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O que são as FVS na construção civil?

Eficiência das fichas de verificação de serviço depende de uma boa definição dos procedimentos a serem controlados, da rotina adequada de inspeção e do modelo de registro da vistoria

Publicado em: 02/08/2022

Texto: Eric Cozza

engenheira analisa um tablet em um canteiro de obras
Detectar problemas de execução e retrabalhos, medir a produtividade e perdas, verificar a qualidade dos materiais e fornecedores, checar prazos e serviços conflitantes, avaliar e repensar tecnologias e sistemas construtivos são algumas das vantagens do uso adequado das FVS (Foto: Shutterstock)

Já ouvir falar na sigla FVS na construção civil? O Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat, o PBQP-H, estabelece que alguns serviços sejam controlados dentro de uma obra de edificação. É recomendado que, para cada um deles, haja uma Ficha de Verificação de Serviço (FVS).

Essas fichas ajudam a verificar se os padrões de qualidade exigidos pelas normas técnicas, pelos clientes e pela própria construtora estão sendo seguidos durante a execução de uma obra.

Para nos ajudar a entender melhor o assunto, o convidado do podcast AEC Responde é o Eng. Marco Guerra. Sócio-diretor da MGUERRA Engenharia, ele é professor convidado nos cursos de mestrado profissional do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo) e de pós-graduação da Universidade Mackenzie. Também é autor do livro “Sistema de Gestão Integrada em Construtoras de Edifícios”. Confira abaixo a entrevista na íntegra.

AEC Responde – O que são e para que servem as fichas de verificação de serviços (FVS) na construção civil?

Marco Guerra – Trata-se de um formulário utilizado no processo de controle da qualidade e de liberação dos serviços em obras. Pode ter outros nomes similares como, por exemplo, relatório de inspeção de serviços. Vem para cumprir uma determinação do regimento do Siac (Sistema de Avaliação da Conformidade de Empresas de Serviços e Obras da Construção Civil) no PBPQ-H. Uma certificação que os bancos exigem para a concessão de crédito para empreendimentos, principalmente residenciais, quando se utilizam recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) ou da caderneta de poupança, para financiar a produção das obras. Também há grandes contratantes públicos e privados que exigem.

A FVS descreve o procedimento de inspeção: indica de que forma o serviço vai ser vistoriado, qual a amostra, os lotes, de que maneira vai ser liberado, quais são as etapas, o roteiro de verificação, os equipamentos de medição a serem utilizados na conferência, os desvios e as tolerâncias para o recebimento
Eng. Marco Guerra, sócio-diretor da MGUERRA Engenharia e autor do livro “Sistema de Gestão Integrada em Construtoras de Edifícios

AEC Responde – Então, no âmbito do PBQP-H, as construtoras são obrigadas a preencher?

Marco Guerra – Sim, para cumprir uma exigência que você precisa evidenciar. O PBPQ-H traz uma relação mínima de serviços controlados, para os quais você tem que possuir, além dos procedimentos de execução, também os de inspeção e evidenciar que você está realizando as vistorias planejadas. A FVS descreve o procedimento de inspeção: indica de que forma o serviço vai ser vistoriado, qual a amostra, os lotes, de que maneira vai ser liberado, quais são as etapas, o roteiro de verificação, os equipamentos de medição a serem utilizados na conferência, os desvios e as tolerâncias para o recebimento. Tudo isso, todos esses critérios devem ser baseados nas normas técnicas pertinentes, além de requisitos exigidos pelo próprio cliente aplicáveis a um serviço, que devem ser incorporados aos controles, e às boas práticas de mercado. A FVS cumpre esse papel de você planejar o que deve ser conferido em cada serviço e de qual forma. A equipe da obra, gerencial e/ou de inspeção de serviços vai utilizar para preencher, para registrar o resultado da inspeção de cada serviço. Lembrando sempre que, antigamente, usávamos formulários em papel, em meio físico. Hoje temos uma série de diversos aplicativos que nos auxiliam muito na realização dessa tarefa e, em especial, na posterior análise dos dados coletados. Como está indo o desempenho do serviço ao longo da obra? Quais são as principais falhas verificadas? Antigamente, com o papel, isso demandava muito tempo. Os aplicativos permitem hoje uma boa visão do desempenho da equipe, do subempreiteiro contratado para aquele serviço, quais são as principais falhas e aí por diante.

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AEC Responde – Há risco de, eventualmente, se as fichas não forem bem empregadas, se tornarem apenas mais uma tarefa, uma mera burocracia na obra?

Marco Guerra – Quando o uso da ficha é negligenciado, isso ocorre porque a construtora ou a equipe gerencial não enxergou os benefícios da rotina de inspecionar o serviço de forma planejada, no momento certo. Isso vai garantir tanto a qualidade quanto a terminalidade dele, ou seja, garantir que foi executado da forma correta dentro dos procedimentos estabelecidos, que não ficaram arremates para trás e que, quando outro serviço entrar na sequência, essa pendência não vai prejudicar o andamento e comprometer a qualidade final do apartamento construído, gerando riscos de falhas construtivas, vícios ocultos, patologias no pós-obra e na fase de uso e operação. Ajuda também no combate ao desperdício. Em nosso contexto de inflação setorial, que nos obriga a buscar cada vez mais redução de custos, a ficha de verificação, como um processo de conferência dos serviços, ajuda muito a reduzir perdas. Tanto aquele desperdício do resíduo que acaba indo para a caçamba quanto aquela perda incorporada, aquele consumo extra de materiais gasto para corrigir a imperfeição do serviço anterior. Uma parede que ficou fora de prumo, por exemplo, vai gerar um consumo não previsto de revestimento e tempo da mão de obra para realizar a correção. Outro problema, além dessa visão equivocada das fichas como burocracia, é quando a construtora planeja mal as FVS e os lotes de inspeção. Principalmente, quando se migra de formulários físicos para os aplicativos, deve se ter um enorme cuidado na hora de parametrizar a ficha de verificação no sistema. Ajudar a ter menos cliques, a ter uma inspeção clara para quem está realizando a tarefa. É preciso parametrizar de uma forma inteligente, para não passar a impressão de burocracia por conta de um formulário mal planejado, mal elaborado. Isso ajuda muito a reduzir o tempo gasto com a FVS. Os aplicativos nos permitem uma visão do todo, de forma rápida, por exemplo, para liberar uma medição. Podemos verificar rapidamente se aquele serviço já foi conferido e liberado, sem nenhuma pendência para trás. Isso ajuda também a gerenciar os contratos dos empreiteiros, além da questão da qualidade. É uma excelente ferramenta, principalmente quando falamos em análise de dados. O engenheiro consegue gerenciar a equipe de produção, enxergar quais são os principais problemas e atuar de forma mais rápida.

Com os dados em mãos, o engenheiro da obra consegue, periodicamente, reunir a equipe, os subempreiteiros e o mestre para discutir a causa raiz das falhas, tomar ações e evitar a repetição e a propagação desses problemas em escala
Eng. Marco Guerra, sócio-diretor da MGUERRA Engenharia e autor do livro “Sistema de Gestão Integrada em Construtoras de Edifícios

AEC Responde – ...ou seja, as fichas podem auxiliar no processo de retroalimentação da construtora, apontando a necessidade de eventuais mudanças no procedimento de execução.

Marco Guerra – Exato. O principal objetivo da análise de dados é a retroalimentação. Quando você utiliza os aplicativos, consegue ter, com poucos cliques, resultados e análises que indicam o desempenho da equipe, do serviço e as principais falhas em um determinado período. Com os dados em mãos, o engenheiro da obra consegue, periodicamente, reunir a equipe, os subempreiteiros e o mestre para discutir a causa raiz das falhas, tomar ações e evitar a repetição e a propagação desses problemas em escala. Então, um dos principais pontos, quando bem utilizado, é essa questão da retroalimentação, da melhoria contínua. E, às vezes, não é problema somente da forma de executar, mas do planejamento da inspeção, ou do material inadequado, alguma especificação de projeto ou o processo de qualificação do fornecedor. A retroalimentação não fica, portanto, restrita somente ao processo de execução da obra. Há uma grande interface com outros requisitos do sistema da qualidade.

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Colaboração técnica

 
Marco Guerra – Engenheiro civil, é diretor da MGUERRA Engenharia e auditor para as normas ISO 9001, PBQP-H, Qualihab, ISO 14.001, OHSAS 18001 e ISO 45001. Professor convidado nos cursos de mestrado profissional do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo) e de pós-graduação da Universidade Mackenzie, é autor do livro “Sistema de Gestão Integrada em Construtoras de Edifícios.”
LinkedIn: Marco Aurélio Guerra