Há muito tempo os setores produtivos brasileiros lidam com uma profunda carência de mão de obra que impacta diretamente na produtividade, competitividade e, em alguns casos, na própria capacidade de entrega para os clientes. De acordo com a mais recente pesquisa da empresa de recrutamento ManpowerGroup, 61% dos empregadores no Brasil têm dificuldades para preencher posições em suas empresas.
O volume está acima da média mundial de 38%. Na verdade, o Brasil é o quarto colocado nesse ranking internacional de escassez de capacitação, ficando atrás apenas do Japão, Peru e Hong Kong.
Olhando o estudo no detalhe, é possível verificar quais são as áreas onde o déficit é maior. No topo da lista estão as profissões de ofício manual. É nessa categoria que entram, por exemplo, mecânicos e eletricistas. Pouco abaixo, na terceira e quarta colocação, estão os engenheiros e técnicos. Dentro dessas categorias fazem mais falta engenheiros civis, elétricos e mecânicos e técnicos de edificação e eletricidade.
Ou seja, o estudo comprova o que o setor de construção civil já percebe há anos: faltam profissionais em quantidade e com qualidade em áreas essenciais para qualquer empreendimento. A principal dificuldade para preencher essas vagas é a total ausência de candidatos (35%), seguida pela falta de habilidades técnicas (34%).
Algumas iniciativas surgiram para tentar solucionar esses problemas. Com o objetivo de dar escala para a educação profissional, o governo federal lançou o Pronatec. Mas o ajuste fiscal reduziu os investimentos públicos no programa. Segundo a CNI (Confederação Nacional da Indústria), 81% das empresas busca capacitar o trabalhador no próprio ambiente de trabalho. Pode ser uma alternativa, mas custa caro. E reter esses profissionais ainda é um desafio.
Por isso, algumas empresas privadas buscaram outras maneiras de fazer a sua parte. A fabricante de ferramentas profissionais IRWIN tem uma iniciativa para treinar alunos de escolas técnicas profissionalizantes. O Entre Profissionais é uma parceria com o Senai e o Instituto da Construção.
O programa vai formar, em 2016, 10 mil alunos. Isso depois de já ter formado outros 15 mil nos últimos dois anos - 7.500 em 2014 e 7.500 em 2015. Não é uma contribuição trivial. Considere que o Brasil forma apenas 40 mil engenheiros por ano e que muitos deles vão para outras áreas que não têm nenhuma relação com a construção civil.
A própria IRWIN é responsável por capacitar os professores que vão passar os conhecimentos para os alunos. Todos os anos, esses profissionais vão até a sede da empresa, em São Paulo, e recebem o mesmo treinamento que vão ministrar. Esse conhecimento entra na grade curricular das escolas técnicas como uma disciplina chamada: Ferramentas Manuais Utilizadas nos Processos de Obra.
Os professores e as escolas ainda participam de campanhas de incentivo e, a partir de métricas pré-estabelecidas, são premiados por bom desempenho.
Os alunos concluem o curso prontos para participar de projetos em diversas áreas da construção civil. Dependendo do interesse, podem se tornar eletricistas, encanadores, pedreiros, mecânicos, marceneiros ou gesseiros. Com a carência de mão de obra especializada, esses profissionais vêm sendo cada vez mais valorizados.
Provavelmente, sua formação não vai terminar aí. Mas se eles já estiverem no mercado e forem reconhecidos e valorizados, a tendência é que queiram continuar. A formação de base é essencial para definir os caminhos profissionais desses jovens talentos. O conhecimento que eles adquirirem nessa etapa vai repercutir em cada decisão tomada ao longo de suas carreiras. Se quisermos reverter esse quadro de escassez, precisamos trabalhar agora para qualificar nossa mão de obra.