O que faz um projetista de revestimento de fachada?
Profissional é responsável pelo projeto executivo das fachadas aderidas, que empregam argamassa, revestimento cerâmico, pastilhas ou pedras. Objetivo é garantir o desempenho e evitar o aparecimento de patologias
Projeto executivo deve garantir que fachada, estrutura, alvenaria, esquadrias, revestimento e impermeabilização funcionem de forma integrada. Especificação adequada dos materiais, inserção de reforços e posicionamento das juntas são pontos importantes (Desenhos técnicos: Inovatec Consultores – Fotos: Shutterstock – Montagem: Cozza)
Obras de recuperação de revestimentos de fachadas costumam ser onerosas e complexas. Os prejuízos gerados pelas patologias podem superar os valores gastos na execução. Além disso, esse tipo de intervenção corretiva afeta a rotina de moradores e usuários, causando incômodos e reclamações.
Por isso, para evitar problemas como destacamentos, manchas, infiltrações e fissuração dos revestimentos, principalmente em sistemas aderidos, muitas construtoras têm investido em projetos executivos de revestimento de fachada.
A execução é complexa, pois envolve preparo do substrato, traço, dosagem, cura, diversas camadas, juntas, eventuais reforços, telas etc. Isso demanda um projeto executivo bem detalhado, assim como uma boa equipe de obra e um controle de campo efetivoEng. Marco Addor
Um bom projeto deve garantir que fachada, estrutura, alvenaria, esquadrias, revestimento e impermeabilização funcionem de forma integrada. Também deve prever meios técnicos para que o revestimento não seja aplicado de forma improvisada, sem critérios de execução. O projeto será fundamental também para a especificação adequada dos materiais, previsão de reforços e posicionamento das juntas.
“A execução é complexa, pois envolve preparo do substrato, traço, dosagem, cura, diversas camadas, juntas, eventuais reforços, telas etc.”, afirma o Eng. Marco Addor, sócio-diretor da Addor & Associados, empresa especializada em soluções para projetos na área de construção. “Isso demanda um projeto executivo detalhado, assim como uma boa equipe de obra e um controle de campo efetivo”, completa.
Há raras opções de pós-graduação específica nessa área. E a maior parte dos cursos livres oferecidos no mercado costuma estar mais relacionado à tecnologia dos materiais e, em especial, às patologias. Para atuar na área, portanto, o aprendizado costuma ser na prática, dentro das empresas. Mas, afinal, o que o projetista de fachadas deve ter para se destacar no mercado?
1) CONHECIMENTO TÉCNICO E DOMÍNIO DAS NORMAS
A interação entre diferentes subsistemas da construção (estrutura, alvenaria, revestimento, impermeabilização, esquadrias etc.) obriga o projetista nessa área a ser um estudioso da tecnologia de edificações. Para isso, além da formação em arquitetura e/ou engenharia civil, deve conhecer as soluções disponíveis, as normas técnicas relacionadas e, em especial, as interfaces entre os diferentes tipos de materiais.
“A NBR 15575 deve ser a base, pois define os critérios de desempenho em relação à estanqueidade, conforto térmico e acústico”, afirma Jonas Medeiros, diretor da Inovatec Consultores Associados, especializada em projetos de revestimentos e novas tecnologias para a construção. “É preciso ficar atento também às normas dos materiais e aquelas relacionadas à execução, que devem ser conhecidas pelos construtores”, complementa.
A diversidade de opções tecnológicas abre espaço para praticarmos soluções cada vez mais sofisticadas nas fachadas, indo além dos projetos de revestimentos tradicionaisEng. Jonas Medeiros
2) EXPERIÊNCIA EM OBRAS
Mesmo estudando o assunto e dominando as normas técnicas relacionadas, a vivência em canteiros é importante para o projetista de revestimentos de fachadas. “A experiência passa por cometer alguns pequenos erros, que servirão de grande aprendizado para o profissional”, afirma Addor. Vale lembrar, por exemplo, que a execução desse tipo de serviço, devido à questão do trabalho em altura, é uma das mais complicadas para a fiscalização pelos engenheiros de obra. E por se trabalhar com produtos aderidos, de base cimentícia, qualquer descuido pode ser fatal. “Costumo dizer que massa não almoça”, diverte-se o engenheiro, referindo-se à necessidade de rigor no processo de execução, por exemplo, em relação ao tempo em aberto das argamassas.
3) ATUALIZAÇÃO CONSTANTE: TECNOLOGIAS E MATERIAIS
Ficar antenado com novas tecnologias, produtos e sistemas construtivos é essencial para o projetista nessa área. É importante lembrar que, além dos revestimentos aderidos, há muitas outras soluções técnicas, amplamente utilizadas em todo o mundo, cuja evolução tem sido constante. Fachadas ventiladas, light steel framing, structural glazing, brises de diferentes tipos e materiais (móveis, verticais, pré-fabricados, metálicos etc.), molduras, abas e jardins verticais têm conquistado cada vez mais adeptos entre arquitetos, incorporadores e construtores. “A diversidade de opções abre espaço para praticarmos soluções cada vez mais sofisticadas nas fachadas, indo além dos projetos de revestimentos tradicionais”, aponta Medeiros.
4) PERFIL MULTIDISCIPLINAR E INTERLOCUÇÃO TÉCNICA
O diretor da Inovatec revela uma particularidade interessante na contratação de novos profissionais na empresa. “Temos dado preferência para aqueles com a chamada dupla formação em arquitetura e engenharia civil.”
Desde 2004, a Escola Politécnica e a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, por exemplo, mantém um convênio de intercâmbio de alunos das duas graduações. Isso permite que, ao se formar, o estudante receba, além do diploma na área principal, um certificado complementar do outro curso.
Segundo Medeiros, a dupla formação permite conciliar o conhecimento em cálculo e tecnologias dos materiais com uma consciência estética e de volumetria. Isso ajuda na boa interlocução com o arquiteto e todas as demais disciplinas envolvidas.
As pessoas também perguntam: Como se tornar um projetista de impermeabilização?
5) ATENÇÃO AOS DETALHES
O trabalho nessa área é tão minucioso que alguns profissionais chegam a desenhar detalhes à mão, em papel milimetrado, na escala 1:1. Isso não vai impedir, depois, a entrega do projeto final em CAD ou em sistemas 3D. Trata-se, porém, de um método que revela a importância de detalhes construtivos que, muitas vezes, serão imprescindíveis para prevenir futuras patologias. O projetista deve estar preparado para tamanha precisão e complexidade.
Carreira: qual é a sua sugestão de tema para o nosso espaço dedicado aos profissionais de Engenharia Civil, Arquitetura e Construção?
Colaboração técnica
- Jonas Medeiros – Engenheiro civil pela Universidade Federal da Paraíba, mestre e doutor em engenharia de construção civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Sua tese de doutorado foi sobre projeto e execução de revestimentos de fachada. Fundou em 2000 a Inovatec Consultores Associados, especializada em projetos de revestimentos aderidos e ventilados e desenvolvedora de novas tecnologias para a construção. Coordenador e coautor do Manual de Tecnologia de Vedação e Revestimentos para Fachada de Edifícios, elaborado para o CBCA (Centro Brasileiro da Construção em Aço). Fundador e CEO da Cubicon, startup de construção modular 3D, é professor convidado do mestrado em habitação do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo).
- Marco Addor – Sócio-diretor da Addor & Associados, empresa especializada em soluções para projetos na área de construção, tais como coordenação e compatibilização, desenvolvimento de projetos de vedações (alvenaria, drywall, fachadas e forros), modelagem, gestão e implantação de projetos em BIM e análise da adequação dos projetos à Norma de Desempenho (NBR 15575). Pós-graduado pela Fundação Getúlio Vargas e Fundação Vanzolini na área de engenharia de produção, atuou também em empresas de engenharia, chegando até a gerência de empreendimentos e participando da construção de edifícios residenciais, comerciais, hoteleiros, hospitalares e shopping centers. Cofundador da ConstruLiga.