O Brasil deverá sediar a Copa do Mundo de Futebol de 2014. Única nação a disputar essa indicação pelo continente, com o apoio da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), nosso país tem a rara oportunidade de transformar o principal evento futebolístico mundial em fantástica alavanca da melhoria da infra-estrutura – esportiva, de acomodações turísticas, de transportes e até de áreas como saneamento e drenagem - de nossas metrópoles. O Brasil receberá um afluxo enorme de turistas e poderá impulsionar a imagem do país no exterior e, principalmente, provocar uma verdadeira revolução urbanística nas capitais e cidades vizinhas às regiões metropolitanas, semelhante ao que aconteceu na Espanha, por ocasião dos Jogos Olímpicos de 1992, em Barcelona.
O Sinaenco (Sindicato da Arquitetura e da Engenharia), coerente com a avaliação global das empresas e profissionais brasileiros envolvidos com projetos, gerenciamento e fiscalização de obras esportivas e de infra-estrutura, começa a preparar o segmento para o desafio que será necessário enfrentar e realizará, entre 23 e 25 de outubro próximo, em Brasília, o Encontro Nacional da Arquitetura e da Engenharia Consultiva (Enaenco). O tema principal dos debates são as necessidades da infra-estrutura – geral e esportiva – para o Brasil sediar a Copa 2014.
O desafio é gigantesco. Tomando como exemplos a Espanha 92 e a África do Sul, que sediará a Copa do Mundo de Futebol de 2010, é interessante verificar que os espanhóis começaram a planejar e a investir na realização dos Jogos Olímpicos, que, não por acaso, coincidiram com o quinto centenário do descobrimento da América por Cristóvão Colombo e a escolha de Madri como Capital Cultural Européia, com quase uma década de antecedência. E colheram os benefícios, posteriormente: a Espanha recebe hoje 40 milhões de turistas/ano e a renda per capita no país é de US$ 27 mil. A África do Sul começou a se organizar para que o país fosse escolhido como sede da Copa em 1994 e, hoje, trabalha febrilmente para organizar uma copa que ajude a transformar o país, tanto na imagem externa quanto na melhoria das condições urbanísticas das suas principais cidades.
O planejamento, com boa antecedência, é essencial ao sucesso pré, durante e pós-evento. Estima-se que, no caso brasileiro, dos estádios existentes, apenas dois deles – João Havelange, no Rio de Janeiro, e Mané Garrincha, em Brasília, teriam condições de sediar as oito chaves do campeonato mundial de futebol. Os demais precisam passar por reformas - muitas delas substanciais - necessárias para se adequar às exigências da Fifa.
Essa é apenas uma das questões mais visíveis a serem enfrentadas, mas não necessariamente a mais importante. A Fifa tem uma lista de quesitos a serem atendidos sob a rubrica acessibilidade, que inclui desde aeroportos, portos, rodovias e ferrovias, metrôs, sistemas de ônibus, estacionamento e de vias de acesso aos estádios, complexos hoteleiros com instalações esportivas (campos de futebol e de preparação física, com academias completas, piscinas com dimensões adequadas, entre outras) situadas em cidades próximas às sedes da que compõem a competição; segurança e vários outros itens que precisam ser atendidos pelo país candidato a abrigar a Copa. A definição se o Brasil será ou não a sede da Copa de 2014 acontecerá em novembro próximo, já tendo sido apresentada à Fifa a relação de 18 cidades brasileiras que se candidataram e responderam ao caderno de encargos da entidade.
Não basta, porém, apresentar as metrópoles e conquistar o direito a sediar a Copa, definição essa que envolve principalmente negociação política prévia com as principais forças que integram a direção da Fifa. O Brasil dificilmente deixará de ser o escolhido, mas precisa começar a planejar imediatamente as obras e serviços exigidos para acolher essa competição, sob pena de se repetirem, em 2014, os mesmos problemas que vimos acontecer na execução das obras necessárias aos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio de Janeiro. Ali, segundo as informações divulgadas pela mídia, percebeu-se a falta de planejamento adequado dos trabalhos e obras exigidos à competição, elevando os custos em cerca de oito vezes: dos cerca de R$ 400 milhões inicialmente estimados para mais de R$ 3 bilhões, requerendo fortes investimentos do governo federal.
As empresas brasileiras de arquitetura e engenharia de projetos detêm conhecimento, tecnologia e experiência suficientes para desenvolver os necessários projetos e gerenciar as obras exigidas, em todos os setores da infra-estrutura. Nossas construtoras possuem know-how de alto padrão, capazes de resolver as etapas de construção da infra-estrutura com qualidade de nível internacional. A técnica, portanto, não é o problema.
O essencial está no planejamento antecipado, bem-estruturado, que preveja em detalhes as obras necessárias e suas fontes de financiamento (público e privado), com orçamentos de custos bem definidos e cronograma exequível. Nas demais áreas de infra-estrutura, há necessidades de investimento, ainda a serem quantificadas, que capacitem o país a receber a principal competição mundial de futebol. O Brasil precisa começar a se preparar agora para esse desafio, ou teremos de arcar em 2014 com as conseqüências da falta de planejamento. A copa pode representar para o Brasil a chance de alcançar melhoria substancial em sua infra-estrutura urbana e geral (portos, aeroportos, energia, saneamento, transportes e logística, entre outras). Esta é a grande chance de construirmos um país diferente, que oferece qualidade de vida aos brasileiros e boa recepção aos turistas. O Brasil não pode perder mais esta oportunidade.