Um vírus chegou com tudo no mundo e “chacoalhou” as estruturas das sociedades, as economias, os mercados e, principalmente, a vida das pessoas. Estamos escondidos, praticando o isolamento social, desempenhando nossas atividades na frente do computador, sem muita certeza do impacto que isso vai trazer para a forma de pensar, viver, escolher, interagir, decidir e consumir. Posso afirmar que existirá o “AC/DC” – não a conhecida banda australiana de rock and roll, nem o Antes/Depois de Cristo – mas sim o "Antes do Coronavírus/Depois do Coronavírus". Mas, por enquanto, estamos no meio, ainda tentando sobreviver aos efeitos devastadores desse enorme “tsunami”, que ainda está passando, porém, modificando cenários e nos fazendo refletir e repensar muita coisa.
O vento indomável ainda deixa tudo baseado no inesperado, mas alguns sinais já se mostram no meio disso tudo. Esse período intermediário que vivemos agora trouxe a oportunidade de experimentar um contato ainda maior com a nossa casa, descobrindo novas formas de interação com esse ambiente tão importante e que hoje nos aconchega, protege e ressignifica a nossa vida. A tecnologia, que antes distanciava, hoje aproxima.
A forma como viveremos na etapa do "Depois do Corona" terá um grande impacto em vários setores, incluindo o imobiliário. A forma de arquitetar, construir e propor o viver deve passar por uma grande renovação, assim como a forma de interagir com os entornos e as cidades. Ou seja, iremos transpor cada vez mais as barreiras da imobilidade do imóvel.
Porém, eu acredito que a atemporalidade é um aspecto que ganha valor. Eu gosto muito de um artigo do estilista Giorgio Armani, no qual ele faz uma reflexão sobre como serão os desfiles após a pandemia e qual será o sentido de investir em coleções que logo perdem o seu valor. Qual é o sentido de manter a moda tão volátil? Qual é o sentido de investir em apartamentos cada vez menores que sacrificam a qualidade do morar? O barato pode sair caro.
Algumas tendências irão se tornar em movimentos que se consolidarão cada vez mais, como o coliving e a arquitetura de hospitalidade (áreas comuns compartilhadas com estilo e funcionalidade; união de princípios como serviços, interação e a comunicação por meio da tecnologia). Isso já é realidade em alguns empreendimentos e deve se tornar ainda mais presente no período pós-pandemia.
A reflexão que o pós-Covid-19 nos deixará de lição é que a arquitetura será o principal vetor de mudança para o desenvolvimento imobiliário. Não poderemos nos ater aos modismos. Não haverá mais espaço para a criação de mercados que amanhã não terão mais a preferência das pessoas. As pessoas vão valorizar cada vez mais não somente a forma de habitar, mas de viver.