O que é laje plana?
Eliminar ou reduzir substancialmente a quantidade de vigas é a principal característica desse sistema. E, caso existam, tais peças devem estar embutidas dentro do concreto, na mesma espessura da laje. Assim, é possível reduzir o pé-direito dos andares
Em meados da década de 1990, a protensão em edifícios começou a ser empregada em maior escala no Brasil. O sistema de monocordoalhas não aderentes ajudou a viabilizar a tecnologia no mercado imobiliário. Vale lembrar que lajes planas demandam alguns cuidados técnicos, principalmente com a punção (Imagem: Shutterstock)
Uma das principais vantagens da utilização de lajes planas em edifícios é eliminar a necessidade de vigas e, portanto, reduzir a altura da edificação e o número de pilares, abrindo espaço para as instalações e maior liberdade para a arquitetura.
Os vãos livres também costumam ser apreciados por usuários de diferentes tipos de edificações, especialmente os prédios corporativos. Há outros benefícios envolvidos, como a eventual redução dos custos de fundações, por conta da diminuição do peso da estrutura e a simplificação no processo de execução de fôrmas. Mas como trabalhar com esse tipo de sistema?
Para nos ajudar a entender o que são as lajes planas e quais são os cuidados necessários no projeto e execução, convidamos para o podcast AEC Responde o engenheiro civil Leonardo Braga Passos, mestre em engenharia de estruturas pela Universidade Federal de Minas Gerais e sócio-diretor da PI Engenharia e Consultoria. Ele também é vice-presidente de tecnologia e qualidade da Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural (ABECE). Confira, a seguir, a entrevista.
AECweb – O que é uma laje plana? E o que caracteriza esse sistema estrutural?
Leonardo Braga Passos – Como o próprio nome diz, é uma laje lisa. Mas vale lembrar que a laje nervurada, por exemplo, é um sistema de laje plana. O importante é que se reduza a quantidade de vigas na estrutura e que, quando existam, sejam embutidas dentro do concreto, na mesma espessura da laje. Algumas lajes lisas podem ter ali um aumento de seção, por exemplo, na região do pilar, que denominamos capitel. Na minha opinião, isso já é uma laje cogumelo. Esse capitel permite, ao invés de aumentarmos a espessura da laje, ampliarmos apenas na região do apoio do pilar. Portanto, a laje plana, seja nervurada ou totalmente lisa, é aquela que não possui nenhum tipo de elemento adicional: tudo fica embutido. Temos utilizado esse sistema para ganhar mais pavimentos nos edifícios, reduzindo o pé-direito, não apenas nos prédios comerciais, mas também nos residenciais, além de casas com vãos mais extensos, onde temos um desafio arquitetônico um pouco maior. Trata- se de uma estrutura na qual eu não preciso de um alinhamento dos pilares. Mas esse tipo de sistema demanda alguns cuidados, principalmente com a punção. Porque é como se fosse uma folhinha apoiada sobre um alfinete (o pilar). Se solicitarmos demais essa folha, ela tem a tendência de rasgar. No dimensionamento de uma estrutura desse porte, em laje plana, um dos principais cuidados é com a punção.
“Vale lembrar que a laje plana, por não ter vigamento, demanda alguns cuidados do ponto de vista da estabilidade global da edificação, em maiores alturas. Mas isso não impede, de maneira alguma, o dimensionamento dessas estruturas para edifícios altos”Eng. Leonardo Braga Passos
AECweb – Toda laje plana é, necessariamente, protendida?
Passos – Não. A laje plana pode ser também apenas em concreto armado, com armadura passiva. Em Belo Horizonte, nas décadas de 1960 e 1970, se utilizou muito esse sistema para atender algumas demandas arquitetônicas. Naquela época, o custo se viabilizava. Depois de um tempo, o preço do material começou a subir muito e a utilização se tornou inviável. Em meados da década de 1990, começou se utilizar o sistema de protensão em edifícios no Brasil. A tecnologia de protensão por monocordoalhas não aderentes voltou a viabilizar o sistema. Vale lembrar que a laje plana, por não ter vigamento, demanda alguns cuidados do ponto de vista da estabilidade global da edificação, em maiores alturas. Mas isso não impede, de maneira alguma, o dimensionamento dessas estruturas para edifícios altos. Temos feito bastante. Os engenheiros estruturais no Brasil estão utilizando muito o sistema de protensão, com lajes planas, em prédios altos. Mas, voltando à pergunta: a laje plana não é, necessariamente, protendida. Pode ser utilizada nos dois sistemas.
“O sistema não aderente, por ser monocordoalha, proporcionou a execução da protensão em casas, edifícios multifamiliares ou comerciais de uma forma mais simplificada”Eng. Leonardo Braga Passos
AECweb – Qual é a diferença entre os sistemas de protensão aderente e não aderente?
Passos – É importante entender dois conceitos: pré-tração e pós-tração. A pré-tração é quando utilizamos, por exemplo, estruturas pré-fabricadas. Você tem ali os cabos que são tensionados antes da concretagem. A ancoragem no concreto é por aderência. Temos uma redução do canteiro de obra, uma agilidade muito grande de fabricação e de montagem. A desvantagem é a necessidade de um investimento maior. E tem a questão do custo de transporte e de montagem. No caso da pós-tração, o tensionamento dos cabos é realizado após o concreto ter atingido a resistência mínima indicada no projeto. Aqui, temos dois tipos: a aderente e a não aderente. Quando vou trabalhar com aderente, eu tenho cabos inseridos dentro de uma bainha metálica. Ali é injetada nata de cimento logo após a protensão, para que seja criada a aderência. No caso da não aderente, as cordoalhas são envolvidas por uma camada de graxa e uma bainha de polietileno, uma monocordoalha engraxada, totalmente solta, fixada apenas nas bordas, nas regiões de ancoragem. É por isso que é chamada de não aderente. Você tem ali o sistema todo de base, nos cantos da estrutura, mas ao longo de todo o comprimento do elemento estrutural, ele está totalmente livre. Quais são as vantagens? Na protensão não aderente, trabalhamos com um macaco simples para puxar a cordoalha. Na aderente, é um equipamento maior, principalmente em pontes e viadutos. O sistema não aderente, por ser monocordoalha, proporcionou a execução da protensão em casas, edifícios multifamiliares ou comerciais de uma forma mais simplificada.
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AECweb – O que são as vigas de borda e como podem ser incorporadas ao sistema estrutural de laje plana?
Passos – Podemos utilizar a viga de borda por alguns motivos. Do ponto de vista de um prédio de maior altura, gostamos de utilizar essas vigas, porque oferecem um pouco mais de rigidez, uma estabilidade global melhor no edifício. Uma outra função: quando temos pilares de bordo, em alguns casos, essa viga cumpre o papel de amenizar a punção. As vigas estão armadas quanto ao cisalhamento, então, podemos utilizar para isso também. E do ponto de vista arquitetônico e construtivo, quando você tem uma fachada com vidros e janelas, essas vigas também vão ajudar a evitar a necessidade de uma verga. Você elimina mais um sistema – mas, claro, desde que isso esteja casado com a arquitetura, a geometria e toda a volumetria do edifício.
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Colaboração técnica
- Leonardo Braga Passos - Engenheiro civil pela FUMEC. Mestre em engenharia de estruturas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Sócio-diretor da PI ENGENHARIA, com experiência de 18 anos em projetos estruturais (concreto armado e protendido, metálica, alvenaria estrutural), ensaios (GPR, ultrassom, tomografia, prova de carga, dentre outros) e consultoria em engenharia de estruturas. Vice-presidente de tecnologia e qualidade da Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural (ABECE).