Em 2018, quando o metrô de São Paulo realizou uma pesquisa sobre o sistema (Caracterização Socioeconômica do Passageiro e seus Hábitos de Viagem), identificou que 57% das pessoas que utilizam o serviço são mulheres. Naquela época, a rede somava 50 anos de existência - e diversas tentativas de acompanhar o crescimento da capital paulista e sua região metropolitana. Neste mês de abril de 2024, serão 56 anos e, entre as mais de 60 estações e 6 linhas, as mulheres seguem presentes.
Aliás, estivemos presentes antes mesmo da criação dos trilhos, participando dos projetos de viabilização desse meio de transporte que hoje é tão importante. E por que trazer esse tema à tona no aniversário do metrô paulista? Porque este também é o ano em que o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea-SP) faz 90 anos e, pela primeira vez, é presidido por uma mulher. Uma mulher engenheira. E, assim como o metroviário, que vem evoluindo a cada ano oferecendo uma alternativa sustentável e eficiente para a mobilidade urbana em massa, as mulheres seguem avançando e conquistando espaços na Engenharia. Inclusive, no que se refere à gestão, construção e manutenção do metrô em si.
Como engenheira civil, não posso deixar de falar da grandiosidade que é uma obra de execução do metrô e das atividades ali que requerem a presença de um profissional responsável. Pensar, operar e manter mais de 100 quilômetros de linhas por onde passam 4 milhões de usuários são funções que carregam consigo a essência da Engenharia. A preservação do bem-estar das pessoas, a qualidade de vida, e o melhor funcionamento entre aquilo que foi projetado, no papel e em softwares, para o que está em serviço é responsabilidade compartilhada entre os engenheiros e as engenheiras. Neste sentido, a diversidade de perspectivas é fundamental e garante que as necessidades de todos sejam consideradas. Engenheiras contribuem com uma variedade de experiências e insights, compondo a criação de soluções mais inclusivas e acessíveis.
Isso em todas as fases, do projeto à entrega final, passando por estudos de viabilidade do solo, geotécnica, licenças ambientais, desapropriações, escavações, impermeabilizações até a construção, de fato, dos túneis, da malha ferroviária e de toda a comunicação, ventilação e sinalização. Esses espaços que antes cerceavam as mulheres, hoje têm elas como lideranças. Porque sabemos que Engenharia é cálculo, mas que é preciso atenção para além da técnica, uma vez que a estrutura tão complexa desse sistema impõe que a inovação e a tecnologia transcendam os seus próprios limites. E não tem profissão melhor para uma mulher, já que, socialmente, também somos provocadas a ultrapassar as fronteiras que são impostas em nossas carreiras, finanças, relacionamentos e em diversos outros aspectos da vida.
Como no passado, quando a eficácia do metrô era questionada, a das mulheres também foi. Atualmente, o transporte mostra todo o seu potencial e toma o posto de solução inteligente. As mulheres, também. Desempenhamos papéis essenciais, seja supervisionando a operação de equipamentos pesados, gerenciando equipes de trabalho, garantindo a conformidade com os padrões de segurança ou implementando tecnologias. Demonstramos habilidades técnicas excepcionais e liderança eficaz nos canteiros de obras ao agir criticamente, não apenas enriquecendo o ambiente, mas também desafiando estereótipos de gênero e promovendo a igualdade de oportunidades na indústria da construção.
Ao promover uma cultura de inclusão e igualdade de oportunidades, podemos aproveitar todo o potencial de talentos diversos para enfrentar os desafios complexos da engenharia urbana e criar sistemas de transporte público mais eficientes, acessíveis e sustentáveis para as gerações futuras. Além do mais, a presença de mulheres em serviços que foram estigmatizados como majoritariamente masculinos inspira jovens estudantes e profissionais, mostrando que a Engenharia é uma carreira viável e emocionante.