level of development, que está correto. Mas, antes disso, havia um outro significado, que era o level of detail ou nível de detalhe. E as pessoas começaram a associar esses níveis de LOD com o detalhamento geométrico dos elementos. Houve uma evolução conceitual e chegamos ao nível de desenvolvimento, no qual não se está tão interessado no detalhamento geométrico, mas sim na confiabilidade da informação presente no objeto inserido no modelo. Uma das grandes diferenças entre o CAD e o BIM é a possibilidade de trazer objetos de bibliotecas e inserir no modelo. Quando faço isso, estou carregando uma quantidade enorme de informações, muito além da própria geometria. E nem sempre essas informações que estão naquele objeto foram validadas. Muitas vezes, peguei um elemento qualquer ali, naquele momento, e funcionou bem. Está, mais ou menos, no tamanho que eu quero, mas ainda não examinei todos os detalhes internos das especificações para ver se atende. Em resumo: o level of development está relacionado com a informação que pode sair do modelo e sua confiabilidade.

AECweb – Por que o LOD costuma ser utilizado na definição do escopo de contratação de serviços de modelagem BIM? É uma prática adequada?

Toledo – Acho que as pessoas ainda pensam no BIM de forma muito visual, no detalhamento geométrico. Afinal, é o que enxergamos diretamente. Sempre vemos aquele modelo bonito, que gira em diversos ângulos. Mas não estamos enxergando ali toda a informação presente no modelo, que é muito mais importante. A geometria, de fato, é relevante para alguns usos do BIM como, por exemplo, a detecção de interferências (clash detections) ou a extração de um quantitativo. Mas há dezenas de outros usos de BIM que não utilizam a geometria, mas precisam, na verdade, de uma determinada informação. Os contratantes costumam ter dificuldade de especificar quais são os requisitos de informação. Muitas vezes, simplesmente, especificam lá um nível de LOD e acham que é suficiente. Esse é um problema que nós temos no mercado hoje. Os projetistas reclamam que o cliente não diz o que quer, ou seja, não informa o que precisa. E o cliente reclama que o projetista não colocou no modelo a informação que ele queria.

AECweb – Quando e como devem ser utilizados os diferentes níveis de detalhamento, começando do 100 até o 500?

Toledo – Existem diversos padrões e classificações de LOD em todo o mundo. Vou falar do que utilizamos mais no Brasil, que foi desenvolvido pelo BIM Forum, nos Estados Unidos, e vai de 100 a 500. O nível 100 é quase simbólico. Não há muita preocupação com a geometria. Há uma representação visual, que não necessariamente precisa manter uma relação com o objeto e a forma que representa. Mas pode conter informações. Há quem diga que não serve para nada, o que não é verdade. Podemos colocar uma série de informações dentro desse objeto que, posteriormente, serão úteis para o desenvolvimento do projeto. O nível 200 já incorpora geometria. Conseguimos reconhecer o tipo de objeto que representa pela sua forma, porém as dimensões ainda são aproximadas. Não podemos nos basear nas dimensões desse objeto para tomar decisões de compra, por exemplo. A confiabilidade, nesse sentido, vai surgir no nível 300. É por isso que a maioria dos clientes pede LOD 300. Aí, sim, os objetos têm tamanho e forma, um posicionamento já bem definido e confiável. Temos também o nível 350, que é muito importante pois, além de modelar com as dimensões efetivas dos objetos, permite avaliar as interfaces com outros sistemas. Por exemplo, um elemento que deve ser parafusado em outro ou prever entradas e saídas de alimentação de água ou energia elétrica. No LOD 400, já se detalha tudo, porque é o nível chamado de fabricação. No caso, por exemplo, de uma parede drywall, são modeladas placas, montantes, guias etc. No caso de uma estrutura de concreto com LOD 400, temos que pensar, inclusive, nas armaduras. Já o LOD 500 não está mais relacionado à geometria, mas com o as-built, ou seja, com aquele elemento que foi confirmado no canteiro, construído daquela maneira, naquela posição e com aquelas dimensões. E, se for um produto instalado, deverá ter marca e o modelo exato. Vai conter, portanto, informações que coincidem com o real.

As pessoas também perguntam:

O que é uma biblioteca BIM?

AECweb – Equívocos de detalhamento, ou seja, LOD que não corresponde ao que foi especificado no Plano de Execução BIM (PEB) são comuns? Por que acontecem e quais são as eventuais consequências?

Toledo – É possível errar para mais ou para menos. Em geral, as pessoas erram para mais. O cliente ouviu falar de LOD 500 e solicita, sem saber direito do que se trata, o que considera ser o máximo. Vale lembrar que o conceito de LOD é aplicado a objetos específicos ou, no máximo, a determinados tipos de objetos. Ou seja, dentro de um modelo BIM, posso ter elementos em diferentes níveis de LOD. Não existe um LOD do modelo como um todo. Há, portanto o risco de pedir mais do que, de fato, é necessário. De outro lado, se o profissional solicitar menos do que precisa, haverá problemas. Não será possível executar ou extrair informação confiável do modelo. No caso de pedir a mais, o modelo vai ficar pesado e, principalmente, mais caro para quem está pedindo.

AECweb – Já existe alguma evolução em relação ao conceito do LOD?

Toledo – Está cada vez mais em voga o chamado level of information need (LoIN), que consta na ISO 19650, uma norma importante de gerenciamento do processo BIM. Expande muito mais esse conceito de que não importa só a geometria, mas informações e os parâmetros. Introduz, inclusive, um elemento extra, que é a documentação. Afinal, nem tudo está no objeto. Não dá para colocar um manual de manutenção do equipamento de ar-condicionado dentro do modelo, assim como algumas especificações que precisam de gráficos, ilustrações etc. Isso pode estar associado a um PDF e, no modelo, você tem um link para aquela documentação. É uma novidade dessa norma. O texto diz, explicitamente, que um dos objetivos é evitar o excesso de informações, ou seja, não cometer o erro de pedir mais do que o necessário. Como defino isso? Estabelecendo quais são os usos do modelo, ou seja, os requisitos de informação, de fato, necessários. Espero que o mercado siga esse caminho do LoIN e, aos poucos, deixe o LOD de lado.

AEC Responde

Envie sua dúvida técnica sobre construção, engenharia civil e arquitetura

Colaboração técnica

Eduardo Toledo – Engenheiro, mestre e doutor em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Professor da Poli-USP e vice coordenador do Mestrado Profissional em Inovação na Construção Civil. É relator do GT Objetos BIM da Comissão Especial de Estudos sobre BIM (CEE-134) da ABNT. Diretor das entidades internacionais ISGG, ISCCBE e CIB. Fundador e membro do Conselho Consultivo do BIM Fórum Brasil. Especialista do Comitê Estratégico BIM do Governo Federal.