O que é o sistema construtivo de parede de concreto?
Estrutura e vedação de concreto armado formam um elemento único, monolítico, moldado no local. Método integra processos e elimina etapas, mas exige planejamento e pré-engenharia
O sistema construtivo de parede de concreto ganhou escala e visibilidade na construção civil brasileira, principalmente a partir de 2009, com a criação do programa habitacional Minha Casa Minha Vida. O desenvolvimento da norma ABNT NBR 16055 – Parede de concreto moldada no local para a construção de edificações – Requisitos e procedimentos, em 2012, também ajudou a impulsionar a solução, criando uma referência técnica para toda a cadeia de projeto e execução.
E se o método construtivo ganhou corpo no segmento de habitação popular, com obras de casas e edifícios baixos, a realidade tem se alterado de forma significativa, com a adoção, cada vez maior, da tecnologia também para prédios altos.
Para nos ajudar a compreender melhor o assunto, as vantagens e também os cuidados necessários com esse sistema construtivo, nós convidamos para o podcast AEC Responde o Eng. Ary Fonseca Jr., sócio-diretor da Signo Engenharia de Processos, que fundou, em 2006, o Núcleo Parede de Concreto, em parceria com outras empresas e entidades.
Confira abaixo a entrevista.
AECweb Responde – O que é e o que caracteriza o sistema parede de concreto?
Ary Fonseca Jr. – É uma tecnologia que proporciona a construção de forma integrada. Estamos falando em um sistema monolítico no qual se executam, ao mesmo tempo, pilares, vigas e lajes. Isso proporciona um diferencial em relação aos métodos tradicionais: integração das etapas e maior eficiência da edificação a ser construída.
AECweb Responde – Não há, portanto, vedação sem função estrutural. A própria parede de concreto cumpre as duas atribuições.
Fonseca Jr. – Exatamente. Pelo fato de ser monolítico, estamos executando tudo ao mesmo tempo e, assim, eliminando algumas etapas do processo, principalmente as vedações. Quando você retira as fôrmas, que são predominantemente de alumínio, já dispõe de um ambiente e de uma geometria melhores do que no sistema tradicional. E as vedações acabam sendo incorporadas a esse processo. Trata-se, na minha leitura, de um ganho expressivo. Ao desenformar, estará praticamente pronto o chassi da sua estrutura, preparada para receber os demais subsistemas. É importante lembrar que na concretagem, ou seja, na execução da estrutura, todas as instalações, principalmente as elétricas, estarão embutidas dentro das paredes e da laje do ambiente. Também é um ganho importante para a racionalização do processo.
AECweb Responde – O senhor mencionou as instalações e as fôrmas. Quais são os principais componentes do sistema?
Fonseca Jr. – As fôrmas de alumínio são um componente importante. Por serem rígidas, vão nos proporcionar a geometria correta e a dimensão adequada dos ambientes. E, quando da concretagem e da desforma, permitem manter um rigor muito grande em termos de planicidade e prumo. Isso possibilita a diminuição de duas coisas que incomodam muita gente na construção civil: o desperdício e o retrabalho. É uma característica forte da tecnologia. Não é um sistema totalmente industrializado, mas é muito racionalizado. Permite que os demais subsistemas tenham uma conotação industrial, por exemplo, quando acoplo um sistema elétrico: as mangueiras e as caixas já chegam ao canteiro de uma forma bem industrializada, com a garantia da geometria e das medidas corretas. Falando também de portas e janelas, quando da colocação desses materiais, tenho no processo da parede a garantia dimensional dos vãos.
AECweb Responde – E o concreto – fala-se muito no autoadensável – e as telas soldadas? São componentes importantes?
Fonseca Jr. – Se colocarmos os principais insumos em uma curva ABC, o concreto e o aço têm relevância muito alta. Quando um sistema é bem racionalizado, a execução é muito facilitada. Para isso, entretanto, eu devo ter atenção aos componentes. E hoje verificamos que o concreto autoadensável se adapta muito bem ao processo. Trata-se de um produto de alta tecnologia, que vai facilitar o lançamento e aumentar a produtividade. Porque elimino o adensamento e a necessidade de utilização de vibradores para o concreto, o que ajuda a manter a fôrma por uma longa vida útil. E as telas soldadas também são relevantes. Importante contemplar no projeto estrutural para que elas já cheguem ao canteiro dentro de uma dimensão pré-determinada. Isso facilita muito o processo de corte das telas, melhora o manuseio e reduz o desperdício. O concreto autoadensável e as telas soldadas são componentes fundamentais para garantir a eficiência do sistema.
AECweb Responde – Para uma construtora que está começando agora, entrando em contato com o sistema pela primeira vez, quais são os principais cuidados de projeto e execução?
Fonseca Jr. – Nós iniciamos a utilização em larga escala do sistema após a promulgação da norma técnica, em 2012. Percebemos hoje, até por conta do volume de unidades executadas, que o sistema pode contribuir muito para a eficiência do negócio das construtoras. Então, é importante que ele não seja utilizado e nem visto de maneira estanque, isolada. Tem que ser incorporado ao negócio. Deve-se pensar e praticar a engenharia de maneira prévia e integrada. Não podemos esperar eficiência com uma engenharia fracionada. A pré-engenharia nos ajuda a entender o negócio, o prazo da obra, o produto que vai ser colocado e a logística envolvida. Isso é fundamental. Fazer um estudo prévio antes de começar a obra é imprescindível. Você não vai conseguir os resultados se implantar o sistema de maneira fracionada.
AECweb Responde – O sistema avançou muito, incialmente, em obras do segmento econômico. Agora tem sido bastante utilizado em edifícios altos. Por quê?
Fonseca Jr. – O despertar para o uso do sistema surgiu com um programa habitacional em 2009, quando se buscava a construção de unidades em grande escala e em pouco tempo. O produto avançou muito, principalmente em empreendimentos horizontais, casas e prédios baixos. Agora, houve uma mudança nesse programa e o subsídio diminuiu de maneira expressiva. A legislação foi alterada e, por consequência, o mercado se modificou. Houve a necessidade de as empresas enxergarem o próprio negócio de outra maneira. Se, em um primeiro momento, executávamos empreendimentos horizontais em grande escala, agora percebemos uma mudança no modelo do negócio, com a necessidade da construção de prédios nas regiões mais adensadas, onde preciso verticalizar. E o sistema, sem dúvida, acabou ocupando um espaço de eficiência também para os edifícios mais altos. O próprio negócio exigiu a verticalização. Então, vivemos um boom nos últimos dois anos em todo o Brasil. Por conta da minha atividade profissional, eu viajo pelo País inteiro. Em toda cidade que visito, já observo a utilização do sistema e o interesse das empresas na busca pela tecnologia. Eu friso bastante, entretanto, que o sistema só terá resultado, uma boa performance, se estiver atrelado ao negócio. Não é simplesmente um modismo. Não é fazer porque é legal ou porque todo mundo está fazendo. E repito: a pré-engenharia e o planejamento prévio são fundamentais. Ninguém consegue preparar um carro competitivo para uma corrida, iniciando o desenvolvimento uma semana antes da prova. A engenharia tem que ser trabalhada de maneira integrada: o projeto, os fornecedores, os insumos, a gestão e a logística. Aí, sim, passa a ser uma boa opção. Não resolve todas as situações, mas se tudo for pensado de maneira integrada, inclusive o produto e a arquitetura, certamente terá um desempenho diferenciado.
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Colaboração técnica
- Ary Fonseca Jr. – Graduado em engenharia civil com pós-graduação em engenharia de produção da construção civil (Fundação Vanzolini), gestão de negócios (Fundação Getúlio Vargas) e MBA executivo em gestão estratégica e administração (Ensead – Fundação Dom Cabral). Sócio-diretor da Signo Engenharia de Processos, atuou em grandes companhias e entidades, tais como Usiminas, Acesita, Companhia Siderúrgica Tubarão, Método Engenharia e ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland). É fundador e coordenador do Núcleo Parede de Concreto.