As obras, de maneira geral, passam por uma fase quase aguda de deterioração. Apesar de o concreto armado existir desde o século passado, percebemos que somente nos últimos quarenta anos começou a se dar ênfase à manutenção e durabilidade deste material, genialmente concebido para estrutura das edificações, permitindo alturas impossíveis de serem imaginadas pelos nossos avós. Os cursos técnicos para formação dos profissionais ligados à construção não cogitavam fornecer conhecimento para manutenção e/ou durabilidade do material, limitando-se apenas ao ensino de como se calculava e construía uma estrutura em concreto armado.
Alguns anos atrás, após alguns problemas com concreto comprometido, os órgãos públicos começaram a exigir manutenção e responsabilidade das obras, de modo a evitar transtornos para os usuários com acidentes ou mesmo morte. No Rio de Janeiro, o acidente fatal do desabamento de uma marquise em Copacabana fez a Prefeitura acionar proprietários e condomínios sobre a indispensável manutenção dessa laje projetada sobre a calçada ao nível do teto do pavimento térreo, que, por ser elemento de difícil acesso, era relegada, tornando possível sua insegurança por corrosão de armaduras e/ou deterioração do concreto.
As obras, como qualquer material sólido, necessitam de manutenção. O tempo maltrata e, se não houver verificação periódica em peças escondidas - como foi o caso daquela marquise -, quando vai cair, não dá aviso prévio de que chegou a hora.
Alem de marquises, todos os elementos de uma estrutura estão sujeitos às ações das intempéries, variação de temperaturas, etc., tornando possível seu estrago. Paralelamente a isto, não houve por um bom tempo cuidados especiais na execução do material concreto que permitisse maior durabilidade que pode chegar, segundo especialistas, à faixa de cem anos. O item qualidade sempre foi menosprezado na confecção do concreto armado.
Baseado nisso, surgiu a necessidade dos profissionais ligados à área emitirem relatórios sobre o estado em que se encontravam as obras comprometidas. A estes relatórios dá-se o nome de Laudo Técnico sobre Recuperação Estrutural. A finalidade destes laudos é estudar o estado a que se pode chegar uma estrutura de concreto armado, pesquisando suas causas e mostrando suas soluções de modo a garantir durabilidade ao longo de um segundo tempo, se possível, maior que o primeiro, desde sua construção até os primeiros sinais de problemas.
Somos de opinião que tais Laudos devem ser feitos por calculistas que são engenheiros civis que projetam estruturas. É um trabalho muito interessante, envolvendo vistorias ao local, registros dos pontos críticos em fotografias estudo, se possível, do projeto estrutural original com dimensões das formas e detalhamento das armações, etc.
O próprio Governo Federal percebeu há muito tempo a necessidade imperiosa de ter laudos emitidos por empresas especializadas, que normalmente não participam de execução da obra, para dar maior transparência às licitações. Antes de serem feitas obras sem laudos técnicos, as empresas participantes tomavam partidos de interpretações diferentes, fazendo com que os orçamentos apresentassem valores extremamente disparatados, chegando a números até dez vezes superiores ao de menor preço. A norma brasileira regulamenta também o assunto Laudo Técnico. Tivemos oportunidade de participar de um Laudo Técnico solicitado pela Receita Federal, onde um prédio com algum comprometimento de estrutura, mas perfeitamente recuperável, era tido como quase condenado.
Para as obras particulares, como prédios residenciais que constituem os condomínios das nossas cidades, é muito importante a execução desses laudos técnicos antes de qualquer obra, porque permite aos condôminos a idéia da extensão dos problemas de estrutura e, até mesmo, a maneira correta de encarar um reforço, além de se ter uma avaliação independente para provisão de caixa junto aos condôminos. Estas obras devem ser feitas por empresas especializadas em recuperação estrutural, pois alguns empreiteiros e construtores confundem cobrimento de concreto com emboço, executando, às vezes, um chapisco rebocado em locais com armadura já exposta.
A formação do profissional para esse tipo de trabalho se faz com uma vasta bibliografia especializada, nacional e estrangeira, alem das revistas brasileiras e do exterior que surgiram nestas ultimas décadas. Somos de opinião que o engenheiro civil que quiser iniciar-se neste ramo tem que ser profissional ligado à área, além de ter gosto pela redação e trabalhos de pesquisa.
No ramo jurídico surgem grandes oportunidades de trabalho nesta área as pendências acabam indo para a justiça. São poucos os peritos de juízo especializados no assunto, e já prevendo isto, é permitido que os laudos sejam feitos com auxiliares técnicos para melhor apreciação dos problemas específicos de estrutura. O caso mais conhecido que demandou especialistas para emissão deste tipo de laudo foi o trágico acidente do Palace II na Barra da Tijuca.
Somos de opinião que um prédio não deve cair sobre hipótese nenhuma, uma vez que sendo projetado corretamente e também executado, torna-se impossível acontecer como aquele. Querendo dizer que o risco de um prédio cair deve ser zero.