É preocupante constatar que, dentre 138 nações listadas no ranking do Fórum Econômico Mundial, o Brasil ocupa a 116ª posição em termos de qualidade da infraestrutura. A incômoda classificação é citada em novo estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que enfatiza a necessidade de ampliar os investimentos no setor como um dos principais fatores para agregar mais competitividade à economia do País.
O relatório da OCDE corrobora o que as empresas da área da infraestrutura e de toda a sua cadeia de suprimentos vêm vivenciando na prática nos últimos anos, notadamente após o agravamento da crise econômica nacional (em 2014) e a eclosão dos fatos denunciados pela Operação Lava Jato. Estes acontecimentos, como se já não bastasse a recessão, praticamente paralisaram as empreiteiras atuantes em obras de rodovias, ferrovias, aeroportos, hidrelétricas e indústria de petróleo e gás.
Também não é novidade para quem trabalha no setor a dificuldade de acesso a financiamentos e as onerosas taxas de juros, igualmente apontadas no estudo da OCDE, que defende a ampliação do mercado de crédito para infraestrutura. A ideia é de que, não sendo tão concentrada em organismos financeiros estatais, a oferta de recursos possa ser maior.
Há fatos emblemáticos do porquê estarmos perdendo terreno nesse importante setor para numerosos países, inclusive os nossos principais competidores. Em 2015, por exemplo, ao divulgar o balanço do quarto trimestre de 2014, a Petrobras anunciou a paralisação das obras das refinarias premium do Maranhão e do Ceará, por considerá-las economicamente inviáveis. Em tempo: a empresa já havia investido R$ 2,7 bilhões nos projetos.
Outro exemplo relevante: entre janeiro e outubro de 2017, as verbas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) destinadas à mobilidade foram reduzidas em 41%. O corte teve impacto em 23 estados e no Distrito Federal. Somente em São Paulo, a diminuição dos repasses foi de R$ 54,9 milhões, em prejuízo de projetos como a reforma e a modernização de estações de trem e a ampliação de corredores de ônibus.
Se em 2017 a retomada do crescimento da economia brasileira em geral já foi tímida, o fomento da infraestrutura deverá ser mais lento ainda, pois depende, substancialmente, do aporte de capital – estrangeiro e nacional. Para isso, é decisiva a credibilidade, que segue abalada no presente cenário de instabilidade política, de eleições e de algumas incertezas sobre os rumos do Brasil. Nesse contexto, não foi sem razão que os Investimentos Estrangeiros Diretos recuaram de US$ 78,2 bilhões, em 2016, para US$ 70,3 bilhões, no ano passado. A taxa de investimento total, em 2017, bateu em seu mais baixo nível desde 1996, quando o IBGE iniciou essa série histórica, caindo para 15,6% do PIB, ante 16,1%, em 2016.
A retomada da credibilidade, decisiva para que tenhamos substancial crescimento dos investimentos e consigamos vencer o desafio de modernizar e atender à demanda da infraestrutura, dependerá muito do calendário eleitoral e da conclusão a bom termo das eleições de outubro. A expectativa é de que, a partir da próxima gestão do Executivo e das novas legislaturas federais e estaduais, tenhamos mais estabilidade política, bem como governantes e parlamentares comprometidos com as prioridades nacionais.
Em assim sendo, acreditamos que, paulatinamente, os investimentos no setor sejam ampliados, viabilizando uma retomada mais dinâmica a partir de 2020, à altura do potencial do Brasil, cuja economia é muito promissora para quem trabalha em construção e infraestrutura. Somos um país novo, com muito a edificar nessas áreas, cujos empreendimentos são de grande porte e geradores de emprego, renda e desenvolvimento.