Períodos de instabilidade econômica sempre trazem o impulso de poupar recursos nas empresas. Em inovação, no entanto, é sábio manter os investimentos. Pode soar como uma ação arriscada, mas os benefícios que uma nova tecnologia traz, por exemplo, com a diminuição do risco de erros, realidade que impacta positivamente na produtividade. Este investimento, no entanto, precisa ser certeiro neste momento e pode ser o diferencial para o negócio em médio e longo prazo.
No setor de construção civil, a tecnologia que tem revolucionado os projetos é o BIM - Building Information Modeling (Modelagem de Informações de Construção) -, que facilita a comunicação e o entendimento entre engenheiros e arquitetos. O conceito tem impactado positivamente no andamento de construções ao redor do mundo por possibilitar o melhor entendimento e planejamento das atividades ainda em fases anteriores à obra, evitando erros de coordenação, desperdício de material e retrabalhos desnecessários.
As primeiras pesquisas realizadas sobre esta tecnologia já mostravam que as mudanças no processo eram significativas. Em 2012, a editora norte-americana McGraw Hill publicou um estudo que mostrava a percepção dos investidores em relação ao BIM - 52% disseram que a tecnologia aumentava os lucros e 60% apontavam diminuição no prazo dos empreendimentos. Em sintonia com os dados apresentados pela McGraw Hill, foi realizado na cidade de São Paulo um estudo apontando que uma simples interferência entre uma viga e uma tubulação hidráulica, evitada graças ao potencial da plataforma, poupa cerca de R$ 3 mil em campo, levando-se em conta cálculos com base nos salários recomendados pelo CREA/CAU e as Tabelas de Composição de Preços para Orçamento.
O BIM permite a construção virtual de empreendimentos, em que todas as disciplinas de projetos podem ser modeladas tridimensionalmente, centralizando as informações em uma única fonte de dados confiável, na qual a alteração de um elemento construtivo pode-se refletir automaticamente entre as diversas pranchas de projetos.
Três linhas de atuação podem ser exploradas em ferramentas BIM: Projeto, que envolve desde a concepção e documentação até análises de engenharia e critérios de sustentabilidade; Construção, que permite a ligação entre o 3D, planejamento e gestão de custos; e Operação e Manutenção, com planejamento de manutenção preventiva, gerenciamento de espaços e ativos.
Essa ampla gama de possibilidades confere benefícios a todas as partes interessadas e envolvidas no desenvolvimento dos mais diversos tipos de empreendimentos. Os arquitetos e engenheiros visualizando em 3D têm a possibilidade de encontrar as melhores soluções, o que influencia diretamente na melhoria do projeto e construção. Os coordenadores e gerentes de projetos detectam mais interferências em projeto com menor possibilidade de erro em campo. As construtoras e incorporadoras têm mais controle do prazo de lançamento e visualização do cronograma e registro das atividades da obra. Já os investidores possuem informações mais detalhadas e de melhor qualidade para tomada de decisão de investimento.
Por conta de todos os benefícios que envolvem o BIM, alguns órgãos governamentais estão instituindo o uso da plataforma em obras públicas visando o aumento da transparência. No Reino Unido, por exemplo, foi criada uma lei em 2011 segundo a qual todos os projetos com fins governamentais, iniciados a partir de 2016, só serão aprovados se forem desenvolvidos na tecnologia BIM. De forma semelhante, no Brasil, a Comissão de Desenvolvimento Urbano (CDU) levou à discussão no dia 18 de novembro de 2015 a obrigatoriedade do uso da plataforma. O projeto apresentado inclui obras com licitação pública e com orçamento acima de R$ 7 milhões e os argumentos utilizados fazem parte das bases do BIM: eficiência, segurança, sustentabilidade e redução de custos.
O setor de Arquitetura, Engenharia e Construção tem percebido o crescimento da tendência, que tem chegado também às instituições públicas. Algumas construtoras, hoje, já adotaram 100% a utilização do BIM e a tendência é que cada vez mais companhias sigam este caminho, incluindo empresas de pequeno e médio porte. É um momento de economia desaquecida, mas que exige investimentos certeiros para a continuidade e competitividade dos negócios.