Inspeção em fachadas revestidas com placas de rochas ornamentais
Maurício Marques Resende e Luciana Alves de Oliveira, Laboratório de Componentes e Sistemas Construtivos do IPT
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Coordenação técnica: Adriana Camargo de Brito
Comitê de revisão técnica: Adriana Camargo de Brito, Cláudio Vicente Mitidieri Filho, José Maria de Camargo Barros, Luciana Oliveira e Maria Akutsu
Apoio editorial: Cozza Comunicação
30/10/2020 | 14:00 - Os revestimentos de fachadas exercem um papel de fundamental importância para a garantia da durabilidade do edifício como um todo, uma vez que têm como uma de suas principais funções a proteção das fachadas e, muitas vezes, da estrutura, contra os diversos agentes agressivos atmosféricos. Dentre os revestimentos de fachadas de edifícios, destaca-se a utilização de placas de rochas ornamentais, uma vez que possuem adequado desempenho estético-funcional e valorização imobiliária1.
Para que este tipo de revestimento possa vir a cumprir suas funções durante a vida útil prevista para um revestimento de fachada, conforme a ABNT NBR 15575-12, deve ser projetado, executado e mantido conforme as especificações da ABNT NBR 158463. De acordo com esta última norma, o projeto de um revestimento de placas de rocha deve iniciar com a seleção correta da rocha a ser utilizada, considerando as características estéticas, mineralógicas e petrográfica, as propriedades físicas e mecânicas e a resistência química relacionada aos agentes a que estará submetida ao longo da vida útil (poluição atmosférica, intempéries, substâncias químicas).
A Tabela 1 apresenta as propriedades físicas e mecânicas que devem ser determinadas por meio de ensaios para a correta especificação das rochas ornamentais para revestimento de fachada. Esta tabela também apresenta sugestões de critérios de aceitação para granitos, conforme sugerido pela norma ABNT NBR 15844 (ABNT, 2015). Além da correta especificação das placas pétreas, deve-se atentar para a correta especificação dos insertos, que devem ser concebidos para resistirem aos esforços a que estarão submetidos e permitirem a livre movimentação das placas, bem como serem constituídos por ligas metálicas com elevada resistência à corrosão.
A ABNT NBR 15846 ressalta que se deve preferir a utilização de insertos de aço inoxidável, devido às suas características superiores de resistência mecânicas e à corrosão.
Após a definição do tipo de placa de rocha, deve-se avaliar os esforços atuantes devidos ao vento, de forma a definir as dimensões das placas e a distribuição dos insertos metálicos, considerando a resistência de tais componentes. Após a determinação destes esforços e da caracterização da rocha e do chumbador, é necessário avaliar o comportamento do sistema em função destes esforços. Para isto, monta-se um protótipo do sistema de fachada em uma câmara de ensaio para avaliar a estanqueidade e a resistência às cargas de ventos, conforme metodologia de ensaio exposta na norma de esquadrias NBR 10 821-3xii (Figura 1).
Por fim, o projetista também deve especificar a periodicidade e um roteiro para a realização das inspeções ao longo da vida útil do revestimento, contemplando a verificação da adesão e coesão dos selantes, da ocorrência de fissuras, da ocorrência de corrosão dos insertos, do deslocamento de placas e da integridade do revestimento, bem como do suporte (estrutura ou parede). De acordo com a NBR 5674xiii, a cada ano deve-se verificar a integridade do revestimento de fachada e, a cada três anos, deve-se efetuar a lavagem e a verificação dos materiais e componentes, como selantes, placas e insertos e, se necessário, solicitar inspeção detalhada do revestimento. A periodicidade das inspeções, os materiais, os componentes e os elementos a serem inspecionados devem estar registrados no Manual de Uso e Manutenção, também conhecido como Manual de Áreas Comuns, entregue pela empresa construtora ou incorporadora ao final da obra.
Figura 1 – Protótipos de fachada a serem ensaiados em câmara de ensaio para avaliar a resistência às cargas de vento e estanqueidade
Segundo a ABNT NBR 16747xiv, inspeção é “um processo que visa auxiliar na gestão da edificação e, quando realizada com periodicidade regular, contribui com a mitigação de riscos técnicos e econômicos associados à perda do desempenho”. No caso dos revestimentos de fachadas, sujeitos a diversos agentes de deterioração, os resultados da inspeção determinam se estão ou não em boas condições e se necessitam apenas de manutenção regular ou se necessitam de reparos que impeçam o desenvolvimento da deterioração.
A inspeção dos revestimentos de fachadas, assim como a inspeção de qualquer outra parte do edifício, pode ser caracterizada pela fase de levantamento de informações, considerando a observação visual e detalhada e a realização de outros procedimentos. Para o início da inspeção do revestimento das fachadas dos edifícios, é necessário reunir todas as informações referentes a ele e dos demais elementos que interagem com ele. Estas informações podem ser obtidas com a análise dos projetos e detalhes construtivos (plantas, cortes e vistas, incluindo paginação das placas de rocha, indicação dos insertos, formato e ocorrência das juntas de controle e de dilatação, existência de reentrâncias e aberturas), do memorial descritivo (classificação e propriedade das placas de rocha, tipo e características dos insertos) e da anamnese do revestimento (idade, histórico de manutenção, intervenções, e modificações já realizadas).
Após a análise destas informações, são elaboradas listas de verificações, elevações das fachadas, com detalhes das regiões teoricamente com maior probabilidade de ocorrência de falhas, de forma a facilitar o registro das observações e anomalias na inspeção. Durante a vistoria, a observação visual pode ser realizada de diferentes distâncias com uma aproximação cuidadosa e sistemática, partindo de uma análise da fachada inteira e finalizando na análise de regiões ou componentes específicos do revestimento. Para isto, geralmente, utiliza-se binóculos, câmeras fotográficas ou filmadoras com recursos de aproximação (zoom), além do acesso pelas coberturas e janelas dos edifícios vizinhos.
Essa observação é capaz de identificar anomalias de maiores proporções existentes nos revestimentos (destacamentos, padrões de fluxos de água pela fachada, mudanças de cor no revestimento, localização de pontos localizados de sujidades, eflorescências, organismos biológicos, ocorrência de deslocamento das placas de rochas, ocorrência de corrosão nos insertos). Entretanto, este tipo de observação não possibilita, na maioria dos casos, a identificação do nível de desenvolvimento da anomalia, não permitindo, portanto, a realização de um diagnóstico completo e definitivo. Para isto, atualmente, as vistorias de revestimentos de fachada também estão sendo realizadas por meio da utilização de câmeras digitais e térmicas embarcadas em drones. Com a utilização desta tecnologia, pode-se mapear, em um curto intervalo de tempo e com maior grau de detalhamento e acurácia, as anomalias presentes no revestimento, principalmente, com relação à ocorrência de pontos de corrosão ou deslocamento das placas de rocha, bem como obter imagens 2D e 3D completa de toda a fachadaxv,xvi.
Por fim, após a realização da vistoria, é necessário analisar os dados obtidos e emitir um laudo técnico de inspeção, que conforme a ABNT NBR 16747 deve incluir data da inspeção, descrição completa da metodologia, descrição das anomalias e falhas de uso, operação ou manutenção e não conformidades constatadas no revestimento e na documentação analisada, inclusive nos laudos de inspeções anteriores, classificação das irregularidades constatadas (anomalias – endógena, exógena, funcional – ou falhas) e recomendações referentes à necessidade de realizar ensaios, das ações necessárias para restaurar ou preservar o desempenho do revestimento, organizando estas recomendações em patamares de urgência (prioridade 1, prioridade 2 e prioridade 3). No caso de revestimento de placas de rochas, as anomalias ou falhas identificadas nos insertos, bem como descolamentos de placas de rochas, devem ser consideradas como prioridade 1, uma vez que comprometem a segurança dos usuários do edifício e dos transeuntes, bem como a durabilidade do revestimento e do edifício.
Referências
1 MARANHÃO, F. L. Patologias em revestimentos aderentes com placas de rocha. 2002. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil). Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002.
2 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT NBR 15.575 - Parte 1 - Edificações Habitacionais — Desempenho Parte 1: Requisitos Gerais: Requisitos gerais. Rio de janeiro, 2013.
3 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - NBR 15846 - Rochas para revestimento – Projeto, execução e inspeção de revestimento de fachadas de edificações com placas fixadas por insertos metálicos, Rio de Janeiro, 2010.
4 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - NBR 15844 - Rochas para revestimento – Requisitos para granitos, Rio de Janeiro, 2015.
5 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - NBR 15845-1 - Rochas para revestimento – Parte 1: Análise Petrográfica, Rio de Janeiro, 2015.
6 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - NBR 15845-2 - Rochas para revestimento – Parte 2: Determinação da densidade aparente, da porosidade aparente e da absorção de água, Rio de Janeiro, 2015.
7 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - NBR 15845-3 - Rochas para revestimento – Parte 3: Determinação do coeficiente de dilatação térmica linear, Rio de Janeiro, 2015.
8 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - NBR 15845-5 - Rochas para revestimento – Parte 5: Determinação da resistêncoa à compressão uniaxial, Rio de Janeiro, 2015.
9 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - NBR 15845-6 - Rochas para revestimento – Parte 6: Determinação do módulo de ruptura (flexão por carregamento em três pontos), Rio de Janeiro, 2015.
10 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - NBR 15845-7 - Rochas para revestimento – Parte 7: Determinação da resistência à flexão por carregamento em quatro pontos, Rio de Janeiro, 2010.
11 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - NBR 15845-8 - Rochas para revestimento – Parte 8: , Determinação da resistência ao impacto de corpo duro, Rio de Janeiro, 2010.
12 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - NBR 10821-3 - Esquadrias para edificações – Parte 3: Esquadrias externas e internas – Métodos de ensaio , Rio de Janeiro, 2017.
13 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - NBR 5674 - Manutenção de edificações — Requisitos para o sistema de gestão de manutenção, Rio de Janeiro, 2012.
14 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - NBR 16747 - Inspeção Predial – Diretrizes, conceitos, terminologia e procedimento, Rio de Janeiro, 2020.
15 DE DIOS, J. R. M.; OLLERO, A.; FERRUZ, J. Infrared inspection of buildings using autonomous helicopters.. IFAC Proceedings Volumes, v. 39, n. 16, p. 602–607, 2006.
16 ANDRADE, R. P; RESENDE, M. M.; MARANHAO, F. L. BULZICO, B. PORTELLA, F. Estado da arte da utilização da técnica de termografia embarcada em drones para inspeção de revestimentos de fachadas. In: 2º WORKSHOP DE TECNOLOGIA DE PROCESSOS E SISTEMAS CONSTRUTIVOS, 2019, São Paulo. Anais. São Paulo: IPT. ISSN. 2527-2667.
Colaboração técnica
- Maurício Marques Resende – é professor da Universidade São Judas, pesquisador convidado do Instituto ÂNIMA/Sociesc, pesquisador do IPT/SP, avaliador técnico da CGREC/INMETRO. Engenheiro Civil pela Universidade Federal de Minas Gerais, mestre em Construção Civil pela Universidade de São Paulo e MBA em Finanças pela FGV. Tem experiência na área de desempenho de edifícios, avaliação de sistemas construtivos e coordenação de laboratórios de materiais de construção civil.
- Luciana Alves de Oliveira – é pesquisadora do Laboratório de Componentes e Sistemas Construtivos- LCSC e docente do Programa de Mestrado Profissional em Habitação, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, IPT.