É bastante óbvio que nossas atividades cotidianas, quaisquer que sejam, transformam o planeta. Aliás, a essência da construção civil é transformar o ambiente natural no ambiente construído que dá suporte a quase todas as atividades humanas. Todas as espécies, que por aqui já passaram, transformaram o planeta. Nosso problema é que a ciência e suas máquinas permitiram transformações em grande escala e viabilizaram um espetacular aumento de nossa população.Ironia: esta mesma ciência agora fornece sólidas evidências de que a somatória das transformações que causamos, coloca em risco nosso próprio futuro na Terra.
A mudança climática é certamente o efeito mais discutido. Até os cupins colaboram com ela. Mas, não é o único problema ambiental que nos aflige: água, poluentes orgânicos persistentes, resíduos, escassez de recursos naturais não renováveis, poluição do ar etc. Muitos desses problemas afetarão de forma crescente os negócios, inclusive da construção, e nossa vida diária. Ainda temos muitas dúvidas. Por exemplo, ainda não sabemos quais os efeitos da mudança climática em São Paulo. Mas não há tempo para ficar sentado, esperando: o problema é urgente e demanda ação imediata de todos: governos, empresas, ONGs, cidadãos.
As soluções existentes não são perfeitas; nunca existirão tecnologias com impacto zero. Portanto, em cada situação é necessário escolher o mal menor. E esta escolha não é fácil, pois via de regra, uma solução que minimiza um impacto ambiental em determinada região é menos eficiente em outra. A solução depende da agenda de desenvolvimento sustentável, dos agentes desenvolvidos e do conhecimento existente. “Não nos deixam construir ...”, reclamam construtores e até o presidente da República, não sem muitas razões e algum exagero. O fato é que não temos mais direito a inocência e não é mais justificável projetar e construir, como se preservar o ambiente fosse irrelevante.
Por outro lado, é preciso aceitar que impactos ambientais são inevitáveis e buscar a melhor alternativa socioeconômica e usar de engenharia para otimizar a alternativa selecionada. A definição da melhor alternativa não é simples, depende da “agenda de desenvolvimento sustentável”, relevante para a realidade local e aceita pela sociedade. Como cada realidade é diferente, as soluções ótimas serão diferentes: o espaço para soluções padronizadas diminui. Uma solução eco-eficiente no Canadá, dificilmente será mais adequada para São Paulo. O problema do Brasil (e da construção) é que ainda nos falta esta agenda e a definição desta é prioridade. Bem, todo esse estrago acontece apesar de mais da metade da população do planeta estar excluída da festa. Esta parcela, sem esperanças de melhora de vida já perdeu a paciência: a violência cresce nas cidades brasileiras e em todo o mundo.
O drama consiste em que o crime é a melhor opção econômica para jovens brilhantes. Portanto, a inclusão social dos pobres nos benefícios do desenvolvimento é “outro” desafio do desenvolvimento sustentável. Mas, não existem receitas-padrão para a redução da pobreza. Sabe-se, no entanto, que esta vai depender de recursos de cada um de nós e dos órgãos públicos. A existência de uma “economia informal” – perfeitamente integrada à economia formal – é um grande entrave. Da mesma forma, é um problema a “privatização informal” da administração pública, explicitada na sede por cargos. Reclamar dos políticos e do Estado, não ajuda. Se nada fazemos, não acontecerá: é hora para a ação. Em cada projeto, buscar soluções que minimizem os impactos relevantes ao ambiente, maximizem o desenvolvimento social e sejam economicamente viáveis. Mais que uma responsabilidade, é uma oportunidade para pessoas e organizações criativas.