O direito à moradia digna é algo incontestável. Quando nos deparamos com os sombrios dados sobre o déficit de moradias no Brasil, nos vem à mente o quanto temos protelado a busca de soluções efetivas para o problema. Sim, “soluções”, no plural, porque não serão projetos privados ou políticas públicas isoladamente que porão fim à questão tão complexa.
Segundo um estudo encomendado pela Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) sobre as necessidades habitacionais do país, o déficit habitacional no Brasil alcançou a marca de 7,8 milhões de domicílios em 2019. Desse universo, 3,3 milhões de unidades são referentes ao peso excessivo do aluguel no orçamento familiar. Por conta da pandemia, especialistas creem que haverá, mais uma vez, um aprofundamento da crise de moradia mais adiante. Ainda de acordo com esse estudo, até 2030, serão necessárias pelo menos 11,9 milhões de residências adicionais para solucionar a demanda por moradia.
O déficit habitacional exige que tenhamos uma visão sistêmica. Não dá para ignorar que produz desdobramentos nocivos para as cidades, afetando o meio social de forma intensa: a degradação do espaço urbano, o aumento da violência e o surgimento de favelas.
Apesar da crescente demanda por moradia – ou mesmo em razão da cronicidade do problema –, o conceito que envolve o sonho da casa própria vem se transformando de forma contínua e gradual. O sonho não acabou, mas com certeza mudou, se modernizou. A pandemia, o isolamento social e, sobretudo, os avanços da tecnologia, com aparecimento de ferramentas, plataformas e aplicativos ligados à moradia, serviram de impulso ao aparecimento de novas tendências no setor residencial.
Quando analisamos os anseios dos novos consumidores, as expectativas quanto à habitação estão longe do padrão desejado. A exemplo de outras metrópoles mundiais, a preocupação com qualidade de vida virou condição indispensável, assim como sustentabilidade, segurança, acesso rápido ao trabalho, conexão, serviços e funcionalidade.
As novas gerações, em especial, não querem necessariamente comprar um imóvel, alugar e se preocupar com mudança, móveis, documentos, itbi, custos cartorários etc. Eles não priorizam o patrimônio, não querem compromissos definitivos, nada que lhes dê a sensação de engessamento. O que conta é a solução ligada a experiências. Quanto mais prática, melhor.
Sem dúvida, uma revolução que vai ditar novas regras ao mercado, mais flexíveis e transparentes, impactando, positivamente, nas necessidades e no estilo de vida da nossa sociedade.